ÁFRICA

Desastre em Moçambique causa aumento no preço de alimentos e risco de surto de cólera

Ciclone Idai deixou ao menos 446 mortos no país e 128 mil pessoas precisaram ser realojadas em abrigos improvisados

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Autoridades de Moçambique alertaram para iminência de surto de cólera e malária devido à concentração de água
Autoridades de Moçambique alertaram para iminência de surto de cólera e malária devido à concentração de água - Foto: Chiba Asuyoshi/AFP

Desde que o sudeste da África foi atingido pelo ciclone Idai, no dia 14 de março, as cifras da destruição não pararam de ser atualizadas. Até agora, o desastre provocou a morte de ao menos 750 pessoas em Moçambique, Malaui e Zimbábue, além de ter causado inúmeros danos à infraestrutura dos três países. 

O maior número de vítimas fatais confirmadas está em Moçambique, onde foram registradas ao menos 446 mortes.

Charles Garrete, 31 anos, morador de Chimoio, capital da província de Manica, conta que, na sua zona, o desabamento de uma casa causou a morte de três pessoas, entre elas a de “uma criança que foi atingida por blocos de uma parede que cedeu. Muitos dos meus vizinhos foram afetados tremendamente, perderam suas casas e estão vivendo em salas de aula de uma escola”. 

A província de Manica, localizada no centro de Moçambique, foi uma das mais afetadas pela passagem do ciclone. Dos 128 mil desabrigados que já foram realojados no país, 14.861 estão em Manica. “Eu me solidarizo com os meus vizinhos, que até agora clamam por ajuda. Estamos nos ajudando entre nós”, conta.

Garrete trabalha no orfanato Centro Aberto Mensageiro de Deus, que acolhe cerca de 30 crianças e atende outras 210 vindas de comunidades locais. Segundo ele, quase todas as que não vivem no orfanato “estão desalojadas e sem ajuda alimentar”. 

::: Leia Mais: Artigo | Moçambique e o preço pago pelos mais pobres pelo aquecimento global :::

Após mais de dez dias, outros rastros deixados pelo Idai começaram a aparecer em algumas cidades de Moçambique. O isolamento causado por inundações e destruição de pontes fez com que diversos locais passassem por problemas de abastecimento. Por causa disso, segundo Garrete, “revendedores locais estão especulando preços de produtos de primeira necessidade. Muitas pessoas estão sem alimentação, medicamentos e água”. 

Em Chimoio, o saco de 25 kg de arroz, que custava o equivalente a R$ 57, custa agora R$ 82; o litro de óleo, subiu de R$ 2,70 para R$ 4,26. “Quanto ao aumento dos preços, estamos aguentando assim mesmo. Não está nada fácil”, relata. 

 “O pior está por vir”

Quem conseguiu sobreviver ao ciclone terá agora que enfrentar novas consequências do desastre. Segundo o ministro da Terra e Meio Ambiente de Moçambique, Celso Correia, “é inevitável que apareçam casos de cólera e malária” no país devido à grande concentração de água. “Já temos filária, e vai haver diarreias. O trabalho está sendo feito para mitigar” os surtos, informou durante entrevista coletiva concedida nessa segunda-feira (25). 

No último sábado (24), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) já havia anunciado os primeiros casos de cólera, no entanto, a Organização das Nações Unidas (ONU) e o governo de Moçambique afirmaram que ainda não registraram ocorrências da doença, embora haja consenso de que surtos devem atingir o país. Outras doenças que podem se espalhar pelas regiões onde há concentração de água parada são zika, dengue e leptospirose.

A única estrada que ligava a cidade portuária de Beira – outro local entre os mais afetados – foi reaberta nessa segunda-feira, possibilitando o ingresso por terra de alimentos e materiais para a reconstrução das áreas atingidas. Além disso, a energia começa a ser restabelecida. 

Em reposta ao Brasil de Fato, o representante do CICV em Moçambique, Manuel Mabuiange, afirmou que embora a reabertura de estradas comece a normalizar a situação do país, “o pior está por vir”, uma vez que deve haver a incidência de “todo o tipo de doenças provocadas por águas estagnadas”. 

Também segundo ele, embora os centros de saúde não estejam superlotados, “sofreram muitos danos estruturais e estão funcionando a 40% [de sua capacidade]. Muitos funcionários estão desaparecidos ou tentam reconstruir suas casas. Por exemplo, o hospital Central de Beira está todo inundado. Um hospital que tinha capacidade para 1.200 leitos ficou reduzido a 400”.

Como ajudar

Na sexta-feira (22), o governo brasileiro anunciou que irá doar 100 mil euros a Moçambique para auxiliar os trabalhos de resgate e reconstrução de áreas afetadas pelo ciclone. Cidadãos que também queiram ajudar o país poderão enviar doações para algumas das instituições que atuam em Moçambique. Veja como:

- Criada por entidades de Moçambique, a Central de Apoio recebe doações por meio de transferência internacional e pessoalmente em alguns endereços do país. Para saber mais, clique aqui.

- Caso só possa fazer doações em reais, há a possibilidade de enviar sua ajuda para a Junta de Missões Mundiais, organização ligada à Convenção Batista Brasileira. Saiba mais aqui

- O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), estima que cerca de 1 milhão de crianças foram atingidas pela passagem do ciclone. Para ajudar alguma delas, clique aqui.

- A ActionAid atua na região ajudando a levar suprimentos para os sobreviventes do desastre. Saiba como doar clicando aqui.

- O Comitê Internacional da Cruz Vermelha não lançou uma plataforma de doações exclusivamente para o Moçambique, mas está atuando no país. Para ajudar o CICV, clique aqui.

- A organização Médicos sem Fronteiras, que presta ajuda médica às populações, também recebe doações. Para saber como ajudar, clique aqui.

Edição: Vivian Fernandes