REPARAÇÃO

México pede que Espanha e Vaticano se desculpem por violações durante colonização

Em carta ao rei Felipe VI e ao Papa Francisco, López Obrador pediu que se reconheça os crimes contra os povos indígenas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Recordando o 500º aniversário da Batalha de Centla, o presidente afirmou que "a chamada ‘conquista’ foi realizada pela espada e pela cruz"
Recordando o 500º aniversário da Batalha de Centla, o presidente afirmou que "a chamada ‘conquista’ foi realizada pela espada e pela cruz" - Foto: Rodrigo Arangua/AFP

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, anunciou nessa segunda-feira (25) que enviou cartas ao rei Felipe VI da Espanha e ao Papa Francisco exigindo que o Estado espanhol e o Vaticano peçam perdão pelos crimes cometidos contra povos indígenas do país durante a conquista espanhola das Américas. 

"Enviamos cartas ao rei Felipe VI de Espanha e ao Papa Francisco para convidá-los que juntos façamos uma revisão histórica das injustiças sofridas pelos povos originários durante a invasão espanhola e o início da época do México independente, há 200 anos. O propósito não é ressuscitar conflitos, mas irmanarmos na reconciliação histórica", publicou López Obrador em sua conta no Facebook.

Recordando o 500º aniversário da Batalha de Centla, afirmou que “a chamada ‘conquista’ foi realizada pela espada e pela cruz. [...] Vamos fazer um relato do acontecido desde o início da ocupação, da invasão militar; os três séculos de colônia”.

A batalha é considerada o primeiro ataque dos espanhóis, liderados por Hernán Cortés, contra povos originários do México. Após a vitória, a Espanha continuou a avançar no país até conquistar a capital do Império Asteca, Tenochtitlán, em 1521. Tenochtitlán localiza-se onde atualmente fica a Cidade do México.

López Obrador declarou ainda que o México deverá pedir desculpas pelos abusos cometidos contra os povos originários nos últimos 200 anos. "Em nome do Estado mexicano, nós também oferecemos desculpas pelos abusos cometidos na opressão às comunidades indígenas, aos povos originários. Pedimos perdão pelo extermínio dos povos yaquis e da população china ocorridos durante o porfiriato [os 30 anos de ditadura do general Porfirio Díaz] e a revolução".

Após a grande repercussão de tal mensagem, o presidente publicou novamente um vídeo nesta terça-feira (26) em que afirma: "Unicamente tornamos público que se tratou de um chamado à reconciliação e ao perdão em um ato simbólico que se realizará em 2021, quando se comprem os 500 anos da tomada de Tenochtitlán e os 200 anos da Independência".

Espanha rechaça pedido

O governo espanhol afirmou que rejeita “com toda firmeza” o pedido de López Obrador. Em comunicado, o país declarou que “a chegada, há 500 anos, dos espanhóis às atuais terras mexicanas não pode ser julgada à luz de considerações contemporâneas”. O país também declarou que "lamenta profundamente" que o México tenha feito esse pedido. 

Segundo o texto, “nossos irmãos sempre souberam ler nosso passado compartilhado sem raiva e com uma perspectiva construtiva, como povos livres com uma herança comum e uma projeção extraordinária”.

O líder do partido liberal Ciudadanos, Alberto Rivera, também criticou a declaração de López Obrador, afirmando que ela se trata de uma “ofensa intolerável ao povo espanhol”.

De acordo com o presidente mexicano, no entanto, o comunicado pretende servir como uma medida de “reconciliação histórica”. Para ele, a invasão não se tratou de um encontro entre culturas, mas de “atos de autoritarismo e dominação” em que “uma cultura foi imposta à outra”. 

Vaticano

O Papa Francisco ainda não se pronunciou sobre o pedido de desculpas. Mas é possível que isso ocorra, uma vez que, em 2015, o sumo pontífice pediu perdão pela colonização da Bolívia. 

Na ocasião, o papa se desculpou: “Não apenas pelas ofensas da própria Igreja Católica como também pelos crimes cometidos contra os povos originários durante a chamada conquista da América”, quando “se cometeram muitos e graves pecados contra os povos originários da América Latina em nome de Deus”.

Edição: Vivian Fernandes