EDITORIAL E CHARGE

Sem razões para festejar

Ditadura militar completa 55 anos com regresso ao poder dos militares e reformas contra os trabalhadores

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
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Charge - Santiago

Aquilo que já foi chamado “Revolução Redentora de 31 de Março” está completando 55 anos no final deste março de vergonhas, matanças e patuscadas. Grande parte da desgraça foi produzida ou inspirada por um governo que tem à testa um ex-capitão, um general como vice e mais de 100 oficiais em postos de primeiro e segundo escalão.

Durante 47 anos, a Redentora foi brindada com bravatas e fanfarras nos quartéis.  As charangas só pararam por intervenção de Dilma Rousseff em 2011. Brindar à ditadura era uma bofetada repetida nas famílias dos mortos que até hoje buscam os restos dos seus filhos assassinados na tortura para, enfim, dar-lhes sepultura. 

Agora, porém, com os ventos da violência que voltaram a soprar, a moda poderá retornar. Para prosseguir o escárnio trombeteado em ordens do dia. Pode haver vontade política para tanto, mas nem um pingo de apreço pela verdade histórica.

Quando exalou seu último suspiro, no seu 21º ano, a Redentora despediu-se sem choro nem vela. Ao irromper, prometia acabar com a corrupção. Fracassou engolfada por escândalos como os da Capemi, Coroa-Brastel, Lutfalla, Adubo Papel e tantos outros. Acabaria com a carestia. Mas assumiu o país com inflação de 48% ao ano para devolvê-lo com taxa de 235% anuais. Só foi eficiente ao investigar meio milhão de brasileiros e prender, condenar, torturar e assassinar milhares deles.

Hoje, por ironia, o velho golpe civil/militar tem como agente publicitário mais notório um ex-capitão que cogitou explodir bombas nos quartéis. Era considerado “mau militar” pelo ex-presidente Ernesto Geisel e escapou por um triz de ser expulso da corporação. Embora alinhada aos EUA, a Redentora tinha algumas fumaças nacionalistas, algum apego à soberania e um projeto de Nação. Seu herdeiro bastardo não tem nada disso. No 55º aniversário, no regresso ao poder dos militares, mais do que nunca não há razões para comemorar.


Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 12) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.

 

Edição: Marcelo Ferreira