Paraná

JORNADA DE LUTAS

Artigo | Os enormes desafios da campanha Lula Livre

Em meio à Jornada Nacional Lula Livre, de 7 a 10 de abril, é tempo de aprender com as experiências da Vigília

Brasil de Fato I Curitiba |
"Algumas experiências a partir da Vigília Lula Livre podem contribuir com os desafios gerais da esquerda"
"Algumas experiências a partir da Vigília Lula Livre podem contribuir com os desafios gerais da esquerda" - Joka Madruga

No dia 21 de março, o final da tarde na Vigília Lula Livre teve mais uma vez um momento marcante: depois de o ex-presidente Lula ter sido visitado pelo juiz Edevaldo Medeiros, ao lado de outros dez juízes que vieram a Curitiba preocupados com o futuro da democracia - depois também de um dia agitado com a prisão de Temer -, cinco viaturas da Polícia Militar comunicaram que não poderia haver o “Boa noite presidente Lula” naquele dia.

Logo ameaçaram a coordenação da Vigília de ser presa se descumprisse uma ordem que não tinha qualquer amparo legal ou determinação judicial, o que se tornava mais absurdo se pensarmos que a Vigília localiza-se em terreno particular e faz atividades das 9h às 19h.

Em seguida, o próprio major da PM desmentiu qualquer orientação neste sentido. Mas o que fica do episódio é a lição da centralidade do ataque contra Lula pelos setores conservadores e golpistas do país. Não querem permitir sequer o apoio a ele e a difusão da voz de um líder nacional e desenvolvimentista, que é um verdadeiro fantasma para um governo Bolsonaro que busca fazer do país capacho dos EUA.

Por isso, a campanha nacional e internacional Lula Livre tem enormes desafios no campo da mobilização, comunicação e organização popular. O momento é importante na medida em que o desgaste inicial do governo Bolsonaro pode abrir a memória para os êxitos e o contraponto do período de governo Lula.

Estamos a poucos dias da Jornada Nacional e Internacional Lula Livre, de 7 a 10 de abril. Nesta data completa-se um ano de uma prisão política, o que coloca na ordem do dia a necessidade de se realizar uma jornada contundente na sua denúncia. Os principais atos ocorrem, em Curitiba, no dia 7, a partir das 6h30 com uma caminhada até a Vigília, onde será feito um grande “bom dia presidente Lula” e às 10h o ato político com a presença de diversas caravanas e lideranças. Inúmeros atos estão agendados em todo o país, com destaque para São Paulo na tarde do dia 7.

Enraizamento da campanha

A partir daí, é preciso um novo patamar de mobilização e de enraizamento da campanha, de forma a realizar o diálogo com a população em cada estado do país. O desafio, como o próprio ex-presidente apontou no dia 14 de fevereiro, é explicar pacientemente as injustiças e a perseguição contidas nos processos contra ele.

Lula foi preso porque certamente venceria as eleições de 2018 e foi impedido até mesmo de realizar entrevistas com a imprensa naquele período. Sofreu uma série de arbitrariedades por parte de um Judiciário ativista, antinacional e conservador, que o tratava como preso político ou como preso comum conforme os interesses do grupo de operadores da Lava Jato.

Algumas experiências a partir da Vigília Lula Livre podem contribuir com os desafios gerais da esquerda em termos de trabalho de base, agitação e unidade. Cada cidade, bairro, local de estudo e trabalho deve ter a criatividade para inventar a sua forma de campanha Lula Livre. E sem dúvida a Vigília é o espaço permanente da resistência, que desenvolveu alguns aprendizados importantes:

1) Unidade da esquerda. O exercício da unidade da esquerda é permanente, no Paraná a Vigília Lula Livre fez as organizações que constroem a Frente Brasil Popular organizarem-se diariamente, em um exercício inédito até o momento. Porém, há ainda o desafio de envolver os setores que apoiam a justeza dessa luta, que vêm à Vigília contribuir com a causa: saber envolver a franja progressista que neste momento está preocupada com o futuro da democracia. O desafio também de transformar em participação ativa a ótima sinalização de apoio por parte de diversos setores da esquerda, caso do Psol.

2) Ato inter-religioso. Todos os domingos, às 18h, a Vigília conta com a participação de lideranças do catolicismo, evangélicos e outras religiões que desejem participar do espaço, marcado por mística, canções. Ali, a simbologia da esquerda o imaginário religioso confluem no mesmo amor pelo povo, que deve acessar direitos e não mais ser oprimido.

Essa experiência plural, democrática e tolerante em tempos de intolerância, deve ser reproduzida onde for possível e tem chance de retomar o diálogo com a população simples, reforçar os laços e a simbologia da luta por direitos.

3) Comunicação. A comunicação tem sido uma arma importante na mobilização e na manutenção da mensagem do ex-presidente para a sociedade. Mensagem que tem se caracterizado por recados importantes, todas as quintas-feiras, quando as duas figuras públicas que o visitam trazem a manifestação de Lula pela soberania, contra a entrega do patrimônio público do país, pelos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, vinculando a luta por democracia e pela liberdade com a manutenção de direitos da população. A rede de comunicação que envolve a página da Vigília Lula Livre, Instituto Lula, Brasil de Fato, TVT, Comunicações do PT, CUT, MST, MAB e diversas entidades, Mídia Ninja, Jornalistas Livres entre outros, revelam a importância de uma mídia cada vez mais colaborativa para ampliar o alcance da mensagem.

Porém, esta ainda é uma lacuna e é um desafio enorme para a esquerda entender a comunicação como estratégia e não apenas como um apêndice. É preciso retomar a experiência do programa de entrevistas e debate “Democracia em Rede” que realizou 110 entrevistas com figuras públicas, artistas, políticos nacionais e integrantes do dia a dia da Vigília Lula Livre. Essa experiência deve ser retomada, aproveitando as possibilidades de transmissão online. No entanto, é tempo de enfatizar a necessidade de investimento prioritário da esquerda em comunicação no próximo período. O fato de os quatro principais eixos da campanha nacional serem comunicação, cultura, organização e mobilização já é um importante passo.

4) Juventude urgente. É preciso ainda acessar os setores da sociedade que apoiam Lula, mas não tiveram essa opção no segundo turno das eleições, muitas vezes tendo optado pelas promessas imediatas e ilusórias do bolsonarismo; é preciso acessar a juventude, negra, periférica, que acessou a universidade e melhores condições de vida a partir de pressão e por meio das políticas realizadas desde 2002, mas não necessariamente se mobiliza pela pauta Lula Livre.

Esses parecem ser ainda não só desafios do dia a dia da Vigília Lula Livre. São, na verdade, desafios da esquerda de forma geral.

*Integrantes da coordenação e da comunicação da Vigília Lula Livre

Edição: Redação Paraná