TENSÃO

Cúcuta, na Colômbia, entra em crise com fechamento de fronteira com a Venezuela

Cidade colombiana teve queda de 60% no comércio e lojas estão fechando

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Comércio de cidade fronteiriza perdeu 60% de vendas
Comércio de cidade fronteiriza perdeu 60% de vendas - Comitê Intersindical

A agitada cidade colombiana de Cúcuta, agora está vazia. O vai e vem de venezuelanos já não é mais o mesmo e por isso os problemas econômicos e sociais se agravaram. Segundo um estudo da Federação Nacional de Comerciantes (Fenalco) o comércio de Cúcuta teve queda de 60%. Isso vem acontecendo desde o fechamento da fronteira com a Venezuela, realizada pelo governo venezuelano no dia 23 de fevereiro, quando grupos opositores, junto aos governos colombiano e estadunidense, tentaram passar, de maneira forçada, caminhões de ajuda humanitária.

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Nessa região, o que separa a Colômbia da Venezuela é apenas a ponte internacional Simón Bolívar. Do lado venezuelano, a cidade de San Antônio de Táchira recebia viajantes do país inteiro que chegam para fazer compras. “Essa é a segunda fronteira com maior movimentação comercial do mundo, depois de Tijuana, entre o México e os Estados Unidos”, aponta o representante do governo venezuelano no estado fronteiriço de Táchira, Freddy Bernal, cujo cargo público oficial é de “Protetor do Povo”.

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O presidente da Comitê Intersindical de Cúcuta, Ciro Ramirez, diz que política do presidente colombiano Ivan Duque, “prejudica a população da fronteira colombiana”, pois depende da boa relação com a Venezuela. “Nós acreditamos que os problemas dos venezuelanos devem ser resolvidos pelos próprios venezuelanos. Não é papel do governo colombiano intervir nessa situação. Os maiores prejudicados nesse caso somos nós, a população colombiana e venezuelana, que aqui na fronteira vivemos como uma só família”, destaca.

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Ele diz que eram os venezuelanos que sustentavam a economia dessa cidade colombiana. “Houve uma queda brusca na economia da cidade. Aqui os venezuelanos, que passavam a fronteira para comprar, eram quem sustentavam os supermercados, farmácias e os setores de transporte, roupas, calçados e peça de automóveis”, afirma o colombiano.

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Ramírez relata ainda que depois de um mês do fechamento da fronteira, alguns negócios estão falindo. “Já estamos vendo placas de ‘vende-se’ e de ‘liquidação para fechar’. Se o governo colombiano não entrar em um acordo com o governo da Venezuela, a situação econômica e social de Cúcuta, que já é grave, vai piorar ainda mais”, destaca Ramirez.

Do lado venezuelano, o governo intensificou a distribuição de alimentos e remédios subsidiados. Entretanto, o comércio da região é baseado na compra de produtos colombianos, já que a Venezuela é um país que importa mais de 80% de tudo o que consome, segundo dados oficiais do Banco Central venezuelano. Portanto, continuam chegando pessoas de todas as partes do país para cruzar à Colômbia. “Com o fechamento das passagens fronteiriças legais, restam os caminhos ilegais, antes utilizados apenas por contrabandistas. Agora são usados também por pessoas comuns”, relata Ramirez.

Travessia perigosa

Cerca de 40 mil pessoas cruzavam a fronteira todos os dias pela ponte internacional Simón Bolívar, de acordo com o Serviço Nacional Integrado de Administração Aduaneira e Tributaria (Seniat) da Venezuela. Atualmente, esse fluxo pode ter sido reduzido em 40%, acordo com a Fenalco. “Essas pessoas que passam pelos caminhos ilegais também ficam vulneráveis a ação de grupos criminais. Inclusive precisam pagar uma taxa para as organizações criminosas para usar essas passagens”.

Além disso, as chuvas dessa época do ano tem provocado cheia no rio Táchira, cruzamento obrigatório para quem passa por essas trilhas. Essa semana a subida da água do rio impossibilitou o trânsito dessas pessoas e uma multidão se aglomeraram na ponte Simon Bolívar para tentar passar para o lado colombiano.

Confusão na tentativa de cruzamento da fronteira de Cúcuta e Táchira; (Foto: Prefeitura de San António de Táchira)

“Cerca de 5 mil pessoas tentaram forçar a passagem pela ponte, mas o espaço para passagem é muito pequeno, devido aos contêineres que estão bloqueando a ponte, por proteção contra uma possível invasão do lado colombiano. Então algumas pessoas passaram, mas muitas tiveram que regressar”, relata o prefeito de San António de Táchira, Willian Gomes. 

Gomes informou ainda que o terminal terrestre de San António de Táchira continua recebendo um grande número de pessoas. “O que estamos fazendo é dar assistência a essas pessoas que chegam aqui para fazer suas compras e voltar”.

Enquanto isso, o prefeito de Cúcuta, César Rojas, pede uma solução política para o governo de Ivan Duque. “A saída diplomática é a ideal, mas nesse momento as portas do diálogo entre os dois governos estão fechadas”. Segundo o prefeito, a cidade precisa de ajuda urgente. “Necessitamos soluções, pois caímos em uma crise bastante grande”, disse Rojas à imprensa local na quarta-feira (3).

Cúcuta é uma das cidades mais pobres do estado colombiano de Norte Santander, com 7% de pobreza extrema e 60 mil pessoas vivendo na miséria. O desemprego chega a 17%, sendo que 70% da população economicamente ativa trabalha na informalidade, segundo a prefeitura da cidade.

Informalidade chega a 70% em Cúcuta | Foto: Comitê Intersindical

Não há prazo para a abertura da fronteira, de acordo com o governo venezuelano, que por enquanto continua fechada. No entanto, desde o início de março, foi aberto um corredor humanitário e está permitida a passagem de crianças de famílias binacionais, que vivem de um lado e estudam de outro, além de idosos, doentes, grávidas e outros casos especiais.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira