Censuras ceifaram o trabalho de um dos grandes compositores brasileiros
Mais conhecido por suas canções românticas, o cantor Taiguara foi um dos músicos mais censurados durante a ditadura civil-militar instituída no Brasil em 31 de março de 1964 e que durou 21 anos.
Filho de pai gaúcho e mãe uruguaia, Taiguara Chalar Silva nasceu em Montevidéu, no Uruguai, em 1946. Mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro, no bairro de Santa Teresa. Além de "Hoje" e "Viagem", outro grande hit emplacado pela voz do artista foi o "Universo no teu Corpo".
No início da carreira, Taiguara participou dos festivais de música, cativou o publico e ganhou fãs cantando músicas como "Helena, Helena, Helena" e "Modinha", como conta Janes Rocha, autora da biografia “Os Outubros de Taiguara”.
No entanto, o momento político brasileiro e o contexto de golpe militar acabaram influenciando a carreira do músico. Segundo a jornalista, que pesquisou a vida e obra do cantor e compositor, a primeira música dele que foi censurada pelo sistema de repressão do governo militar sequer tratava de política.
"Tinta Fresca" foi uma das músicas de Taiguara censuradas pela ditadura civil-militar. (Foto: Reprodução)
Janes explica que as músicas românticas eram da época em que Taiguara era mais conhecido. No entanto, quando o regime militar começou a perseguir artistas, ele acabou sendo obrigado a fazer autoexílio em Londres e, depois, na Tanzânia. No meio tempo, se aproximou da luta política e chegou a militar junto ao Partido Comunista.
Durante esse período, o público ficou sem saber o que aconteceu com Taiguara que, quando voltou a cantar no Brasil, em meados da década de 1980, teve dificuldade em retomar o sucesso. Em 1996, aos 50 anos de idade, ele morreu em decorrência de um câncer.
Na avaliação da biógrafa do artista, se não fosse a ditadura, ele provavelmente seria mais conhecido e lembrado atualmente. Embora ele nunca tenha sido preso e torturado -- como outros militantes de esquerda foram no período --, a carreira e a vida de Taiguara acabaram mudando. As censuras ceifaram o trabalho de um dos grandes compositores da música brasileira.
Edição: Aline Carrijo
