MEMÓRIA

Praça Vladimir Herzog recebe escultura em comemoração ao Dia do Jornalista

Peça é reprodução ampliada do Troféu Jornalístico Vladimir Herzog, criado em 1979 pelo artista Elifas Andreato

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Além da reprodução do troféu do Prêmio Vladimir Herzog, praça possui outras duas obras de Andreato
Além da reprodução do troféu do Prêmio Vladimir Herzog, praça possui outras duas obras de Andreato - Tiago Angelo

A Praça Memorial Vladimir Herzog, localizada atrás da Câmara Municipal de São Paulo (SP), recebeu neste sábado (6) a escultura “Troféu Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos”, feita pelo artista Elifas Andreato. Instalada em comemoração ao Dia do Jornalista, celebrado neste domingo (7), a peça é uma réplica em tamanho ampliado do troféu entregue anualmente, desde 1979, aos profissionais e veículos de comunicação que realizam trabalhos relevantes na defesa da democracia e dos direitos humanos. 

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Chamado pelos amigos por seu nome de batismo, Vlado, o jornalista que dá nome à praça foi assassinado em 1975 após se apresentar voluntariamente às autoridades do DOI-CODI, centro de inteligência e repressão da ditadura civil-militar (1964-1985). À época, integrantes do Exército alteraram a cena do crime e divulgaram uma fotografia para reforçar a versão de que Herzog teria cometido suicídio. Após o fim do regime, a hipótese foi descartada e o comunicador entrou para a lista oficial de mortos pela ditadura.

A inauguração reuniu representantes de partidos políticos, entidades de defesa dos jornalistas, além de colegas e familiares de Vlado, que criticaram a intensificação dos ataques contra jornalistas desde as últimas eleições presidenciais e relembraram o legado deixado por Herzog.

“Me sinto honrado por ter sido escolhido para fazer as obras. Construímos esse monumento não só em memória do Vlado, mas também de mais de mil jornalistas que ganharam o Prêmio Vladimir Herzog. Talvez o Brasil seja o primeiro a consolidar essa reafirmação de que a imprensa é fundamental e de que a democracia ainda é a grande luta a ser travada”, afirmou Andreato. 

Na praça, já estavam expostas outras duas obras produzidas pelo artista: o mosaico 25 de outubro, que contesta a versão divulgada pela ditadura de que Herzog havia se suicidado, e uma reprodução da escultura Vlado Vitorioso, criada por Andreato em 2008 a pedido das Nações Unidas para celebrar os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em dezembro, deverá ser instalada uma placa com o nome de todos os ganhadores do Prêmio Vladimir Herzog desde sua criação.

A peça instalada neste sábado foi construída a partir de recursos de uma emenda parlamentar encaminhada pela vereadora Soninha Francine (PPS). Segundo ela, “a construção dessa praça está acontecendo ao longo de várias legislaturas. A Câmara teve inúmeros presidentes diferente e de partidos diferentes. Esse é um sinal de que existem coisas fundamentais, existem princípios de base que não devem ser afetados por mudanças de governo”. 

 

Ivo Herzog, filho de Vlado, participou do evento neste sábado / Foto: Augusto Oliveira/Oboré Projetos Especiais

Eleição de Bolsonaro é motivo “para acabar com a acomodação”

Ivo Herzog, filho de Vlado, ressalta a importância de que a comemoração aconteça em um momento de intensificação dos ataques contra os jornalistas e em que o governo, liderado por Jair Bolsonaro, tenta “reescrever os livros [didáticos e de história]”. 

“O contexto atual, com o governo atual, que fala em reescrever os livros, torna literalmente vital espaços como esse, que são parte de uma luta para que não haja um revisionismo. Esse espaço, além da questão da memória, é um instrumento de defesa contra o que estão tentando nos impor”. 

Segundo ele, a eleição de Bolsonaro “é mais um motivo para a gente acabar com essa acomodação, porque nós abrimos o flanco e essa coisa aconteceu. A gente tem uma falência no processo de educação, as pessoas não sabem o que aconteceu nesse país. E essa praça, que no início do projeto do Ítalo [Cardoso (PT)] era um local de memória, hoje é mais que apenas um local de memória. É um local de resistência”. 

Para o jornalista Sergio Gomes, da Oboré Projetos Especiais, “esse território é de luta pela liberdade de expressão e, sobretudo, pelo direito à informação -- que antecede a liberdade de expressão. Mais do que nunca, é importante reunir os jornalistas”. Gomes é um dos principais articuladores por trás da criação da praça, inaugurada em 2013. 

Além da nova obra, 19 instituições que representam os direitos e interesses dos jornalistas assinaram o manifesto “Aqui, agora, em nome do futuro”. Para Marina Iemini Atoji, gerente-executiva da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), uma das instituições que assinaram o documento, é importante celebrar o Dia do Jornalista porque “muitas pessoas tentam descredibilizar o trabalho do jornalista, atacando os profissionais da imprensa. [A data] é uma forma de reiterar que não se pode aceitar esse tipo de violência”. 

Herzog nasceu em Osijek, na então Iugoslávia, em 1937, filho de um casal de judeus. Durante a Segunda Guerra Mundial, o território estava sob comando da Alemanha Nazista, e a família fugiu -- primeiro para a Itália, depois para o Brasil. Naturalizado brasileiro, ele formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo, dirigiu o departamento de telejornalismo da TV Cultura, foi professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP e militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Edição: Daniel Giovanaz