MEDIAÇÃO INTERNACIONAL

Venezuela aposta em mediação internacional "imparcial" para superar crise política

Chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, fala sobre mediação estrangeira em possível diálogo com oposição

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Ministro da Relações Exteriores da Venezuela também fez balanço sobre visitas que fez a países da África, Europa e Oriente Médio
Ministro da Relações Exteriores da Venezuela também fez balanço sobre visitas que fez a países da África, Europa e Oriente Médio - Chancelaria venezuelana

De volta de uma série de viagens diplomáticas na África, Oriente Médio e Europa, o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza concedeu uma entrevista coletiva à imprensa nesta segunda-feira (8), direcionada a meios internacionais. Na conversa, ele detalhou os motivos das visitas, falou sobre o papel que países podem ter na mediação da crise política no país e quais alianças estratégicas serão desenvolvidas no próximo período. Confira os destaques:

Diálogo com oposição na mesa

Arreaza apresentou um balanço sobre as alianças estratégicas que o país mantém com governos aliados e sócios comerciais e afirmou que durante as visitas a esses países, esteve sobre a mesa de discussão a necessidade de um diálogo com a oposição. "O que muitos dos países amigos, como Rússia, não entendem é como a oposição não quer dialogar. É difícil entender como  alguém que controla apenas um dos cinco poderes do Estado [Congresso], pode atacar [politicamente] os outros quatro poderes", disse.

Segundo o ministro, os países aliados também estão buscando que o diálogo prevaleça na Venezuela. "O que os nossos aliados estão buscando que haja diálogo [entre governo e a oposição]". Ele reforçou sua fé no papel mediador que países como o México, Uruguai e organizações, como a Caricom (Comunidade e Mercado Comum do Caribe, que reúne 15 países e 5 territórios associados), podem ter em um cenário de possível diálogo entre o governo venezuelano e a oposição.

Para o ministro, são dois os caminhos possíveis na busca do diálogo com setores opositores do país, com mediação internacional: o Mecanismo de Montevidéu e o Grupo de Contato, conformado por representantes dos governos da União Europeia. “O Grupo de Contato esteve na Venezuela duas vezes. Estive reunidos com seus integrantes e eles também tiveram encontros com chefes de poderes público, como a presidenta do Conselho Nacional Eleitoral”.

“O mecanismo de Montevidéu é uma proposta do Uruguai, México e Caricom, de abrir um diálogo. Eles dizem que sentem um muro na oposição venezuelana, que não quer dialogar. Mas seguramente existem integrantes da oposição que quer resolver os problemas entre venezuelanos”, afirmou.

Apesar do governo venezuelano estar aberto às duas propostas de mediação internacional, o ministro destaca que a proposta do Mecanismo de Montevidéu é mais adequada, “por ser imparcial”. O chanceler afirma que alguns países do Grupo de Contato tomaram parte no conflito político e estão atuando a favor da oposição, interferindo de forma ilegal em assuntos internos e reconhecendo Juan Guaidó como presidente interino.

Mas, apesar disso, o governo venezuelano está aberto para propostas que levem a um acordo de paz. “Qualquer iniciativa que busque promover o diálogo na Venezuela, que respeite a soberania e as leis venezuelana, é bem-vinda”, ressaltou.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, em seu habitual pronunciamento matutino, afirmou nesta segunda-feira (6), que está aberto a contribuir com o diálogo. “O México está com as portas abertas para que se busque uma via pacífica para a solução do conflito da Venezuela". No entanto, disse que isso só ocorrerá se “as duas partes solicitarem a mediação”. E lembrou que o país já foi palco de outros diálogos. “Aqui foi assinado o acordo de paz de El Salvador e também houve encontros para buscar saídas negociadas, não violentas, aos conflitos", disse Obrador.

Apesar de não ser ainda oficial, existe um princípio de diálogo com a oposição, segundo o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello. Na semana passada ele afirmou que “estão acontecendo conversas em separado com porta-vozes da oposição” e que entre os participantes estavam, inclusive, “integrantes do partido político Vontade Popular”, do deputado Juan Guaidó. Mas, sinalizou que eram pessoas “que não estão de acordo com a estratégia violenta” do opositor.

Diálogo com os EUA

O ministro de Relações Exteriores venezuelano, Jorge Arreaza anunciou que os Estados Unidos e a Venezuela estão negociando uma representatividade diplomática. “Estados Unidos e Venezuela romperam relações diplomáticas. Em uma situação assim os países podem nomear o que se chama em inglês de “protective power” (poder protetor), um país que proteja seus interesses, onde já não há representação diplomática. Os EUA indicaram a Suíça, mas isso ainda precisa passar pela aprovação do governo venezuelano”, explicou o ministro.

O chefe da diplomacia venezuelana criticou a postura dos EUA em relação à Venezuela. “Quem lidera a agressão contra a Venezuela não um partido político opositor e sim o próprio governo dos EUA. Donald Trump diz que sobre a mesa estão todas as opções, mas nessa mesa não está a Constituição venezuelana, não está o diálogo político. Estão apenas o que eles colocam”, criticou.

Alianças

Durante sua viagem internacional o chanceler visitou a Namíbia, África do Sul, onde se reuniu também com o presidente do Zimbábue e a vice-presidente de Angola. Esteve também na Turquia e Sérvia. Já no Oriente Médio, as visitas foram à Síria e ao Líbano. “Não fomos bater à porta desses países, porque essas portas já estão abertas faz tempo. O que fomos fazer foi fortalecer as relações diplomáticas e comerciais”, destacou Arreaza sobre o giro internacional.

O diplomata disse ainda que os acordos, alianças e discussões realizados durante sua viagem internacional mostra que a Venezuela não está sozinha no mundo. "Os Estados Unidos dizem que a Venezuela está isolada. Nada mais longe da realidade. Desde o ano 2000 o comandante Hugo Chávez foi construindo uma série de relações diplomáticas alternativas que estão dando frutos", garantiu o ministro venezuelano.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira