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Haiti à beira de um colapso humanitário

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As revoltas populares já derrubaram o primeiro ministro e colocaram na mira o atual presidente Jovenel Moises
As revoltas populares já derrubaram o primeiro ministro e colocaram na mira o atual presidente Jovenel Moises - HECTOR RETAMAL / AFP
Drama da fome e da pobreza colocam Haiti à beira de um colapso humanitário

O poder de influência dos grandes meios de comunicação empresariais fazem o mundo crer que é na Venezuela que existe o mais grave problema humanitário da região. Só não dizem que o foco é para desestabilizar a Venezuela por conta dos interesses dos Estados Unidos (EUA) no petróleo do país.

Mas não muito distante da Venezuela existe um país que sangra diariamente diante de um problema que se arrasta durante séculos. O drama da fome, da pobreza, das doenças epidêmicas, da falta de recursos energéticos, das catástrofes naturais e da imposição estadunidense nos destinos políticos fazem do Haiti um país à beira de um colapso humanitário.

Com uma população de 10 milhões de habitantes e um território pouco menor que o estado de Alagoas, o Haiti é hoje a nação mais pobre do continente americano. Cerca de 56% da população está abaixo da linha da pobreza absoluta; uma expectativa de vida de 58,1 anos; 39% de analfabetismo; 49% de crianças sem escolarização; 75% da população sem acesso à água potável.

Mas não foi sempre assim. No século XVIII, o Haiti, então chamado de Saint-Domingue, era a mais próspera colônia da França nas Américas. Em 1804, triunfou a primeira revolução de escravos da história derrotando o exército de Napoleão, se transformando na segunda república depois dos EUA e pondo fim ao regime de escravidão, quase um século antes do Brasil. O Haiti foi fundamental para o fornecimento de armas, recursos financeiros e soldados para a luta de independência da Venezuela contra a Coroa Espanhola.

As potências imperiais da época não perdoaram a ousadia revolucionária haitiana. Impuseram um cerco marítimo à ilha, isolando-a do resto do mundo. A França obrigou o Haiti a pagar uma indenização de 150 milhões de francos. Essa “dívida” equivalente a dez vezes a renda anual do Haiti, foi sendo paga a partir de empréstimos a juros exorbitantes de bancos franceses e é a base da chamada dívida da independência.

Desde então, o país jamais se recuperou. Os Estados Unidos invadiram a ilha com 20 mil marines em 1925 e lá permaneceram até 1934. Os 21 anos de ocupação estadunidense criaram um estado totalmente dependente e um Exército que obedecia às ordens que vinham diretamente do Departamento de Estado em Washington. Os EUA ainda apoiaram a ditadura de François Duvalier que durou 29 anos e deixou o país destruído.

Atualmente o Haiti arde outra vez em chamas. As revoltas populares contra a corrupção, o aumento da inflação, a fome e o desemprego já derrubaram o primeiro ministro e colocaram na mira o atual presidente Jovenel Moïse. Os movimentos sociais envolvidos nesse levante acreditam que é preciso desenvolver laços de trabalho e aproximação com outros setores da sociedade para se chegar a um projeto nacional viável, crível e mobilizador, que apresente uma alternativa real para o povo. Um projeto anti-imperialista, de liberação nacional, de afirmação da identidade caribenha e nacional contra todo tipo de dominação, exploração e manipulação.

Edição: Vivian Virissimo