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ARTIGO

O mito do amor romântico sepultando mulheres junto a seus algozes

O ato de matar a esposa e se matar em seguida não é amor, é pelo contrário, a expressão mais contumaz da posse

19.abr.2019 às 11h23
Atualizado em 01.fev.2020 às 18h48
João Pessoa - PB
Cida Alves
Na Paraíba - Duas mulheres assassinadas em dois dias seguidos por homens que se mataram em seguida ao crime

Na Paraíba - Duas mulheres assassinadas em dois dias seguidos por homens que se mataram em seguida ao crime - Divulgação

O mito do amor romântico é uma utopia coletiva estimulada há séculos. Um mecanismo que idealiza o amor incondicional, abnegado, submisso, entregue e subjugado às mulheres – um amor inventado para o universo feminino, que dissemina e as ensina a esperarem o homem e amá-lo com a mesma devoção que se ama a um deus. 
As bases desse mito vêm de muitas culturas e religiões, e encontrou seu ambiente profícuo nas correntes do Romantismo. A história de amor mais famosa do mundo, Romeu e Julieta – Shakespeare, século XVI – exacerbou um conceito de amor trágico, que prova a sua pureza através da morte.
O que poucas pessoas comentam, talvez nem se dêem conta, é de que a peça Romeu e Julieta, na verdade, fala de ódio e morte: em três dias e três noites são cortejados seis funerais de duas famílias inimigas, que se massacraram por valores tradicionais, os quais Shakespeare queria criticar. Porém o que se sublinhou da história foi o amor dos dois jovens, eternizado pela morte. 
Uma outra obra que aborda o tema é Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe – século XVIII, que provocou a maior onda de suicídios da história, ao que chamaram de efeito Werther. O personagem, jovem rapaz, se apaixona por Charlotte que já era comprometida, e ele, não sabendo lidar com a negativa, tira a própria vida – mais uma vez, eternizando a Morte como o ideal de amor.
Quando um homem mata a própria companheira, esposa, namorada e depois se mata, adquire um tipo de perdão da sociedade, porque se consagra o seu motivo maior: foi por amor. Então se compadecem e o tratam como um herói irremediavelmente inebriado pelo fogo da paixão. A ironia é que nas duas obras – Romeu e Julieta e Werther – o ser apaixonado não mata a quem ama, não machuca, não despreza a sua vida. 
Trazendo para a nossa realidade, esta semana, o título de posse sobre a mulher, adquiriu um status singular: após assassinar a esposa Dayse Alves, o marido Aderlon Bezerra, se mata no motel em que comemoravam o aniversário dela. O casal, que deixa duas filhas, foi enterrado no mesmo túmulo! Lado a lado, eternamente, ao seu algoz, enterrados juntos, sacramentaram esta união fatal. O sepultamento legitimou-o como dono da sua vida, a ponto de tirá-la, e dono, também, na sua morte. Porque Dayse não pôde se desvencilhar do seu domínio na dimensão terrena, e agora, também, não o fará no campo celeste: um enredo cruel que vilipendia a sua memória, sua história e seus restos mortais.
O ato de matar a esposa e se matar em seguida não é amor, é pelo contrário, a expressão mais contumaz da posse: é o posseiro decretando que o corpo da mulher não lhes pertence, e que o seu sentimento masculino é mais importante. O ciúme se manifesta de tal maneira que não mais importa a vida dela e nem das pessoas que ficarão para trás: os filhos do próprio casal, pais e mães, amigos e familiares que a amavam. Ela não queria morrer, mas isto ocorre porque o “seu dono” assim o quis; morreu porque ela, a si própria, não pertencia.
O mito do amor romântico cobriu toda a perversidade do assassino diante da sociedade. Se alastrou uma comoção, e até perdão, por ele ter tirado, também, a própria vida. O fato é que ele partiu, mas não a deixou na terra para viver sem ele, como a posse eterna de uma escrava. Dayse, agora morta, pelas mãos daquele com quem fez votos de felicidade, na saúde e na doença, na vida e na morte – teve esta metáfora como arremate final, o fim da sua história. 
Para uma sociedade que castiga as mulheres de tantas maneiras, nos deparamos com esta novidade: a tortura eterna, uma punição por ser mulher que, mesmo no mármore da morte, não se liberta do ódio ao qual todos teimam em confundir com amor. Para ela, não foi respeitado o seu direito à vida, sua escolha por viver – também não foi respeitada o seu direito ao descanso em paz.

O mito do amor romântico faz vítimas diariamente no Brasil. São homens que não aceitam as mulheres livres e vestem o manto cruel do ciúme, da paixão e da honra para cometerem crueldades. Precisamos desconstruir a lei da posse em nome desse mito que mata tantas mulheres, machuca e maltrata, e que encontra condescendência e perdão no imaginário popular, na utopia coletiva de um amor que se materializa no sofrimento. Precisamos acabar com a violência, o feminicídio, o estupro, a exploração e os maus tratos em nome dessa farsa. 

No dia seguinte ao assassinato e o sepultamento tirânico da Dayse, outra mulher, Tamara de Oliveira, foi assassinada seguido pelo suicídio do feminicida Marconi Alves Diniz. Mais uma mulher, uma vítima, mais um coração arrancado pela bala de ferro quente: o mito do amor romântico.

 

*Cida Alves é Artista e Jornalista 

Editado por: Heloisa De Sousa
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