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Repórter SUS | Municipalização pode prejudicar atenção diferenciada à saúde indígena

Saúde do espírito não consegue se fazer dentro de um consultório médico

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Indígenas se manifestam durante o 15º Acampamento Terra Livre, em Brasília
Indígenas se manifestam durante o 15º Acampamento Terra Livre, em Brasília - Foto: Lula Marques
Saúde do espírito não consegue se fazer dentro de um consultório médico

A municipalização da saúde da população indígena é uma das apostas do atual ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A proposta, segundo especialistas, vai contra as conquistas dos povos tradicionais. A nova medida atingiria, por exemplo, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) que presta atendimento diferenciado, respeitando a concepção de saúde dos povos originários.

Paulo Tupiniquim, coordenador geral da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, critica a nova medida do governo Bolsonaro, pois os municípios não possuem estrutura para receber os cuidados que exigem a saúde indígena.

“Quando a gente fala de saúde indígena, a gente fala tanto da nossa saúde física, da saúde da mente e da saúde do espírito, e essa saúde do espírito não consegue se fazer dentro de um consultório médico. Nós temos os nossos próprios especialistas, os pajés, os curandeiros, as rezadeiras, benzedeiras, as parteiras, que conseguem fazer essa parte. Isso, o Sistema Único de Saúde (SUS) não consegue abarcar”, explica.

Em entrevista ao Repórter SUS, Tupiniquim afirma que é preciso que a atenção à saúde seja feita de forma diferenciada, respeitando as tradições, a cultura e a religiosidade da população indígena.

Ele também afirma que um espaço importante para debater a questão é a Conferência Nacional de Saúde Indígena (CNSI), realizada a cada cinco anos. Contudo, a última edição do evento ocorreu em 2013, ainda durante o governo da ex-presidenta Dilma Rousseff.

A sexta edição da conferência deveria ter sido realizada em 2018, mas seguiu sendo adiada. A próxima conferência deve acontecer do dia 27 a 31 de maio. A realização da atividade também era uma das demandas do 15º Acampamento Terra Livre, que ocorreu de 24 a 26 de abril, em Brasília.

“Ela precisa ser realizada, nós indígenas estamos firmes, principalmente os que atuam nessa questão da saúde. Estão preparados para fazer o enfrentamento e as cobranças para conseguir realizar essa sexta Conferência Nacional de Saúde Indígena, que é de extrema importância para nós”, diz.

Confira a entrevista com o ativista Paulo Tupiniquim.

Edição: Vivian Fernandes