impunidade

Artigo | Vamos viver! Zé Maria do Tomé, vive!

Agricultor assassinado no Ceará em 2010 denunciava desmandos do agronegócio na região da Chapada do Apodi

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Zé Maria de Tomé projetava outro modelo de desenvolvimento para o campo, em comunhão com a natureza e sem uso de venenos
Zé Maria de Tomé projetava outro modelo de desenvolvimento para o campo, em comunhão com a natureza e sem uso de venenos - Agência Brasil

No dia 21 de abril de 2010, um agricultor chamado Zé Maria do Tomé foi brutalmente assassinado na Chapada do Apodi, leste do Ceará. Seu crime? Lutar por direitos! Zé Maria denunciava a contaminação da água, do solo e das vidas pelo veneno que caía do céu, despejado por empresários do agronegócio da fruticultura que tinham na pulverização aérea de agrotóxicos seu trunfo para exterminar pragas e gentes.

Zé Maria também denunciava a grilagem de terras públicas pelas empresas do agronegócio, tomadas pela ganância dos poderosos em concentrar terra, renda e poder, numa região marcada por grande vulnerabilidade social, ambiental e territorial. Esses mesmos empresários que matavam pelo veneno e que grilavam as terras, são também apontados como mandantes do assassinato de Zé Maria, ainda hoje um crime impune.

Zé Maria lutava pelo direito de existir, pelo direito à vida, pelo direito à terra.

Falava em nome dos pequenos, dos pobres, dos povos do campo e da cidade. Acreditava que o mundo poderia ser um lugar diferente, onde todos e todas fossem respeitados e tivessem seus direitos assegurados. Projetava outro modelo de desenvolvimento para o campo, onde as pessoas pudessem plantar e colher sem veneno e viver em comunhão umas com as outras e com a natureza.

Incitava o povo a se unir e enfrentar juntos o projeto de morte do agronegócio, que não respeita os sujeitos e os territórios. "Vamos levantar! Vamos nos erguer! Vamos dar as mãos ao outro! Vamos viver!”, dizia ele, cuja voz encontrou eco em todos aqueles que partilham do seu sentimento de luta por direitos.

Como forma de relembrar a luta, a memória e a voz de Zé Maria, anualmente é realizada a Semana Zé Maria do Tomé, organizada por movimentos sociais, sindicais e pastorais. Com variada programação, o ponto alto da semana é a Romaria da Chapada do Apodi, quando coletivos marcham do local do assassinato de Zé Maria até a comunidade do Tomé, concretizando a articulação da resistência e a renovação da esperança na construção de um outro modelo de vida para o campo, emanando um sentimento comum de luta, de resistência, de esperança e de irmandade que fortalece o legado deixado por Zé Maria e que deixa suas marcas mais profundas no cerne do agronegócio, reafirmando que há e sempre haverá resistência.

Enquanto houver vida, a luta de Zé Maria do Tomé não será esquecida. E o recado está dado: vamos viver! Zé Maria do Tomé, vive!

 

*Leandro Vieira Cavalcante é professor de Geografia e militante Movimento 21 de Abril.

Edição: Rodrigo Chagas