RESISTÊNCIA

Contra o desmonte da Petrobras, petroleiros podem repetir greve geral de 1995

Para representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, privatização de refinarias é preocupante

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Danilo Silva, representante dos trabalhadores no conselho, esteve em Porto Alegre conversando com petroleiros gaúchos
Danilo Silva, representante dos trabalhadores no conselho, esteve em Porto Alegre conversando com petroleiros gaúchos - Foto: Divulgação

O governo Jair Bolsonaro (PSL) está retirando do controle do Estado brasileiro um setor estratégico para o país, abrindo mão da soberania energética e de um instrumento fundamental para a mediação de conflitos e para o desenvolvimento do país. A avaliação é de Danilo Ferreira da Silva, integrante do Conselho de Administração da Petrobras, eleito pelos trabalhadores, que esteve em Porto Alegre nesta sexta-feira (3) para conversar com petroleiros gaúchos sobre a situação da empresa e, em especial, sobre a proposta de privatização da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), localizada em Canoas, e de outras sete refinarias no país.

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Danilo da Silva prevê uma forte resistência por parte da categoria contra os planos do governo Bolsonaro, que pode incluir uma greve geral nacional similar ou maior do que a que ocorreu em 1995, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O conselheiro acredita que o programa de venda de ativos da empresa não andará na velocidade que o governo deseja. “O que tivemos agora em relação às oito refinarias ainda não é um anúncio de venda, mas sim dos estudos para encaminhar esse negócio. Isso vai levar um tempo não basta a vontade de vender”, diz Danilo que estima que esse processo se estenda por cerca de um ano.

O representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras disse que o anúncio de privatização da Refap e das demais refinarias é motivo de muita preocupação. “Sob a desculpa de combater o monopólio estatal, vai se criar um monopólio privado. Quem comprar a Refap adquirirá um mercado cativo e a tendência, pela ausência de concorrência, é de aumento dos preços, retirando do Estado um instrumento de regulação muito importante como ocorreu na greve dos caminhoneiros. Se as refinarias forem compradas pela Exxon ou pela Shell, você acha que os acionistas em Londres vão se preocupar com uma greve de caminhoneiros no Brasil?” – questiona.

Com uma capacidade de produzir 220 mil barris/dia, a Refap atende hoje o mercado do Rio Grande do Sul e de parte de Santa Catarina. Na avaliação do Sindicato dos Petroleiros do RS (Sindipetro), caso a privatização da Refap se confirme, esse mercado será entregue um monopólio privado. Para o sindicato, a atual política de preços, implementada em 2016, só elevou os preços dos combustíveis, o que indica que a privatização da Refap não gerará concorrência, deixando a população a mercê das especulações em torno dos preços do petróleo e do dólar.

Os petroleiros, porém, assinala Danilo da Silva, não ficarão assistindo de braços cruzados a tentativa de Paulo Guedes realizar seu sonho, que é a privatização da Petrobras. “O governo não está falando abertamente da privatização da Petrobras porque as pesquisas apontam que a maioria da população é contra essa proposta, mas estão dando os passos nesta direção. É uma inconsequência total abrir mão do controle desse setor, o que significa abrir mão da soberania energética do país. Estão empurrando os trabalhadores para o canto da sala. Ou eles aceitam tudo isso passivamente ou reagem. Na minha opinião, vão reagir e poderemos ter uma repetição do que ocorreu em 1995, com uma greve geral nacional ainda maior. O que se avizinha é um grande movimento de resistência dos petroleiros em todo o país”.

Ainda na opinião do conselheiro, os planos do governo Bolsonaro para a venda de ativos da Petrobras e para a privatização de toda empresa representam um “estelionato eleitoral”. “Esse tema não foi pauta na eleição. Em momento algum ele foi debatido na sociedade e o candidato eleito, nos poucos debates dos quais participou, em momento algum disse que faria isso”.

Edição: Marcelo Ferreira