Pernambuco

Análise

Artigo | Ameaça de Bolsonaro à Amazônia já é uma realidade

Cerca de 12 milhões de hectares de florestas tropicais desapareceram em 2018

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Aumento da degradação ambiental faz com que florestas tropicais não consigam mais contrabalançar as emissões de carbono
Aumento da degradação ambiental faz com que florestas tropicais não consigam mais contrabalançar as emissões de carbono - Felipe Werneck/ibama

O filósofo Guy Debord tem uma expressão forte em seu livro, que fala sobre “a negação da vida que se tornou visível”. Outro filósofo francês contemporâneo nos alerta sobre as imensas transformações em curso no nosso planeta, ligadas à “velocidade de seus efeitos e à sua dimensão global”. Para Bernard Stiegler esse processo leva a uma hiperproletarização cuja tendência é ampliar as desigualdades econômicas e a um controle automático generalizado, provocando aumento da entropia. Ou saímos fora desse processo de proletarização generalizado a que o capitalismo industrial nos conduziu por 250 anos, ou vamos para o desastre.

As evidências empíricas desses processos estão, por exemplo, no crescimento dos gastos mundiais em armamentos.  Em 2018, o mundo gastou 1,8 trilhão de dólares em defesa, o maior valor destinado a esta questão desde o fim da Guerra Fria, segundo informe anual publicado pelo SIPRI, Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo.  O relatório apontou que os gastos dos EUA e de seus aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) representam mais da metade do valor total mundial. Washington é o primeiro da lista que investe mais em recursos militares.

A grande crise contemporânea está em diversos setores: incremento da militarização; crise econômica; aquecimento global; aumento das desigualdades; falência das democracias; insegurança alimentar; desemprego. Mas o objetivo deste artigo está em um componente da crise, que é o desmatamento global, com fortes evidências para o caso brasileiro, com destaque para a região Amazônica.

Desmatamento

Um levantamento realizado Global Forest Watch, de 2018, mostra um complexo retrato do desmatamento em áreas densas de florestas tropicais -- na Amazônia, na América do Sul, África e Indonésia. A maior preocupação apontada pelo relatório diz respeito à destruição continuada das florestas primárias, ou áreas com as árvores mais antigas e que não são fruto de replantio.

Cerca de 12 milhões de hectares de florestas tropicais desapareceram em 2018, o equivalente a 30 campos de futebol por minuto. Só no Brasil foram desmatados 1,3 milhões de hectares de florestas – é o país que mais perdeu árvores no ano passado.

O aumento da degradação ambiental faz com que florestas tropicais não consigam mais contrabalançar as emissões de carbono. Apesar de armazenarem grandes quantidades de carbono, as perdas têm sido maiores do que os ganhos. Elas emitem 861 milhões de toneladas de carbono e absorvem 436 milhões, o que representa cerca de 425 milhões de toneladas líquidas de carbono na atmosfera.

No Brasil, uma estimativa produzida pelo Programa Monitoramento de Áreas Protegidas do ISA apontou que o desmatamento nas Terras Indígenas (TIs) da Amazônia brasileira cresceu 32% na comparação entre agosto de 2016 e julho de 2017. A situação é mais crítica no centro e sudoeste do Pará,  resultado da invasão de madeireiros, grileiros e da falta de fiscalização. 

O presidente Bolsonaro, no mês de abril, disse que pretende explorar os recursos naturais da Amazônia com os Estados Unidos. Na entrevista se mostrou contra à demarcação de terras indígenas: “quero explorar a região Amazônica em parceria com os EUA”.  A grave notícia é reforçada pelo senador Flávio Bolsonaro, que lançou projeto de lei para acabar com reservas de áreas nativas em propriedades rurais.

Os cientistas mundiais não param de nos alertar que hoje, 15 bilhões de árvores por ano são destruídas, enquanto o aparecimento de novas árvores e o reflorestamento é de somente 5 bilhões de unidades. O Planeta perde 10 bilhões de árvores por ano e pode eliminar todo o estoque de 3 trilhões de árvores em 300 anos.

*Marcos Costa Lima é professor do Departamento de Ciência Política da UFPE e pesquisador do Instituto de Estudos da Ásia (IEASIA).

Edição: Monyse Ravena