Minas Gerais

Crime da Vale

Lama na saúde dos atingidos do Rio Paraopeba

Vítimas de Córrego do Feijão já apresentam feridas na pele

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Moradores de Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Betim, Juatuba e Igarapé acreditam que água esteja contaminada
Moradores de Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Betim, Juatuba e Igarapé acreditam que água esteja contaminada - Foto: Ísis Medeiros/Jornalistas Livres

O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, no dia 25 de janeiro de 2019, lançou no Rio Paraopeba 12 milhões de toneladas de rejeitos de minério de ferro. Desde então, a população que utiliza as águas do rio para todas as necessidades e mora no entorno da área atingida, tem apresentado feridas na pele, diarreia e vômitos frequentes.

Os moradores das cidades de Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Betim, Juatuba e Igarapé, relatam que a água que chega às comunidades é de qualidade ruim e acreditam que esteja contaminada com o rejeito da barragem Mina Córrego do Feijão, que pertence a mineradora Vale.

“Essas doenças e feridas que aparecem nas crianças, tenho a impressão que seja a água e a poeira do rejeito, que o vento traz para nossas casas. Nós que estamos próximos ao rio não tínhamos histórico dessas doenças”, relata Vera Lúcia, moradora do residencial Fhemig, em São Joaquim de Bicas.  

Com pouco mais de três meses da chegada da lama nas comunidades, o rápido surgimento de relatos de problemas de saúde, como feridas e manchas na pele, problemas respiratórios, além do aumento no uso de medicamentos para depressão e ansiedade, acendem o alerta sobre a saúde dos atingidos da bacia do Paraopeba.

Mesmo cenário pós rompimento em Mariana

O cenário que pode ser visto no Paraopeba é o mesmo encontrado no Rio Doce, atingido pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana. Os reflexos do rejeito de Fundão na saúde dos atingidos em toda a Bacia do Rio Doce são inúmeros casos de doenças e contaminações confirmadas por metais pesados, como arsênio, níquel e cádmio, mesmo após três anos do crime. Para a médica Aline Bentes, que integra a Rede de Médicos e Médicas Populares, as lesões que começam a aparecer na população da bacia do rio Paraopeba são semelhantes às das comunidades do rio Doce.

“Na bacia do Doce também tiveram pessoas com lesões de pele pouco depois do crime ambiental. É possível que depois da experiência que tivemos na Bacia do Doce, apenas treinamos o olhar para identificar de forma mais precoce situações de saúde relacionadas ao impacto ambiental”, alerta Aline Bentes.

Mineradoras ignoram direito a saúde dos atingidos

Há mais de três anos, os atingidos apontam que o problema da saúde dos atingidos da Bacia do Rio Doce tem sido ignorado pela Fundação Renova, empresa responsável pela reparação das comunidades, após o rompimento em Mariana. A Renova é controlada pelas mineradoras Samarco, Vale e BHPBilliton.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que acompanha a luta pela garantia dos direitos dos atingidos, denuncia que o descaso das mineradoras com a saúde da população é intencional.

“A garantia de direitos não está no orçamento da Vale, não gera lucro. A empresa sabe que a pauta da saúde abre um grande leque de problemas que ela quer ignorar por estarem interligados a tantos outros - água, segurança, alimentação, moradia, trabalho, e muitos mais. A mineradora se respalda na falta de informação do povo que ela mesma reforça, na fragilidade do Estado em atuar nessa questão, e na impunidade que segue acontecendo”, denuncia Camilla Brito, da coordenação estadual do MAB.

A Fundação Renova informou que está permanentemente em contato com o poder público para fortalecer os serviços públicos de saúde a fim de oferecer suporte aos atingidos. A entidade acrescentou que apoia a gestão pública dos municípios com ações que visam fortalecer as estruturas municipais existentes, tanto no atendimento à saúde física e mental  quanto na proteção social. Mariana e Barra Longa, primeiras cidades atingidas pelo rompimento de Fundão, contam com mais de 60 profissionais de saúde contratados pela Fundação Renova para reforço nos serviços municipais de saúde e garantir atendimento aos atingidos.

Documentário

No final de fevereiro, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) lançou o filme “Renova, o crime é periódico”, denunciando a contaminação dos moradores de Barra Longa, cidade atingida pelo crime no Rio Doce, por diversos metais pesados presentes nos rejeitos da mineração. A produção mostra os mesmos sintomas ao longo de toda a Bacia. Clique aqui para assistir. 

Edição: Elis Almeida