LUTA PELA TERRA

Artigo | Santa Elmira da Esperança

Passados 30 anos do massacre, hoje assentados de Hulha negra (RS) celebram conquista da terra e da dignidade

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Contrastes de Santa Elmira da Esperança
Contrastes de Santa Elmira da Esperança - Fotos: Reprodução

Há um assentamento de Reforma Agrária que se chama “Santa Elmira”. Está localizado em Hulha Negra, no sul do Rio Grande do Sul.

Houve um massacre de camponeses do Movimento dos Sem Terra num latifúndio improdutivo que atendia pelo nome de Fazenda Santa Elmira, no município de Salto do Jacuí, na região Centro Norte do Rio Grande do Sul.

Este massacre aconteceu em 11 de março de 1989. Nos tempos finais da ditadura militar, luta contra o latifúndio crescendo, Reforma Agrária  na pauta nacional, acampamentos em luta permanente pela terra.

A Brigada Militar Gaúcha era controlada e comandada pela União Democrática Ruralista, braço armado do latifúndio. Eram um estado dentro do Estado e o fraco governo de Pedro Simon do PMDB, que à época, representava esperança, omitiu-se e foi conivente com o massacre. Tempos também de ódio aos que lutavam por justiça.

Uma verdadeira praça de guerra, tiros, pancadaria, aviões soltando bombas. Mães deitadas sobre os filhos para protegê-los. Mais de 1.200 pessoas arrancadas com violência de dentro do latifúndio. Sem negociação, sem mediação. Diziam que era preciso quebrar a espinha do MST.

Centenas de feridos, 17 hospitalizados, 23 presos. Parecia o fim.

Em 14 de maio de 1989, um grupo lá massacrado, conquistava terra em Bagé, hoje Hulha Negra, resultado daquela luta. Neste domingo, 12 de maio, o Assentamento fez a Festa dos 30 anos da Conquista. Celebração, muita emoção, recordação, reafirmação da disposição de continuar lutando.

O Assentamento tem escola, é uma comunidade forte e unida, tem campo de futebol e área de lazer, muita produção de leite, sementes de hortaliças, milho, mandioca, soja, ovelhas, gado, produção de subsistência.  Cinquenta e três famílias vivendo com dignidade onde um latifúndio improdutivo nada contribuía com nada.

Muitos jovens e muita esperança. Quatro crianças batizadas. Futuro em construção. Nestes tempos de ódio e retrocessos, buscar na história as forças para retomar as lutas. A Santa Elmira massacrada deu lugar ao Assentamento Santa Elmira da dignidade e da esperança.

* Frei Sérgio Görgen é frade Franciscano, Militante do MPA e autor do livro “Trincheiras da Resistência Camponesa”

Edição: Marcelo Ferreira