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Cultura

Centro de Referência da Juventude é uma conquista para a cidade de Belo Horizonte

Espaço é totalmente aberto, gratuito e acolhe artistas, coletivos e entidades que lutam pelos direitos dos jovens

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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CRJ possui orçamento municipal e sua gestão é realizada em diálogo com a sociedade civil
CRJ possui orçamento municipal e sua gestão é realizada em diálogo com a sociedade civil - Foto: Divulgação

Entrar no prédio do Centro de Referência da Juventude (CRJ), no Centro de Belo Horizonte, é deparar, imediatamente, com incontáveis atividades acontecendo ao mesmo tempo. Dança, música, poesia, circo, ensaios de espetáculos, capoeira, ioga, rodas de conversa e até educação de jovens e adultos, são alguns exemplos do que acontece nas diversas salas, aquários, arena e auditório do CRJ. Sem contar as exposições de grafite e fotografia nos halls e corredores que tornam o local extremamente agradável.  E tudo de graça.

“O espaço é literalmente uma mãe, um braço aberto para quem quer ter acesso a cultura. E o simples fato de entrar qualquer pessoa que queira fazer sua arte, já é algo incrível. Qualquer pessoa é bem-vinda. A única restrição é ter respeito, com os mano, com as mana, as mona, as trans”, conta Anderson Martins Ferreira, que faz parte do coletivo Vertentes Urbanas. Anderson, conhecido como Magu, é MC e ministra aulas abertas de hip hop no CRJ.

O artista circense e diretor de teatro Valber Palmeira é professor do curso de formação em circo, cujas aulas acontecem todas as noites no CRJ. O curso, realizado em parceria com a Fundação Municipal de Cultura, é gratuito, tem a durabilidade de três anos e é destinado ao público amplo, sem restrição de idade. Na arena do CRJ são ofertadas aulas de acrobacia aérea, acrobacia de solo, equilibrismo, malabares e palhaçaria.

Para Valber, o CRJ se tornou o lugar mais importante para cultura de BH, pela localização, por ser gratuito e por convergir artistas de diversas áreas e grupos. Hoje o CRJ é o espaço de maior importância para grupos pequenos que não têm o seu espaço próprio, que é a maioria dos grupos, ainda mais neste contexto com os cortes enormes que tivemos na área de cultura”, comenta.

Para conseguir a reserva de uma sala no CRJ, basta solicitar através de um formulário online que você encontra aqui. No entanto, como o centro é aberto e amplo, qualquer canto pode ser utilizado. Jeiza Fernandes, que é artista circense e performer, realiza todos os seus ensaios no CRJ. Ela se prepara para apresentar a performance “Eu” no Fórum Permanente das Artes Negras: Aquilombô - Um Arquipélago, que acontece entre os dias 8 e 19 de maio, no Teatro Francisco Nunes, em Belo Horizonte.

“Uso o CRJ para ensaiar, tem muito espaço aqui dentro. E é um espaço acolhedor. Não tem outro lugar como esse, que abra tantas possibilidades de fazer eventos, treinos, ensaios e trocar arte”, afirma.

Pioneirismo

A iniciativa do CRJ é considerada pelos usuários e gestores como inovadora e foi inaugurada em 2016, a partir de uma ocupação protagonizada por coletivos de juventude e de artistas. Na época, o prédio estava fechado havia dois anos, mesmo tendo sua construção concluída pelo governo do estado em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte.

Samira Ávila, gerente executiva do CRJ, explica que o centro é uma demanda antiga da juventude de Belo Horizonte e da Região Metropolitana, aparecendo oficialmente em uma conferência da juventude em 2006. Para ela, o CRJ é uma conquista para a cidade, sobretudo para os coletivos engajados nas lutas pelos direitos da juventude. “Hoje temos uma ocupação altíssima da sociedade civil aqui [no CRJ], sendo que a maioria das pessoas que ocupam são jovens, negros, periféricos. E a gente sabe que muitos equipamentos públicos, principalmente no Centro da cidade, não são ocupados por esse perfil, mas pela elite”, analisa.

O CRJ, de acordo com Samira, também é visto com um promotor de políticas e ações que consideram a realidade e as demandas específicas da juventude. Por exemplo, a PeriFeira, realizada em parceria com jovens empreendedores das periferias da capital, que promove uma feira para promover a geração de renda e autonomia financeira. São ofertados diversos produtos ao público, desde artesanatos, roupas e acessórios, produtos alimentícios, cosméticos naturais e verduras hidropônicas.

Gestão coletiva

O CRJ possui orçamento municipal e sua gestão é realizada em diálogo constante com a sociedade civil, através de um Comitê Gestor, instância consultiva e paritária, formada por representantes do poder público – prefeitura e governo do estado –, representantes dos conselhos de juventude, tanto o estadual quanto o municipal, e entidades que fazem trabalho em prol da juventude.

Essas entidades, que não precisam ter CNPJ, se inscrevem e participam de um processo eleitoral em que outros coletivos e entidades de juventude se inscrevem para votar. O mandato dura dois anos e o Comitê Gestor do CRJ tem a função de monitorar, acompanhar e propor políticas públicas.

Serviço

O CRJ fica localizado na Praça da Estação, na Rua Guaicurus, 50, no Centro de BH. Mais informações, acesse: facebook.com/crjbh.

Edição: Elis Almeida