Protestos

Artigo | Enquanto o presidente bufa, as ruas deixam seu recado!

O protagonismo do 15 de maio foi dos jovens, sobretudo estudantes, muitos ainda secundaristas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Estudantes em Porto Velho (RO) em protesto contra cortes nas universidades; atos ocorreram em mais de 200 cidades do país
Estudantes em Porto Velho (RO) em protesto contra cortes nas universidades; atos ocorreram em mais de 200 cidades do país - Luciana Oliveira

Bolsonaro preocupou-se tanto com a “doutrinação” dentro das escolas que acabou contribuindo para que se efetivasse no 15 de maio de 2019 uma das maiores aulas públicas sobre política que já se presenciou nesse país. Tanto atacou a educação por todos os lados, pressionou instituições e ofendeu professores e alunos que conseguiu mexer com um grupo que não tem receio em colocar-se em marcha para reescrever a história.

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O protagonismo do 15 de maio foi dos jovens, sobretudo estudantes, muitos destes ainda secundaristas. O presidente-bufão, como de costume, abriu seu destilador de asneiras e incendiou os ânimos já exaltados dessa parcela da população que deu o pontapé inicial a um processo de contestação que deve forçar o Governo Federal a rever seus rumos ou redundar na derrocada pela via popular de seus agentes já massivamente questionados.

Ao contrário das palavras excretadas pelo bufo, os jovens que foram às ruas não tem nada de massa de manobra, não são “idiotas-úteis”. Trata-se de uma geração que se levanta sob a égide da indignação, com uma pauta de luta concreta que dialoga com a defesa do seu direito de estudar, de crescer, de se desenvolver e, claro, de se manifestar. As pessoas que foram às ruas em defesa da educação e em uníssono gritaram contra Bolsonaro e seus comparsas fizeram calar a voz dos que tradicionalmente urram ódio, intolerância e discriminação.

Foi lindo ver na cidade de Bagé (RS) – onde eu estava – os latifundiários e seus capangas (neoconservadores que anseiam pela volta do chicote), passando quietinhos, de cabeça baixa, ao longe dos estudantes que de rosto pintado e cartazes à mão colocavam o nome do bufo, de seus ministros e turba de asseclas que os seguem no lugar de onde nunca deveriam ter saído: o lixo da história.

O momento é grave, todos sabemos. Os desmandos de governantes imbecis e equipes de gestão inaptas estão colocando a economia do país em ruínas, depredando o patrimônio brasileiro, desconstituindo nossa soberania. Mas o 15 de maio foi um dia de alento. Foi um dia em que se viu que a geração que está chegando vai sim corrigir os erros que a nossa geração cometeu – entre os quais a eleição do bufo – e fundar um movimento renovado de contestação e construção, de luta social e reedificação do Brasil enquanto nação.

Os estudantes mostram a cara. Foi só o começo. Muito mais há de vir em seguida. A nós cabe aprender com eles, assim como estão fazendo seus próprios professores. Não temos o direito – partidos, movimentos, personalidades - de nos apropriarmos de seu levante. Ao contrário, devemos estar prontos a caminhar lado a lado e apoiá-los sempre que os neoconservadores fascistas moverem suas peças para deslegitimar ou atacar suas mobilizações.

Hoje, sábias palavras foram aquelas proferidas pelo velho grito de guerra dos movimentos estudantis de antigamente: “Pisa ligeiro, pisa ligeiro... quem não pode com a formiga, não cutuca o formigueiro”.

Sigamos adiante. O que está por vir, não tarda.

*Jornalista, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

Edição: Aline Carrijo