Justiça

Estudante bolsonarista que ameaçou matar negros é oficialmente expulso do Mackenzie

Depois de reviravoltas jurídicas, Pedro Baleotti, ex-aluno do curso de Direito, foi afastado da universidade

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Pedro Baleotti gravou e divulgou vídeo de cunho racista
Pedro Baleotti gravou e divulgou vídeo de cunho racista - Reprodução

O Coletivo Negro Afromack divulgou nesta sexta-feira (24) uma nota, em sua página no Facebook, para registrar a expulsão de Pedro Baleotti, estudante de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em Londrina.

Em 30 de outubro de 2018, Baleotti, vestido com uma camiseta com a imagem de Jair Bolsonaro, gravou vídeo, no qual dizia que estava indo votar armado e pretendia matar negros e quem encontrasse com camisa vermelha. O vídeo racista viralizou na internet e Baleotti perdeu o emprego. 

“Indo votar… armado com faca, pistola, o diabo, louco pra ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo. Essa negraiada vai morrer! Vai morrer!”, disse.

A reação foi imediata. Alunos do Mackenzie promoveram vários atos contra o colega que acabou, inicialmente, suspenso.

No início de janeiro, depois de muita pressão, a universidade acabou expulsando Baleotti. No entanto, no final de janeiro, o então estudante obteve liminar da juíza federal Sílvia Figueiredo Marques, da 26ª Vara Cível, que obrigou o “imediato restabelecimento do vínculo” com a instituição.

No entanto, desta vez, Baleotti está oficialmente expulso.

Veja abaixo a nota do Afromack:

“É com um profundo sentimento de alívio que o Coletivo Negro Afromack informa que Pedro Baleotti, estudante do curso de DIREITO da Universidade Presbiteriana Mackenzie, está oficialmente expulso da instituição. O ex-aluno ameaçou de forma clara e direta a vida de toda a 'negraiada' (sic), enquanto portava uma arma de fogo; e desta forma além de cometer mais de um crime previsto em lei, também feriu o regimento interno da instituição.

Após mais de seis meses de luta, buscando todas as soluções possíveis, muitas vezes até perdendo noites de sono e prejudicando nossa saúde psicológica devido ao medo de retaliações, finalmente podemos ver o direito à vida ser colocado como uma prioridade, de acordo com o que assegura a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Todos nós temos o direito de ir e vir sem temer perder a vida apenas pela cor de pele. De fato, todas as vidas importam, mas não é sempre que as vidas negras são tratadas com a mesma importância das outras, e não descansaremos até que esses momentos de exceção sejam regra.

Tendo dito isto, é necessário pontuar que o referido resultado não foi atingido com apenas uma manifestação isolada que ganhou visibilidade midiática. Foram inúmeras as reuniões, as manifestações de indignação por parte do coletivo e de toda a comunidade mackenzista, além de todo um acompanhamento dos trâmites jurídicos necessários para garantir que a justiça fosse feita. Assim como em outras ocasiões, o Afromack contou com o apoio da reitoria e de outras entidades estudantis, mas no fim das contas devemos gratidão em primeiro lugar aos nossos membros, mais de uma centena de pessoas que, além de compartilhar a cor da pele e a ancestralidade, tem em comum o desejo por uma sociedade mais justa e igualitária. Não somos um, dois ou três, somos muitos, e seremos cada vez mais.

Para nós, esses seis últimos meses foram povoados de medo, receio e angústia. Por inúmeras vezes tivemos de socorrer uns aos outros em meio às crises de ansiedade que uma ameaça de morte com arma de fogo causaria a qualquer um. Muitos de nós tiveram que acalmar suas mães e avós, que com o coração apertado os viam sair de casa com destino a um lugar que não era mais seguro. Se hoje podemos respirar um pouco mais aliviados foi graças a união dos nossos, e ao apoio de todos aqueles que se sensibilizaram com nossa luta e apoiaram aquilo que é correto.

Agradecemos à Reitoria da UPM pelo posicionamento firme no cumprimento dos regimentos internos e dos princípios que os norteiam. Agradecemos a Faculdade de Direito do Mackenzie por todo suporte e preocupação com a qualidade e a índole dos profissionais que estão formando. Agradecemos a todas as entidades estudantis que nos apoiaram, em especial a EDUCAFRO, que nos ajudou a nortear os nossos esforços; e por último, mas não menos importante, ao advogado Flávio Campos, um grande jurista da área criminal, mas antes de tudo um homem preto, que soube colocar em termos jurídicos todo o nosso anseio por justiça e liberdade.

O Afromack não é um grupo extremista, revolucionário ou sectário. O Afromack é antes de tudo a união de pessoas que, apesar de todas as diferenças que possuem entre si, compartilham o mesmo ideal de igualdade e justiça, e mesmo aqueles que não foram tão ativos nesse processo são igualmente importantes. Nós somos nossas próprias referências, nós somos espelho e ponto de apoio uns dos outros, e o coletivo existe porque cada um de nós faz parte dele.

Nós por Nós!

Coletivo Negro Afromack”

Edição: Revista Fórum