Eleições

Partidos tradicionais perdem força no Parlamento Europeu; extrema direita cresce

Votação, considerada a segunda maior do mundo, ocorreu entre quinta-feira (23) e domingo (26)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Eleitores foram às urnas para escolher os 751 deputados que irão compor o Parlamento Europeu
Eleitores foram às urnas para escolher os 751 deputados que irão compor o Parlamento Europeu - Emmanuel Dunand/AFP

Cerca de 200 milhões de eleitores dos 28 países-membro da União Europeia (UE) foram às urnas entre a quinta-feira (23) e este domingo (26) para escolher os 751 deputados que irão compor o Parlamento Europeu. 

Os resultados parciais, obtidos até às 14:07 (horário de Brasília) desta segunda-feira (27) apontam um encolhimento dos blocos de centro-direita e centro-esquerda. A extrema direita e o bloco ambientalista cresceram.

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Grupo com a maior representatividade no Parlamento desde 1999, o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, conquistou 180 cadeiras, 36 a menos do que na legislatura passada. O bloco social-democrata, de centro esquerda, caiu de 185 para 146 assentos. 

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Embora as siglas permaneçam sendo as duas principais forças, os centristas perderam a maioria absoluta pela primeira vez desde 1979. Juntos, eles possuem 326 votos, 49 a menos que os 375 necessários para ter mais de 50% da casa. Desse modo, os blocos terão que fazer alianças com partidos menores.

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Os liberais foram de 69 para 109 cadeiras. Já os ambientalistas conquistaram 17 assentos a mais que na última legislatura, ficando com 69 representantes. O aumento dos votos nos candidatos dos partidos Verdes foi expressivo, refletindo o crescimento da preocupação dos europeus com assuntos ligados ao meio ambiente. 

Um dos possíveis candidatos a presidente da Comissão Europeia, Manfred Weber, do PPE, afirmou que pretende buscar novas alianças para formar uma coalizão maior no Parlamento Europeu e deu a entender que tentará juntar forças com os liberais para conseguir a maioria absoluta.

“Estamos diante de um encolhimento do centro [...] mas não vejo uma maioria contra os liberais, socialistas ou o PPE. Apelaria para unirmos forças”, afirmou. 

Já Frans Timmermans, de centro-esquerda, disse que os principais blocos não querem somar forças com extrema direita e extrema esquerda. “Pretendo trabalhar com partidos que sabem que precisamos tomar decisões ousadas sobre a crise climática e sobre a necessidade de taxar empresas que não pagam impostos”, afirmou.

Avanço da extrema direita

Um dos fenômenos observados no pleito foi o avanço da extrema direita, tendência que já vinha ganhando força em toda a Europa nos últimos anos. Os representantes da ultradireita devem se organizar nas siglas supranacionais "Europa das Nações e Liberdades" -- composto, entre outros, pela Liga do Norte, da Itália, e pelo francês Reunião Nacional -- e "Europa da Liberdade e Democracia Direta" -- à qual pertence o Partido do Brexit, do nacionalista Nigel Farage. 

Os eurocêntricos, que passam por seu melhor momento desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, foram os mais votados na França, Itália, Reino Unido, Hungria e Polônia.

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No Reino Unido, como já era esperado, o Partido do Brexit conquistou a maior parte do eleitorado. O grupo ganhou força com impulso de Farage. Autêntico ultranacionalista eurocêntrico, o deputado do Parlamento Europeu comandou, nas eleições europeias de 2014, a vitória do Partido Pela Independência do Reino Unido (UKIP). 

:: O que você precisa saber sobre o crescimento da extrema direita europeia ::

O Partido do Brexit obteve 31,69% dos votos (29 cadeiras). Na sequência vieram as siglas Liberal-Democrata, com 18.53%, Partido Trabalhista, com 14,08%, e Partido Verde, com 11,10%. O Partido Conservador, da primeira-ministra demissionária, Theresa May, foi o quinto mais votado, conquistando apenas 8.68% (4 assentos), o que representa uma derrota histórica.

O Reino Unido, que inicialmente deveria ter deixado de fazer parte da UE em 29 de março, teve que se organizar às pressas para fazer parte do pleito. Analistas afirmam que a derrocada das siglas tradicionais britânicos (Partidos Conservador e Trabalhista) é uma resposta ao esgotamento gerado pelo Brexit, processo de divórcio entre o Reino Unido e a UE.

 

Partidos de centro ficaram em primeiro lugar, mas encolheram com relação ao último pleito/ Fonte: European Parliament

Na França, o Reunião Nacional, liderado por Marine le Pen, venceu as eleições por uma margem estreita com relação ao segundo colocado. O partido de extrema direita obteve 23,11% dos votos, contra 22,41% do República em Marcha, do mandatário francês, Emmanuel Macron.

Na Itália, a Liga do Norte, de Matteo Salvini, foi o partido mais votado, obtendo 34,33% dos votos, quase 11 a mais que o Partido Democrata, de centro-esquerda, que conquistou 22,69%. A Força Itália, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, teve apenas 8,8% dos votos. 

Já na Hungria, o Fidesz, do primeiro-ministro ultranacionalista, Viktor Orban, obteve o resultado mais expressivo. O partido conquistou 52,33% dos votos. O segundo colocado foi a Coalizão Democrática, com 16,19%. 

Na Polônia, o Direito e Justiça (PiS) obteve 45,38% dos votos. Em segundo lugar ficou a Coalizão Europeia, com 38,47%. 

Embora a extrema direita tenha avançado, os números permanecem parecidos quando comparados aos de 2014: o grupo tem cerca de um quarto do total de assentos.

Eleições Europeias

Formado por 751 cadeiras, o Parlamento Europeu é o órgão de representação popular da União Europeia. A casa não tem poder para redigir leis, mas pode referendar ou não as leis propostas pelos membros da Comissão Europeia, órgão formado por 28 representantes escolhidos pelos governos dos países-membro.

Durante as eleições, que ocorrem a cada 5 anos, os candidatos fazem campanha pelos partidos nacionais. No entanto, uma vez eleitos, passam a representar os eleitores por meio de siglas supranacionais, formadas por partidos de diferentes países.

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Ou seja, embora Nigel Farage tenha feito campanha pelo Partido do Brexit, uma vez eleito, ele irá atuar associado a um bloco maior, o Europa da Liberdade e Democracia Direta, coligação de partidos com orientação política em comum. 

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A participação dos eleitores de todo o continente no pleito foi de quase 51%, a mais alta nos últimos anos. A eleição é considerada a segunda maior do mundo, ficando atrás apenas das que ocorrem na Índia.

Edição: Aline Carrijo