Minas Gerais

Ameaça à educação

Com maior número de federais do país, universidades têm papel decisivo em Minas

Saúde, produção agrícola e até mesmo orçamento dos municípios vão ser diretamente atingidos com cortes nas universidades

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Laboratório da Universidade Federal de Minas Gerais
Laboratório da Universidade Federal de Minas Gerais - Foto: UFMG

Minas Gerais sedia quase 20% das universidades federais de todo o país. Pelo estado estão espalhadas 11 instituições e também o Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET. Além das universidades nosso estado também conta com 25 Institutos Federais de Ensino, que ofertam cursos tecnológicos, de graduação e pós-graduação.

Os destaques não são apenas quantitativos. Por aqui sediamos também instituições de excelência que têm papel central na pesquisa científica e no desenvolvimento tecnológico no país. Para se ter uma ideia, a Universidade Federal de Minas Gerais é a primeira em inovação e depósito de patentes no país. O instituto também está entre os 10 melhores da América Latina. No ranking nacional, a UFMG é a primeira do Brasil entre as melhores universidades federais. Além da excelência as instituições também desempenham um papel fundamental para o cotidiano das cidades mineiras.

Universidade: educação em prol da sociedade

Com a pluralidade de instituições vem a capilaridade das pesquisas. Por estarem em diversas regiões do estado, as instituições utilizam projetos de pesquisa e extensão como ferramentas para desenvolver questões específicas de seus territórios, como por exemplo, solucionar problemas para a seca, ou aproveitar condições climáticas de uma determinada região para desenvolver tecnologias. É o que afirma o professor Luciano Mendes, pesquisador da educação e coordenador do Projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil, na UFMG. “A produção científica nessas instituições dialoga com a realidade das cidades. Nós temos pesquisas em saúde, sobre o cerrado, melhoramento agrícola, etc. As universidades mineiras estão muito próximas da sociedade. É essa capilaridade da rede que permite que a universidade dialogue e contribua com a solução dos problemas sociais”, destaca.

Um desses braços diretos de apoio à sociedade são os hospitais universitários, que desempenham um papel fundamental no atendimento à saúde nos municípios. Em Belo Horizonte, o Hospital das Clínicas, por exemplo, oferta serviços de pronto-socorro, maternidade, ambulatório e consultas, todos os serviços são gratuitos, ofertados via SUS. “O fato de criar uma universidade em uma cidade dinamiza economia, serviços, etc. Por isso quando você fala em cortar recursos e diminuir as universidades, isso tem impacto muito grande na vida das pessoas e da sociedade”, pontua o pesquisador.

Economia que já anda mal, também sai perdendo

Além das pesquisas desenvolvidas para atender as deficiências do estado, o grande contingente de universidades também impacta diretamente na economia mineira. Para se ter uma ideia, somente o aporte do orçamento da Universidade Federal de Minas Gerais, incluindo a folha de pagamento dos servidores, é maior do que o orçamento geral de muitos municípios mineiros. Além disso, a instituição emprega cerca de 4 mil trabalhadores terceirizados, que agora estão com seus empregos ameaçados por causa do corte nos recursos da instituição.

A situação não é restrita à capital, para se ter uma ideia, somente a receita da Universidade Federal de Lavras, durante o período de 2006 a 2016,  foi de R$ 2,7 bilhões. No mesmo período toda a receita do município, que tem aproximadamente 100 mil habitantes, foi de R$ 2,1 bilhões. Na avaliação do Pró- Reitor de Pesquisa da UFLA, Teodorico de Castro, a queda na arrecadação da instituição será catastrófica para a economia da cidade. “Esse corte vai impactar de maneira significativa as cidades que sediam essas instituições. Os recursos investidos nas universidades são injetados direta e indiretamente nos municípios”, alerta.

Sucateamento é o primeiro passo para privatização

Mesmo com as enormes mobilizações que vem acontecendo no Brasil contra o desmantelamento da educação pública no estado, o governo federal continua sinalizando para o desmonte do setor. No último dia 22 o ministro da Educação, Abraham Weintraub, defendeu que universidades cobrem por cursos de pós-graduação. Hoje, mestrados e doutorados, são ofertados de forma gratuita em todas as instituições públicas. Na avaliação do pesquisador Luciano Mendes, a fala do ministro explicita um claro alinhamento do governo ao mercado e ao interesse dos empresários “O governo precisa privatizar a educação no Brasil para pagar o apoio dado durante a campanha eleitoral. Como não há argumentos minimamente convincentes, se criam fatos, produzem mentiras para justificar a privatização da educação pública no Brasil, falando que as universidades são balbúrdia, que não são produtivas. Tudo isso é uma construção discursiva. E a mesma estratégia está sendo utilizada com a Previdência Social”, denuncia.

Para tentar reverter o quadro de retrocessos no setor, professores, estudantes, servidores e defensores da educação se mobilizam contra os cortes e ataques do governo federal.

Ato

Em Belo Horizonte, os manifestantes se reúnem às 17 horas na Praça Afonso Arinos, no centro da capital. Por todo estado diversos atos também estão sendo organizados.

Edição: Elis Almeida