Mobilização

Festival Lula Livre leva 80 mil pessoas à Praça da República, em São Paulo

Evento em defesa da liberdade do ex-presidente contou com a presença de dezenas de artistas de diferentes estilos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Dezenas de milhares de pessoas participaram da terceira edição do Festival Lula Livre, em defesa da liberdade do ex-presidente
Dezenas de milhares de pessoas participaram da terceira edição do Festival Lula Livre, em defesa da liberdade do ex-presidente - Ricardo Stuckert

A chuva não intimidou os paulistanos neste domingo (2). Cerca de 80 mil pessoas, segunda a organização, passaram pela terceira edição do Festival Lula Livre, que contou com a apresentação de dezenas de artistas de diversos estilos. Palavras de ordem pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estiveram presentes do começo ao fim do festival. 

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"Esse é um momento histórico. A prisão do Lula nada mais é do que privar a nossa liberdade de expressão. Todo mundo sabe que o Lula tem muita gente ao lado dele e, a partir do momento que encarceram ele, eles também encarceram a nossa voz, alguém que fala por nós e nos ajuda a chegar mais longe", afirmou Mel Duarte, poetisa e integrante do grupo Slam das Minas.

::: Confira a cobertura da terceira edição do Festival Lula Livre :::

Mais de 80 mil pessoas passaram pela terceira edição do Festival Lula Livre, na praça da República em São Paulo (SP). Foto: Ricardo Stuckert

Além de condenar a prisão política do ex-presidente, várias artistas destacaram o legado de algumas de suas políticas de combate à desigualdade e valorização da cultura, por exemplo. Cantoras e compositoras, Bia Ferreira e Doralyce, cantaram a música "Cota não é esmola", de autoria de Ferreira, uma música em defesa da ação afirmativa de cotas para o ensino superior. 

"O sentimento de estar aqui hoje é de agradecimento, porque se a gente faz o que a gente faz hoje, é porque a gente teve oportunidade de ter acesso à informação. E esse acesso só veio depois do governo Lula, e é preciso falar disso. Muitas pessoas pretas tiveram acesso à educação, à cultura, à saúde. E a gente não pode esquecer, não pode deixar morrer, tudo que esse homem fez pelo povo preto, pela tentativa de ter uma igualdade racial no Brasil", expressou Bia Ferreira. 

Apresentação do Bloco Ilu Oba de Min | Foto: Ricardo Stuckert

A multidão que se concentrou na praça não se importou com a forte chuva que caiu durante todo o dia. A organização do evento celebrou a diversidade vista entre os manifestantes. Para Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula, "um festival como este, com a presença de muitos artistas, muitos músicos, discutindo o que significa a prisão injusta de um inocente como Lula é uma coisa extraordinária, porque gente consegue de uma outra forma, chamar a atenção de outras pessoas sobre os problemas que o nosso país enfrenta. Um país que enfrenta ataques aos direitos civis, à educação, à saúde".  

Durante o festival, o público se manifestou em diversos momentos pedindo por justiça a Lula. A assistente social Ruani Gonçalves, que saiu de Limeira, interior de São Paulo, para acompanhar o ato, alertou para a falta de provas para a condenação de Lula. 

"Nós já temos uma série de comprovações de que nenhuma das provas consegue realmente dizer pra gente que o Lula cometeu de alguma forma algum crime. E se não há provas, não há porque ele estar preso", expressou. 

José Paes de Lira Filho, mais conhecido como Lirinha, foi um dos vários artistas presentes representando o Nordeste. "Estou hoje em uma praça pública da maior cidade do nosso país, engrossando o coro da população por Lula Livre. Essa prisão simboliza todas as injustiças que fazem parte da história da nossa querida nação". 

O cantor e compositor pernambucano Otto, destacou a singularidade do ex-presidente: "O único líder no mundo capaz de reunir uma massa destas é Lula, e é pelo que ele fez por esse país. Devolvam Lula ao povo! Não façam isso com uma pessoa de 74 anos, que trabalhou, que amou e que foi honesto com este país".

Apresentação do Slam das Minas e Drik Barbosa. Várias artistas homenagearam a militante e vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, durante o festival. 

O ex-presidente enviou uma carta para o festival, que foi lida pelo seu neto Tiago. "Agradeço de coração a cada uma e a cada um de vocês, artistas e público, que nesse 2 de junho fazem da praça da República a Praça da Democracia. Embora tenha o nome de “Festival Lula Livre”, sei que esse é muito mais que um ato de solidariedade a um preso político. O que vocês exigem é muito mais que a liberdade do Lula. É a liberdade de um povo que não aceita mais ser prisioneiro do ódio, da ganância e do obscurantismo", afirmou o ex-presidente no texto (confira a (íntegra abaixo). 

Confira os artistas que passaram pela terceira edição do Festival Lula Livre: Emicida, Rael, Criolo, Baiana System, Aíla, Dead Fish, Chico César, Filipe Catto, Mombojó, Odair José, Otto, Thaíde, Junu, Everson Pessoa, Unidos do Swing, Francisco El Hombre, Arnaldo Antunes, Slam das Minas, Bia Ferreira, Doralyce Soledad, Lirinha, Ilú Oba de Min, André Frateschi e banda, Márcia Castro, Zeca Baleiro, Isaar, Junio Barreto, Fernanda Takai, MC Poneis, Tulipa, Chico Chico e Duda Brack, Mistura Popular, Triz, Anelis Assumpção e Drik Barbosa.

*Com reportagem de Igor Carvalho.

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Carta do ex-presidente Lula aos participantes do Festival Lula Livre:

“Agradeço de coração a cada uma e a cada um de vocês, artistas e público, que nesse 2 de junho fazem da praça da República a Praça da Democracia. Embora tenha o nome de “Festival Lula Livre”, sei que esse é muito mais que um ato de solidariedade a um preso político. O que vocês exigem é muito mais que a liberdade do Lula. É a liberdade de um povo que não aceita mais ser prisioneiro do ódio, da ganância e do obscurantismo.

Esse ato é na verdade um grito de liberdade que estava preso em nossas gargantas. Mais que um grito, um canto de liberdade. O canto dos trabalhadores que não aceitam mais o desemprego e a perda de seus direitos. O cantos dos estudantes, que não aceitam nenhum retrocesso na educação. O canto das mulheres, que não aceitam abrir mão de nenhuma conquista histórica. O canto da juventude, que não aceita que lhe roubem os sonhos, e da juventude negra em particular, que não aceita mais ser exterminada. O canto dos que ousam sonhar, e transformam sonhos em realidade.

Boa parte de vocês que aí estão, artistas e público, felizmente não viveram os horrores da ditadura civil e militar instalada em 1964, essa que alguns querem implantar de novo no Brasil. Foi um tempo em que a luta contra a censura podia ser traduzida em canções que diziam assim: “Você corta um verso, eu escrevo outro”.

Foi com muita luta que conseguimos acabar com a censura neste país. E não vamos aceitar essa outra forma de censura, que é a tentativa de acabar com as fontes de financiamento da arte e da cultura. Que não vamos aceitar a tentativa de censurar o pensamento crítico, estrangulando as universidades.

Se eles arrancam nossas faixas, nós escrevemos e botamos outras no lugar. E vamos continuar ocupando as ruas em defesa da educação, da saúde, públicas e de qualidade; das oportunidades para todas e todos; contra todas as formas de desigualdade e de retrocesso.

Nossos adversários querem mais armas e menos livros, menos música, menos dança, menos teatro e menos cinema. E nós insistimos em ler, escrever, cantar e dançar, insistimos em ir ao teatro e fazer cinema.

Nada mais perigoso para nossos adversários que um povo que canta e é feliz. Que faz da arte e da cultura instrumentos de resistência. Vamos então à luta, sem medo de sermos felizes, com a certeza que o amor sempre vence.

Um abraço, com muita saudade e a vontade imensa de estar aí,

Lula”

Edição: Mauro Ramos