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Pessoas transplantadas voltam à internação por escassez de remédios gratuitos

Dos 219 medicamentos fornecidos gratuitamente, 71 estão em falta. Pacientes internam-se para não perder órgão

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
"No caso do [transplante de] rim, o paciente perde o enxerto e volta para a máquina [hemodiálise]", diz nefrologista
"No caso do [transplante de] rim, o paciente perde o enxerto e volta para a máquina [hemodiálise]", diz nefrologista - Agência Brasil

A crise de medicamentos atinge milhões de pessoas no Brasil. Em Minas Gerais, o déficit federal se soma ao déficit estadual e resulta em um fornecimento instável há pelo menos 10 meses, segundo relato de usuários. Dos 219 medicamentos fornecidos gratuitamente, 71 estão em falta, informa a Secretaria Estadual de Saúde. 57 são de responsabilidade do Estado e 14 de responsabilidade do Ministério da Saúde.

Um dos grupos mais vulneráveis é o de pessoas que receberam órgão transplantado. Todos os pacientes de transplante necessitam tomar medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição do órgão recebido, já que o sistema imunológico pode rejeitar e ataca-lo. Esses remédios são ingeridos dias antes da cirurgia e depois, por toda a vida do transplantado.

Maurício Vitor, que recebeu um transplante de rim há cinco anos, conta que o preço dos remédios varia de R$ 90 a R$ R$ 2.500, fazendo com que o coquetel de até sete medicamentos saia em média R$ 3 mil por mês. “Com o tempo essa dosagem vai caindo, conforme o paciente se adapta. Quando esses remédios se tornam fixos, eles ficam entre R$ 500 e R$ 1 mil”, afirma.

O paciente, que é representante dos usuários no Conselho Estadual e Municipal de Saúde, denuncia que muitos dos remédios gratuitos para os transplantados estão em falta, o que os leva a uma situação grave. “Os medicamentos imunossupressores estão em muita escassez, e isso já tem quase 10 meses. Uns chegam, outros não. Isso está levando pacientes transplantados a se internarem. Alguns podem morrer ou, no caso dos transplantados de rins, podem voltar para a hemodiálise”, indigna-se.

O médico e professor adjunto de Nefrologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Edison Régio, entrevistado pelo Repórter SUS, explica em mais detalhes: "No caso do [transplante de] rim, o paciente perde o enxerto e volta para a máquina [hemodiálise]. É terrível. No caso do coração, fígado e pulmões, o paciente morre se faltar a medicação imunossupressora". Os problemas podem aparecer a partir de 24 horas sem a ingestão do medicamento, diz o médico. Para pacientes que estão na fila da cirurgia, a falta dos remédios leva à suspensão do transplante.

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A volta para o hospital

A falta da Ciclosporina fez Paulo Augusto Secundino, transplantado de rim há um ano e meio, se internar em 4 de maio. Ele procurou o Hospital Universitário Ciências Médicas e declarou que tinha tomado a última dose do remédio pela manhã. A internação durou seis dias, até que pessoas próximas conseguiram o medicamento doado. Agora, Paulo tem seu próximo “dia D”: 16 de junho. “Se caso não chegar [o remédio], vou ter que internar de novo”, diz.

Além da escassez dos remédios gratuitos, Paulo relata que o medicamento também está em falta nas farmácias comuns. “Ele é um remédio caro (R$ 1.200), creio que não fabricam muito por ser de alto custo. Os remédios gratuitos foram acabando e muita gente que estava correndo da internação deu um jeito de comprar, fazendo dívida, pedindo para parente, amigos. Eu mesmo ia vender meu violão, minha caixa de som. Mas mesmo assim, não acha”, expõe o paciente.

Resposta

Questionado, o governo estadual admite que há uma dívida com os fornecedores de medicamentos, o que seria um dos motivos para a escassez. Para a solução, afirma que estão acontecendo negociações com os fornecedores e cobrança de fornecedores inadimplentes. Sobre os medicamentos enviados pelo governo federal, informa que há atraso na entrega feita pelo Ministério da Saúde e que o governo estadual solicitou participação em atas de compras da União.

Edição: Elis Almeida