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Cinema

Artigo | Quem somos nós no Parquelândia?

Documentário Parquelândia aborda cotidiano das trabalhadoras e trabalhadores de um parque de diversões no Piauí

Brasil de Fato | Recife (PE) |
“Parquelândia” é a primeira experiência em longa metragem da cineasta pernambucana Cecília da Fonte
“Parquelândia” é a primeira experiência em longa metragem da cineasta pernambucana Cecília da Fonte - Divulgação

Fantasia, encantamento, cores, sons e movimentos. Essa era a memória afetiva que trazia da infância sobre os parques de diversões itinerantes montados em cidades do interior que frequentei quando criança. Voltar a esses parques já na idade adulta trouxe uma outra experiência à luz do dia. Pessoas vivendo em situações precárias, relações de trabalho abusivas e histórias de vida marginalizadas por um Estado que institucionaliza a opressão e contribui para uma violência sistêmica que é vivida por uma parcela significativa da população brasileira. Algo muito mais comum do que se imagina.
Diante desta realidade e por acreditar no cinema como ferramenta de luta, nasce o “Parquelândia”. Um documentário que se aproxima do cotidiano das trabalhadoras e trabalhadores de um parque de diversões itinerante do sertão do Piauí e expõe, a partir da observação das relações de trabalho, a desigualdade estrutural que é flagrada neste ambiente de “fantasia”, poucas vezes percebido por quem o frequenta em ambientes festivos.
O filme é um gesto que convida o expectador a conhecer a realidade na qual vivem aquelas pessoas, mas não se pretende como uma denúncia localizada. Trata-se de um recorte que mostra, a partir da situação do parque, os problemas estruturais que aquele universo apresenta.
Quem somos nós no parque? O quanto nos incomoda olhar além para os espaços que frequentamos superficialmente e quantas vezes refletimos sobre as estruturas de exploração que são necessárias para que possamos consumir? Que corpos estão sendo submetidos a não ter escolhas? Cada personagem naquela microestrutura representa uma peça de uma engrenagem de desigualdade institucional, que reflete o Estado ausente.
Entender o cinema como dispositivo de militância é um convite a pensar sobre aquilo que banalizamos, o que deixamos de lado ou escolhemos não ver como nos implica também. É preciso provocar fissuras e buscar diminuir as distâncias na prática, junto a outros corpos que atuam em diferentes formas e espaços na responsabilidade por um projeto coletivo, inclusivo e participativo de sociedade.
O documentário "Parquelândia", dirigido por Cecilia da Fonte está disponível gratuitamente na plataforma http://www.taturanamobi.com.br/

*Cecilia da Fonte é realizadora audiovisual do Recife e militante feminista pelos direitos humanos.

Edição: Monyse Ravena