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“Brasilgate”: Após vazamentos, mídia internacional contesta imparcialidade de Moro

The Intercept revelou articulações entre então juiz Sergio Moro e Deltan Dallagnol para impedir vitória eleitoral de PT

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Jornal argentino afirmou que houve “comportamento ilegal das autoridades judiciais brasileiras"
Jornal argentino afirmou que houve “comportamento ilegal das autoridades judiciais brasileiras" - Reprodução/Página/12

O escândalo envolvendo conversas do então juiz federal e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador da Força-Tarefa da Lava Jato Deltan Dallagnol divulgadas neste domingo (9) pelo site The Intercept repercutiram na imprensa internacional nesta segunda-feira (10).
As três reportagens, produzidas a partir de arquivos inéditos obtidos por uma fonte anônima, mostram articulações internas entre o juiz e o procurador com o objetivo de impedir a vitória eleitoral do PT.
O diário argentino Página/12 apelidou caso de "Brasilgate”, em alusão a Watergate, invasão da sede do partido democrata norte-americano em 1972. O escândalo, revelado pelo jornal Washington Post, levou, em 1974, à renúncia do então presidente dos EUA, Richard Nixon.
Segundo o Página/12, o “comportamento ilegal das autoridades judiciais” brasileiras “serviu como álibi para o golpe de Michel Temer contra Dilma Rousseff em 2016, justificou a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva em 2018 e criou as condições para o triunfo do ultradireitista Jair Bolsonaro e sua ascensão como presidente”.
O jornal considera ainda que “os materiais contém pistas de que os membros da força tarefa [da Lava Jato] falaram abertamente de seu objetivo de frear o triunfo do PT nas eleições de outubro de 2018”.
De acordo com os diálogos divulgados pelo The Intercept, os procuradores se preocuparam com uma entrevista que seria concedida por Lula ao jornal Folha de São Paulo antes das eleições, por medo de que ela pudesse influenciar para uma vitória do então candidato à presidência Fernando Haddad (PT). Os procuradores chegaram a comemorar quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux suspendeu a entrevista, acatando a uma liminar do Partido Novo.
O francês Le Monde também repercutiu o caso. A matéria começa com uma pergunta “E se o maior escândalo de corrupção na história do país tivesse sido manipulado?”. Segundo o jornal, a Lava Jato “manobrou para evitar a eleição” do ex-presidente Lula.
“Mensagens também revelam que os próprios promotores tinham ‘sérias dúvidas sobre a existência de provas suficientes da culpa de Lula’” no caso do Triplex, afirma a matéria do periódico francês. Ainda para o Le Monde, a condenação “impediu que Lula, o favorito das intenções de voto na época, fosse candidato na eleição presidencial. Ele sempre reivindicou sua inocência e afirmou ser vítima de maquinações políticas, destinadas a impedi-lo de concorrer a um terceiro mandato após os de 2003 e 2010”.
O jornal espanhol El País afirma que a reportagem do The Intercept “coloca em dúvida a imparcialidade da Lava Jato”. Segundo a matéria, Moro “acelerou as sentenças que condenaram uma centena de pessoas, entre elas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre uma pena de prisão em Curitiba desde o ano passado [...] O que o The Intercept revela é que o atual ministro da Justiça orientou as investigações do chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, para facilitar as condenações, algo proibido pela Constituição e pelo Código Penal Brasileiro”.
O russo RT informou que os diálogos publicizados revelam “a insegurança do próprio Dallagnol em relação à acusação que levou Lula à prisão”. O jornal afirma ainda que “em várias ocasiões, Moro foi além de suas funções, sugerindo ao procurador que mudasse a ordem das fases da Lava Jato, assim como dando conselhos estratégicos e pistas informais de investigação e antecipando ao menos uma decisão”.
O Diário de Notícias, de Portugal, disse que “para advogados e juízes ouvidos pela imprensa, o caso coloca em dúvida a imparcialidade de Moro, agora ministro da Justiça do governo liderado por Jair Bolsonaro, nos casos. Marco Aurélio Mello, que é um dos 11 membros do Supremo Tribunal Federal, sublinhou que ‘a equidistância do órgão julgador tem de ser absoluta’”.
A emissora catari Al Jazeera tachou as revelações de “explosivas” e considerou que “as acusações vêm em uma hora ruim para Bolsonaro, que já está enfrentando uma oposição crescente com menos de seis meses no cargo, enquanto a maior economia da América Latina está cambaleando no limite da recessão e sua reforma da previdência continua empacada em um Congresso hostil”.
O Mexicano La Jornada analisou que “chats do Telegram desnudam operações contra Lula no Brasil. Os promotores encarregados da operação de combate à corrupção Lava Jato, liderada por Deltan Dallagnol, ‘falavam abertamente de seu desejo de evitar’ que o Partido dos Trabalhadores vencesse a eleição presidencial do Brasil de 2018. E o juiz Sergio Moro, agora poderoso ministro da Justiça do governo neofascista de Jair Bolsonaro, colaborou secretamente e sem ética’ com a equipe do Ministério Público para acertar o caminho para o agora presidente”.
A emissora multiestatal TeleSUR destacou que “para além de impedir a candidatura de Lula, a informação [do The Intercept] revela discussões internas e atitudes altamente controversas, politizadas e legalmente duvidosas do caso Lava Jato e do julgamento contra o ex-presidente. Sua exclusão da eleição, baseada na decisão de Moro, foi uma peça-chave para abrir caminho para a vitória do então candidato de ultradireita Jair Bolsonaro”.

Edição: Rodrigo Chagas