VAZA JATO

Sem saber o que vem pela frente, mídia cobre escândalo da Lava Jato com reservas

Sites, jornais e emissoras da imprensa comercial entram na cobertura dos vazamentos, mas evitam aprofundar o tema

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Manchete do portal G1, do grupo Globo, às 10h15 desta segunda-feira (10): título morno
Manchete do portal G1, do grupo Globo, às 10h15 desta segunda-feira (10): título morno - Reprodução

Mesmo noticiando o caso com reservas - e sem aprofundar na cobertura, como exigiria um escândalo desse porte - os principais veículos da imprensa comercial não tiveram como esconder de seus leitores e telespectadores o vazamento de conversas que mostram o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato atuando em conluio para condenar o ex-presidente Lula sem provas e interferir no processo eleitoral de 2018.

As conversas, que começaram a ser divulgadas pelo site The Intercept no domingo (9), mostram em detalhes a ligação entre a condução dos processos da Lava Jato e um esforço coordenado para que Lula não participasse do processo eleitoral, nem como candidato, nem como uma força de apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT). Nas conversas há críticas ao STF e combinações sobre a Lava Jato.

“Todo mundo já sabia, mas agora tem a prova que ele [Moro] combinava com Ministério Público o andamento do processo. A mídia está tateando um pouco porque o The Intercept Brasil anuncia que vai divulgar mais áudios e mais coisas. Se você adota uma posição de defesa do Moro e depois aparece coisas mais comprometedora, fica difícil fazer o ajuste”, avalia o jornalista Rodrigo Vianna.

Ainda assim, ele diz ter se surpreendido com a velocidade com que a mídia tradicional entrou no caso. “Achei que eles fossem segurar e minimizar o caso. Geralmente eles fazem isso, principalmente a Globo: em vez de ignorar para não serem acusados de omissão, dão o material de maneira discreta. Ontem isso não aconteceu. É um reconhecimento que na era das redes sociais não adianta querer controlar o noticiário”, afirma Vianna.

A TV Globo dedicou quase quinze minutos de reportagens, ao todo, em seus dois principais programas jornalísticos do canal aberto: o Fantástico, no domingo, com 5 minutos e 22 segundos; e o Bom Dia Brasil, na manhã desta segunda-feira (10), com 8 minutos e 14 segundos.

A notícia também foi destaque nas capas dos principais jornais do pais e manchete nos sites, incluindo desdobramentos e repercussões, na maioria dos casos com destaque para a "ilegalidade" dos vazamentos.

Sobre esse aspecto, o editor-chefe do The Intercept Brasil, Leandro Demori, escreveu no Twitter que a população tem o direito de saber “como operava nas sombras a operação anticorrupção do Brasil”.

Um dos pontos que mais teve repercussão na imprensa foi o trecho em que o juiz e os procuradores conversaram sobre a possibilidade de Lula dar entrevistas antes das eleições. A preocupação naquele momento era que uma fala contundente do ex-presidente levasse à vitória de Fernando Haddad (PT).

A relação entre os procuradores que apresentaram as denuncias contra Lula e o juiz era tão estreita que Moro era chamado, nas conversas, pelo apelido de "Russo".

“Nunca antes na história desse país, a expressão tem que 'combinar com os russos' fez tanto sentindo”, brincou Demori no Twitter.

Entre os sites da mídia tradicional, o da revista Veja publicou matéria com o título “Moro orientou Deltan na Lava Jato, mostram conversas”. O UOL, do Grupo Folha, foi mais incisivo: “Mensagens podem anular decisões de Moro, acreditam ministros do STF”.

A jornalista Mônica Bergamo, da Folha, que conseguiu entrevistar Lula, mas somente após as eleições, escreveu no Twitter: “Quando a entrevista de Lula enfim foi autorizada, eu afirmei que a vitória jurídica da Folha e do El Pais era um rombo na censura. As mensagens dos procuradores reveladas pelo The Intercept confirmam o pouco apreço que parte do pais tem pela plena liberdade de imprensa”.

Edição: João Paulo Soares