Junho

Festejos juninos voltam às ruas de Natal (RN)

Comemoração em bairro natalense pretende recuperar as raízes e tradições do São João

Brasil de Fato | Natal (RN) |
O tradicional milho cozido não pode faltar
O tradicional milho cozido não pode faltar - Rudá Melo

Muitas pessoas acreditam que as festas juninas de rua em Natal morreram, mas elas estão acesas junto com as fogueiras que queimam nas datas de dias santos nas ruas de diversos bairros da cidade. No conjunto Potilândia, no bairro de Lagoa Nova, lugar que já sediou um dos maiores arraiás do estado, o Arraiá da Esmeralda, há três anos ocorre o aHAYá - Acendendo a Fogueira de Santo Antônio. O evento acontece sempre no dia 13 de junho, no intuito de resgatar os tradicionais festejos de rua espalhados por todo o Brasil, mas principalmente no Nordeste.
De forma gratuita, a rua do Mercúrio, onde fica a igreja do conjunto, é ocupada por barracas com comidas típicas, bandeirinhas e fogueira. Um palco é montado, onde se toca muito forró pé de serra, e o público, que gira em torno de 700 pessoas, dança uma quadrilha improvisada. Nesse ano, as atrações musicais serão DJ Hay, DJ Opa Bruno, Trio Trancelim e Fuxico de Feira.
“Os arraiás de rua eram muito famosos em todos os bairros de Natal, mas infelizmente a violência acabou com quase todos e agora, aos poucos, eles estão voltando” afirma Haylene Dantas, moradora do bairro de Potilândia e organizadora do evento.
Para ela o São João é a melhor época do ano. “Sou apaixonada por isso, uma amante mesmo. Ele está ligado às minhas memórias, às minhas vivências desde a infância. Esse movimento sempre foi um momento de grande encontro familiar. Isso tem uma força aqui em casa”, afirma a produtora.
Ela, que mora na casa que já foi de sua avó, relembra como era esse momento para sua família: “nessa época, vinham todos os filhos, todos os primos e todo mundo se juntava para ir ao arraiá [da Esmeralda], todo mundo dançava quadrilha”. Uma das motivações da produtora é gerar esse tipo de memória afetiva nas futuras gerações.
Haylene afirma que o São João é “o maior movimento cultural popular que existe, de acesso à cultura. É uma festa muito democrática, todo mundo pode, todo mundo vem. E é uma manifestação cultural que é tão nossa, que é do povo, por isso que precisa ser resgatada”.
Elaine Pereira Nunes, 55, é moradora do conjunto há 52 anos e membro da direção do Conselho Comunitário dos moradores de Potilãndia. Ela afirma que o “aHAYá” tem se tornado um evento muito significativo para a comunidade, “porque está mantendo a tradição dessa festa que já foi muito importante para o bairro. Para nós a tradição não pode morrer, o São João não pode morrer". Ela explica que a festa “mobiliza os comerciantes do bairro e os moradores festejam, se confraternizam”.
Sobre o envolvimento da comunidade, Haylene afirma que “ele começa desde o permitir dar as mãos para realizar o arraiá aqui, já que a gente interdita a rua para poder fazer a montagem. Os vizinhos sempre ajudam e ficam perguntando se vai ter, porque eles amam. Ajudam com uma escada, um carro de mão, com o montar as bandeirinhas, trazer lenha para a fogueira, com doações de vinte, trinta reais”.
Nos dois primeiros anos, o financiamento da festa se deu pela coleta de arrecadações entre moradores e comerciantes locais e com a venda de rifas e comida durante o evento, mas a conta não fechava. Esse ano, a produtora resolveu fazer uma arrecadação online, pelo site Vakinha, em que os contribuidores concorrem a uma rifa com vários prêmios de parceiros.
Para Felipe Nunes, 27, "a festa é uma tentativa de retomar o clima de festas comunitárias durante o São João. Fui ano passado e foi muito bom, gostei muito da organização e da interação com os moradores”. A iniciativa de financiamento coletivo, segundo ele, é muito interessante, pois “estimula o compromisso coletivo com o evento”.
Questionada sobre o que o "aHAYá" representa, a frequentadora Bruna Massud, 29, afirma que ele “é uma forma de resistência em um tempo em que a população tem medo de sair de suas casas, dada a questão da insegurança pública”. Ela ressalta a importância de valorizamos momentos culturais como esses e “ocuparmos a cidade com o que é significativo pra gente”.

Edição: Marcos Barbosa