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Cultura

Conheça projetos que oferecem aulas gratuitas de cinema nas periferias de BH

Com ideia de capacitar população, iniciativas fortalecem construção de um novo audiovisual, formado e feito para o povo

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
"Horizontes Periféricos" já formou 450 alunos, que produziram cerca de 76 curtas-metragens
"Horizontes Periféricos" já formou 450 alunos, que produziram cerca de 76 curtas-metragens - Foto: Reprodução/Facebook Horizonte Periféricos

Em um período de cortes orçamentários e perseguição à cultura em todo o país, Belo Horizonte resiste. Na cidade, surgem várias alternativas para se fazer cinema, e um cinema diferente, que retrate o Brasil como ele é, com seus negros e negras e com suas mulheres – não só na frente das câmeras, mas também detrás delas.

Um estudo da Agência Nacional do Cinema (Ancine) publicado em 2018 constatou que, no ano de 2016, homens brancos ocupavam 75,4% dos cargos de direção. Mulheres brancas contabilizavam 19%, homens negros 2% e mulheres negras nada. Elas não dirigiram sequer um longa lançado na época.

Alguns projetos que acontecem na capital mineira estipularam o objetivo de transformar essa realidade. Conheça:

Horizontes Periféricos

Criada em 2011 por Graziella Luciano, a iniciativa oferece aulas gratuitas de audiovisual nas periferias da capital. Hoje na 4ª edição, já formou 450 alunos, que produziram cerca de 76 curtas-metragens. Qualquer pessoa acima de 15 anos pode se cadastrar.

O Horizonte Periféricos deste ano ocupa os centros culturais, com formações já realizadas nos bairros São Cristóvão, Alto Vera Cruz e São Geraldo (que acontece até o mês de julho e está com inscrições abertas). As próximas paradas serão os bairros Das Indústrias I, Jaqueline, Itatiaia, Salgado Filho, Jardim dos Comerciários, Itapoã, Ipiranga e Fazendinha. São 40 horas de curso por oficina. Ao final do ciclo, os trabalhos dos alunos serão exibidos no Cine Santa Tereza. A mostra deve acontecer em março de 2020.

"Temos a meta de, na medida do possível, fazer com que as pessoas que passam pelo projeto continuem atuando na área do audiovisual, em diversas funções", relata a idealizadora Graziella, que cita casos dos inúmeros estudantes que, depois de se profissionalizarem, optaram por esse caminho e até se tornaram professores do Horizontes para aumentar a rede.

De acordo com Graziella, uma das principais ideias para 2019 é incentivar o protagonismo das mulheres no mundo do cinema. "Das 11 oficinas, 4 são ministradas por homens e 7 por mulheres. Assim como discutimos nas aulas a importância da abordagem dos filmes, que podem falar sobre elas, que podem falar sobre as questões raciais", diz.

Os curtas produzidos até o momento podem ser vistos nos canais do Youtube Horizonte Periféricos e Sarasvati Produtora. Para se inscrever, acesse o site.

Circuito Cinematográfico de Periferia


Circuito Cinematográfico de Periferia realizado no Barreiro

É uma ação da Ong Contato, lançada em 2018. A Contato atua com projetos para jovens há 17 anos em BH.

Segundo o coordenador de audiovisual da instituição, Helder Quiroga, o propósito é "inserir a periferia no DNA do cinema". Para isso, além da capacitação técnica, existem momentos dedicados a exibições de filmes brasileiros e mineiros. O seguinte a ser projetado será "Abdução", um longa de ficção científica do diretor Marcelo Lins, que vive no Aglomerado da Serra, maior favela de BH.

O circuito vai até o início de 2020, com oficinas ainda não realizadas no Alto Vera Cruz, Barragem Santa Lúcia, Lagoinha, Comunidade dos Arturos [Contagem, RMBH], Venda Nova e na cidade de Nova Lima [também RMBH]. Antes de cada curso, existe um levantamento do que os moradores gostariam de aprender. Em uma oficina realizada no Barreiro, por exemplo, a maior demanda foi por Montagem e Edição, já na Serra foi Roteiro. Desta maneira, para Quiroga, as regiões acabam participando do processo de curadoria.

"Quando a periferia entra nesse universo tão restrito do cinema, o setor é ampliado e a gente potencializa o desenvolvimento dessa economia, porque existem novos realizadores. Os profissionais se diversificam, a renda é distribuída e os alicerces do audiovisual são fortalecidos", analisa Quiroga, que continua: "a classe média precisa conhecer o país dela, que não é feito somente por quem convivemos no núcleo fechado das redes sociais, mas de gente humana e com muita criatividade".

"São novas histórias, que não classificam a periferia pela miséria, mas a partir da riqueza cultural. Queremos construir um audiovisual mais justo, solidário e que valoriza os direitos humanos", ressalta.

Conheça o projeto, confira a agenda e como fazer as inscrições no Facebook e site da Ong Contato.

Quer conhecer mais projetos de cinema na periferia? Aqui tem lista!

Oficina Cine Vida

Noite de Cinema

Mostra CineAfroBH

Cine Sem Churumelas

Filme de Rua

Edição: Joana Tavares