Mobilização

Margaridas do RN buscam financiamento para marcha em agosto

O Estado potiguar participa da Marcha das Margaridas desde a primeira edição, que ocorreu em 2000

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Pelo menos 100 mil amulheres são esperadas no evento em Brasília
Pelo menos 100 mil amulheres são esperadas no evento em Brasília - José Cruz / Agência Brasil

Rita Teixeira é agricultora há 53 anos. Membro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Baraúna (RN), onde mora com o marido, duas filhas e a mãe também agricultora, ela é uma das mil mulheres que  representarão o Rio Grande do Norte na Marcha das Margaridas, no mês de agosto, em Brasília. Essa é a quarta vez que a potiguar vai ao Congresso Federal levar pautas em defesa das mulheres do campo.
O Estado potiguar é representado na Marcha desde a primeira edição, que aconteceu em 2000. Ilma Maria, de 66 anos, faz parte desse grupo pioneiro. Coordenadora de Mulheres do Sindicato de Caraúbas, ‘tia Ilma’, como é conhecida, mora na comunidade sítio Boagua e também integra outros 14 grupos de mulheres da região, cerca de 300km distante de Natal. A agricultora nasceu no campo e nunca abandonou a roça, exceto quando cursou pedagogia em Mossoró, profissão que disse nunca ter exercido, embora ensine, no dia a dia, sobre autonomia e direitos às tantas mulheres que buscam aos sindicatos rurais.
Segundo Ilma, o sindicato de Caraúbas vai levar 15 mulheres para a capital federal. A quantidade de pessoas é limitada em razão dos recursos arrecadados com auxílio da Prefeitura, Câmara de Vereadores, comércio e amigos. Além do financeiro, o grupo também tem se preparado para a ação promovendo rodas de conversas, oficinas e realizando momentos de conscientização sobre a Marcha.
“Nossa principal luta são os direitos iguais para as mulheres e a previdência. Especialmente esse ano vamos focar na Reforma da Previdência porque a gente sabe que conseguiu esse direito com muita luta, com muita bravura e agora estamos com risco de perder. Então, a luta é para a reforma não ser aprovada ou que seja aprovada sem que os nossos direitos sejam tirados”, disse.
Para a agricultora, a Marcha tem causado impacto em Brasília nos últimos anos. Ela conta que a campanha de documentação das mulheres e o direito à terra são algumas dessas conquistas. No retorno da mobilização para os municípios, a pedagoga conta que toda a movimentação feita é repassada às quase 200 mulheres envolvidas com os sindicatos.
“Na volta, a gente diz o que conseguiu e o que não conseguiu, repassando para as mulheres que não foram. Nem todas podem ir, mas nosso objetivo é que todas fiquem sabendo. Não estamos indo passear, estamos indo lutar para melhorar a qualidade de vida de todas as mulheres”, explica.
A expectativa é de que 20 ônibus partam aqui do Estado para as ruas da capital federal, levando, ao todo, cerca de mil mulheres. A informação foi dada por Gliziane Plúvia, que há 16 anos faz parte da Marcha Mundial das Mulheres em Mossoró e região, organização que auxilia na mobilização da Marcha das Margaridas. Cada estado brasileiro tem uma meta de participantes a serem levadas.
A Marcha ainda aguarda uma posição do Governo do Estado sobre o número de ônibus que vai ceder para o movimento, o que não foi confirmado até o momento. Em 2018, a Marcha das Margaridas conseguiu “arrancar” seis ônibus da gestão Robinson Faria e as ativistas esperam que, no mínimo, a quantidade seja mantida.
Organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares, a Marcha das Margaridas terá sua 6ª edição nos dias 13 e 14 de agosto de 2019, em Brasília. A iniciativa luta contra a violência e em defesa dos direitos sociais e políticas públicas relacionadas à produção de alimentos saudáveis. A expectativa é de que pelo menos 100 mil mulheres participem do evento na capital federal.
A ação acontece de quatro em quatro anos e é uma forma das mulheres rurais, quilombolas e indígenas se mobilizarem em favor da igualdade, autonomia e liberdade, junto aos movimentos feministas, centrais sindicais e organizações internacionais. Elas também reivindicam demandas de agricultores e agricultoras familiares, além de entregarem suas pautas, discutidas em rodas de conversa um anos antes, ao Governo e Congresso Federal. A Marcha conta com a parceria de 16 organizações sociais e movimentos.
Pela primeira vez, as participantes fizeram um financiamento coletivo para a captação de recursos complementares. É possível acessar a plataforma e ajudar o grupo clicando aqui. Até esta quinta-feira (06), a marcha havia arrecadado 66% do valor total. A campanha segue até o dia 02 de julho e o valor obtido será revertido em despesas com locação de espaço e equipamentos de som, itens e serviços de segurança higiene a limpeza, saúde, alimentação, logística, divulgação, comunicação e cultura, além dos custos de deslocamento dos estados para Brasília.
Margaridas
Criado em 2000, a Marcha das Margaridas acontece a cada quatro anos a fim de dialogar com o Governo Federal sobre pautas de “mulheres do campo e da floresta”, como se definem, que giram em torno do acesso à terra, agroecologia, fim da violência sexista, acesso à saúde, além de autonomia econômica, democracia e participação política.
Em 2015, a denominação “mulheres das águas” foi incluída, para afirmar a diversidade das mulheres rurais, como agricultoras familiares, camponesas, sem-terra, acampadas, assentadas, assalariadas, trabalhadoras rurais, artesãs, extrativistas, quebradeiras de coco, seringueiras, pescadoras, ribeirinhas, quilombolas, indígenas e tantas outras identidades construídas no País.
Parceiras
Marcha Mundial das Mulheres – MMM
Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB
União Brasileira de Mulheres – UBM
Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste – MMTR-NE
Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB
Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS
Movimento Articulado das Mulheres da Amazônia – MAMA
GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia
União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária – Unicafes
Confederação de Organizações de Produtores Familiares
Camponeses e Indígenas do Mercosul Ampliado – Coprofam
Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Assalariados e Assalariadas Rurais – CONTAR
Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiros e Marinhos – Confrem Brasil
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ
Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB
Central Única dos Trabalhadores – CUT

Edição: Isadora Morena