Saúde

Após recessão, cobertura vacinal volta a crescer no RN

Com uma baixa de imunização desde 2017, agentes da saúde vêm empenhando esforços para elevar números

Brasil de Fato | Natal (RN) |
Desinformação e Fake News sobre as vacinas atrapalham os trabalhos dos agentes de saúde.
Desinformação e Fake News sobre as vacinas atrapalham os trabalhos dos agentes de saúde. - Patrícia Ferreira

Embora os números referentes à cobertura vacinal tenham diminuído no Rio Grande do Norte, nos últimos anos, o estado vem mostrando uma leve recuperação na imunização da população potiguar. Desde 2017, ano que representou um dos menores índices de vacinação, agentes da saúde vêm empenhando esforços para combater os principais motivos que levaram a essa baixa.
A exemplo da grande disseminação das Fake News, por meio de movimentos antivacinas, muitas pessoas acabam ficando temerosas com os efeitos gerados. A subcoordenadora da vigilância epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) Alessandra Luchesi explica que a desinformação gerada por esses grupos atrapalha os trabalhos das equipes de saúde e, por isso, o governo vem intensificando campanhas de esclarecimento.
“Há uma prioridade do Ministério da Saúde em combater essas Fake News, assim como o Estado sempre está fazendo uma nota de esclarecimento e tentando combater isso. Mas o que falta, muitas vezes, é a sensibilização da população com as causas. É entender que o imuno está ali disponível para que você não venha adoecer. E entender, principalmente, que se eu tomar a vacina hoje, eu não vá adoecer, há um período para a vacina te imunizar”, afirma.
É o que acontece com Emerson Batista, 27, que embora venha se imunizando regularmente, parou de tomar a vacina da gripe devido as reações adversas. “Eu não tomo por sempre ter uma espécie de reação alérgica. Já cheguei a passar um mês doente devido a vacina”, diz.
Alessandra Luchesi, contudo, explica que o adoecimento não é ocasionado por causa da vacina. Embora ela possa causar efeitos adversos, o percentual e a ocorrência dos casos são pequenos dentro da população. “Geralmente, a pessoa já estava infectada quando tomou a vacina. Além disso, tem que haver um tempo de atuação para que a pessoa não venha a adoecer”, ressalta.
Horários restritos
Outro fator que vem sendo pensado para permitir uma melhora no aumento da cobertura vacinal é a flexibilização dos horários das salas de vacinação nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Como as unidades funcionam em horário comercial, a subcoordenadora aponta que o acesso da população aos locais de vacina fica mais restrito.
“O município do Natal, por exemplo, conseguiu deixar três salas de vacinação abertas em shoppings para funcionamento em finais de semana. Isso acaba levando a uma melhoria dos dados. Na campanha de vacinação da Influenza, Natal, historicamente, não atingia a cobertura, mas agora conseguiu atingir”, destaca.
Entretanto, Luchesi ressalta que a determinação de um horário flexível parte das escolhas administrativas da gestão dos municípios para cada vacina, embora o Estado tente orientar, monitorar e fiscalizar as ações.
Mesmo em Natal, cuja época de campanha vacinal consegue ter uma alta aderência da população, Anna Paula Andrade, 30, afirma que suas vacinas regulares, e as do seu filho recém-nascido, geralmente estão em atraso por uma falta de padronização nos horários dos postos de saúde. Segundo ela, sempre que necessita se vacinar, precisa fazer uma grande busca em várias UBS para adequar o horário de funcionamento no seu dia.
“Eu me vacinei e vacinei meu filho com muitos dias de atraso, porque sempre quando eu ia na data o posto estava fechado, e quando eu ia dois dias depois, já tinha mudado o horário que estava sendo praticado antes. Não é que não tinham as vacinas disponíveis, mas sim que os horários das salas de vacinação são completamente aleatórios”, diz.
Sensibilização médica
A falta de sensibilização de agentes de saúde com doenças imunopreveníveis também é outro problema visto por Luchesi, e que está tendo cada vez mais atenção. Ela aponta que há algumas doenças que a classe médica não vê como ameaça, a exemplo da Coqueluche. “Alguns profissionais acreditam que já não existe mais, porém existe! Os números dos casos suspeitos estão alarmantes e superiores ao do ano passado”.
“A gente não tem uma conduta que é sensível a esses tipos de agravo. Há uma preocupação maior em Meningite porque acredita-se nas formas mais agressivas da doença, que normalmente levam a óbito, mas pouco se fala em Difteria, pouco se fala em Tétano, em Poliomielite”, ressalta.
O Sarampo, o qual acreditava-se que já estava erradicado do país, voltou a crescer os números nos últimos anos, e, segundo pontua a subcoordenadora, muito foi por uma questão de vacinação. Embora o surto da doença tenha sido causado pela chegada de imigrantes infectados, as pessoas não vacinadas no país acabaram sendo contagiadas.
“A gente tem feito um acompanhamento de perto, e neste quadrimestre [de 2019] atingimos 26%, na cobertura vacinal prioritária: a Penta Valente, a Pneumocócica, a Poliomielite e a Tríplice Viral. Em 2017, foi 15% o ano inteiro. Porém, quanto mais pessoas vulneráveis a gente tiver, piores serão as consequências. Por exemplo, no surto de Sarampo, os demais estados pontuaram que não adianta você ter 90% de cobertura vacinal para a Tríplice Viral, pois os 10% não vacinados irão adoecer”, completa.

Edição: Marcos Barbosa