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Artigo | A greve geral e o ânimo dos trabalhadores

No serviço público, é sensível o protagonismo do ramo da educação, responsável por 57 greves

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Caminhada pela manhã no centro de Curitiba no dia 14 de julho
Caminhada pela manhã no centro de Curitiba no dia 14 de julho - Giorgia Prates

A greve geral do dia 14 de junho de 2019 aconteceu em um ambiente já diferente para os trabalhadores. Dois anos antes, no dia 28 de abril de 2017, havia sido uma das maiores greves gerais da História em termos de adesão massiva contra a reforma da previdência de Temer.

Muitas perdas de direitos aconteceram desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Entre as principais estão a aprovação da terceirização (Lei nº 13.429/2017) e a reforma trabalhista (Lei nº 13.429/2017). Além disso, a perda de receitas com o fim da cobrança do imposto sindical prejudicou a organização dos sindicatos.

O ambiente incerto desde a prisão de Lula, em 2018, quando era o principal candidato à presidência, também pesa para um estado de ânimo desfavorável. Neste momento, o fator mais duro certamente é a situação de desemprego de 13,4 milhões de pessoas, o que dificulta a mobilização dos que ainda têm um posto de trabalho.

Pelo que apontam os dados do Dieese, no documento “Balanço das Greves em 2018” naquele ano o número de greves foi de 1453 e revela um declínio, uma vez que havia sido de 2114 greves em 2016, ano que foi o auge histórico deste tipo de mobilização desde a década de 80.

Recentemente, o serviço público voltou a superar a iniciativa privada em ações de paralisação. Em 2018, foram 791 greves de servidores públicos e apenas 655 dos trabalhadores celetistas. Em 2016, havia o equilíbrio entre as duas esferas, bem como no período economicamente favorável, de 2005 a 2008, mostrando maior atividade entre os trabalhadores da iniciativa privada. Afinal, havia mais oferta de emprego e os trabalhadores podiam avançar em melhores itens de suas pautas. Esta disposição parece ter se alterado com a crise econômica.

A mobilização do dia 14 de junho de 2019 foi importante e alcançou diversos ramos da economia. Porém, revela o desafio para o sindicalismo: necessidade de renovação, retomada de trabalho de base e ações em local de trabalho, unidade mais firme e ampliar a confiança política entre as centrais sindicais e as ferramentas de resistência da classe trabalhadora a partir de lutas.

Junto a isso, em 2018, os números do Dieese e o caráter das greves nos apontam novas questões para debate sobre a situação atual da classe trabalhadora e sua disposição para a luta:

1) As greves praticamente dobraram no período de 2012 (873) e 2013 (877) em relação aos quatro anos anteriores (2005 a 2008). Voltaram a ter uma grande expansão em 2016 (2093 greves), e agora voltaram a cair em número total. Neste momento, o seu caráter é de lutas e pautas mais defensivas em maior número do que as propositivas. Hoje, de acordo com estudo do Dieese, mais de um terço, ou 37% das mobilizações têm como pauta o pagamento salarial em atraso. Ainda assim, é preciso analisar que a maior parte das greves, teve êxito no atendimento das pautas de 76% das reivindicações, mesmo mesmo neste cenário de defensiva e desafios;

2) Um terço das greves demandou o envolvimento do Judiciário, esse poder que, além de entranhado hoje no conservadorismo e no golpismo, mostra também o seu braço repressivo contra o Direito de Greve, com uso de interdito proibitório, penalização econômica contra trabalhadores e seus sindicatos, limitando cada vez mais um direito que é Constitucional;

3) Houve redução da atividade da iniciativa privada, sob o risco de demissões, em comparação com o serviço público. Entre as empresas privadas, verifica-se um predomínio da paralisação por empresa do que por categoria necessariamente. Na indústria em específico, setor sempre fundamental para o movimento grevista, as pautas foram majoritariamente defensivas em 128 negociações contra apenas 60 propositivas.

4) No serviço público, é sensível o protagonismo do ramo da educação, responsável por 57 greves, por exemplo, entre 166 mobilizações de servidores públicos estaduais, reforçando novamente, entre os ramos dos trabalhadores, a importância da mobilização dos trabalhadores em educação, como categoria ativa e com contexto de apoio da sociedade civil. Há alguns anos, em diferentes estados, o segmento da educação tem sido responsável pelas principais lutas de enfrentamento aos governos neoliberais de plantão (em São Paulo, Paraná, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins entre outros), com capacidade de apoio dos estudantes para o movimento.

5) Um fator importante – que o Brasil de Fato Paraná pôde registrar, por exemplo, na greve da Repar e Fafen, ambas pertencentes à Petrobrás, na cidade de Araucária –, é o papel que terceirizados assumem nas lutas da iniciativa privada. Um desses ramos é o de vigilância e limpeza, que atingiu o número de 459 greves, sendo responsável por 70% das unidades de mobilização no setor privado.

*Integrante da coordenação do Brasil de Fato Paraná e da Frente Brasil Popular do estado. 

 

 

 

Edição: Laís Melo