reconciliação

Governo venezuelano e oposição instalam mesa de diálogo permanente em Barbados

Negociação iniciada na Noruega muda para ilha do Caribe; pauta será em torno dos grandes problemas nacionais, diz Maduro

Caracas (Venezuela) |

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Guaidó e Maduro enviam representes à ilha de Barbados para negociar
Guaidó e Maduro enviam representes à ilha de Barbados para negociar - AFP | Yuri Cortez

Começa uma nova etapa de diálogo entre o governo de Nicolás Maduro e os líderes dos partidos opositores, depois de três anos de crise política, acirrada após a posse dos deputados Assembleia Nacional, em 2016. Em maio desde ano, tiveram início na Noruega, as reuniões que buscavam entendimento entre os dois setores políticos. Agora estes encontros se darão na ilha caribenha de Barbados.

Os encontros começam essa semana, segundo comunicado do líder da oposição, Juan Guaidó, e do ministro de Comunicação e Informação da Venezuela, Jorge Rodríguez, chefe da delegação do governo venezuelano. O governo informou que sua delegação chegou a Barbados na segunda-feira (8), onde será instalada uma mesa de diálogo permanente. “As negociações serão realizadas de forma contínua e resolutiva”, destacou Rodríguez.

De acordo com o comunicado do governo, um acordo prévio assinado em 25 de maio estabelece que as pautas seguirão uma agenda de seis pontos.

“Nesses seis estão contemplados todos os grandes problemas do país. É uma agenda ampla que envolve o setor social, econômico, cultural”, resumiu o presidente Nicolás maduro durante entrevista coletiva na noite de segunda.

O governo também falou sobre as dificuldades em avançar, devido às divisões internas da oposição e seus líderes. “A delegação do governo bolivariano, com o objetivo de resolver o conflito pelas vias pacíficas, tem esperado com paciência estratégica que as diferentes frações da oposição venezuelana resolvam ou atenuem as profundas divergências internas para continuar o diálogo mediado pela Noruega”, diz o comunicado oficial.

O líder da oposição recorreu às redes sociais para falar sobre a continuação dos diálogos com o governo. “Nosso objetivo é o mesmo: conseguir uma solução definitiva para a crise no nosso país”, escreveu Guaidó em sua conta do Twitter.

Guaidó também afirmou que está liderando processos em diferentes espaços diplomáticos, entre eles os encontros exploratórios em Oslo, na Noruega, mas também com o Grupo de Contacto Internacional, conformado por diplomadas de países da União Europeia para promover a paz e o diálogo na Venezuela.

Representante do Grupo de Contacto Internacional, o diplomata uruguaio Enrique Iglesias chegou ao país nessa segunda para uma visita oficial. Iglesias se reuniu com a vice-presidenta da República, Delcy Rodríguez, e também realizará reuniões com Guaidó  e dirigentes de outros partidos da direita venezuelana.

Para Guaidó, a principal meta da oposição é chegar a um acordo para a realização de novas eleições. “Os venezuelanos, nossos aliados e as democracias do mundo reconhecemos a necessidade de realizar um processo eleitoral verdadeiramente livre e transparente que nos permita superar a crise e construir um processo produtivo, seguro e com qualidade de vida”.

Chavismo voltará ao Congresso

Deputados chavistas voltarão a ocupar seus mandatos na Assembleia Nacional, de maioria opositora. Em 2016, 43 deputados do Partido Socialista Unidos da Venezuela se retiraram do congresso depois que o Poder Executivo rompeu relações institucionais com o Poder Legislativo e que o Tribunal Supremo de Justiça suspendeu todos os poderes da Assembleia Nacional. Segundo a Justiça venezuelana, o órgão legislativo havia descumprido decisões judiciais e portanto estava em “desacato” e não podia legislar até que as determinações fossem cumpridas.

As disputas políticas entre chavistas e opositores resultaram em enfrentamentos entre os poderes do Estado venezuelano. Maduro convocou, em 2017, uma eleição para uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Cerca de 8 milhões de venezuelanos participaram do processo eleitoral. No entanto, os partidos opositores nunca reconheceram a legitimidade da ANC, assim como o partido de governo, PSUV, não reconhecia a Assembleia Nacional.

Agora, Maduro faz um gesto conciliatório. Em reunião no dia 5 de julho com deputados chavistas, pediu que assuma seus mandatos. “Maduro expôs a necessidade de aproveitar o momento político para abrir caminhos de paz e reconciliação entre os venezuelanos”, noticiou o jornal Últimas Notícias, citando fontes do governo venezuelano.

O retorno dos deputados chavistas ao Congresso já havia sido pedido pelo assessor da Casa Branca, Elliott Abrams, encarregado dos assuntos da Venezuela no governo de Donald Trump. Ele mencionou o tema em artigo publicado pelo site de Miami, Nuevo Herald, no dia 7 de junho. "O chavismo tem que tomar uma decisão, o passo mais importante que pode dar para reverter a crise política na Venezuela é retornar à Assembleia Nacional", escreveu Abrams.

Edição: João Paulo Soares