Desastre

Mais de 2,5 mil pessoas seguem desalojadas após rompimento de barragem na Bahia

Quase 200 casas serão demolidas após inundação; MAB aponta falta de fiscalização como principal problema na região

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O município de Coronel João Sá, no nordeste da Bahia, foi o mais afetado por ruptura de reservatório
O município de Coronel João Sá, no nordeste da Bahia, foi o mais afetado por ruptura de reservatório - Junior Nascimento / AFP

Mais de 2,5 mil pessoas ainda estão desalojadas após o rompimento da barragem do Quati, entre os municípios de Pedro Alexandre e Coronel João Sá, no nordeste da Bahia. A estrutura usada para armazenamento de água e localizada a cerca de 430 km de Salvador, rompeu há uma semana, no dia 11 de julho, devido às chuvas intensas na região.

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Os dados da Defesa Civil da Bahia apontam para 2.080 desalojados em Coronel João Sá e 450 em Pedro Alexandre. As duas cidades, juntas, ainda têm 350 desabrigados — pessoas que não têm para onde ir.

Além disso, cerca de 200 casas às margens do Rio do Peixe vão ser demolidas. A Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec) faz a avaliação das residências da região.

Em Pedro Alexandre, o rio alagou ruas da cidade e, em pelo menos três delas, há pessoas desabrigadas. Essas famílias estão alocadas em escolas municipais. As aulas na cidade estão suspensas. 

“A comunidade está tentando se reerguer depois do acontecido”, conta uma moradora, que pediu para não ser identificada.  “A cidade está em estado de emergência. Não só pelo rompimento da barragem, mas pela intensidade de chuvas seguidas. As estradas também foram bastante prejudicadas e estão inacessíveis. E tanques de propriedades privadas acabaram estourando.”

Os decretos municipais que determinam a situação de emergência nas cidades de Pedro Alexandre e Coronel João Sá foram homologados pelo governador Rui Costa nesta terça-feira (16).  

Em Coronel João Sá, 14,4 mil pessoas foram afetadas de alguma maneira pela inundação  —  de casas alagadas a perda de eletrodomésticos. O município tem 17 mil habitantes.

Andreia Neiva, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), afirma que faltam informações sobre as comunidades que estão no percurso de 35 quilômetros que a água fez, como os povoados de Boa Sorte e Itapoá.

"Pelo que a gente pode perceber, tem comunidades que ainda estão isoladas e a gente não sabe, de fato, qual a situação dos atingidos porque não conseguiram chegar para ver como estão. As informações que chegam são por WhatsApp", diz Neiva.

Outros reservatórios de água estão com suas estruturas comprometidas: a barragem do Denis e de Riacho da Lagoa Grande. O Corpo de Bombeiros orientou a população a deixar a parte baixa da cidade e ficar na região mais alta de Coronel João Sá.

Neiva afirma que, como está localizada acima do município de Pedro Alexandre,  uma ruptura da barragem de Riacho da Lagoa Grande, de propriedade particular, poderia alagar todo o município.

“Todo mundo está bem apreensivo na cidade, com muito pânico. Além das questões emergenciais e humanitárias, as pessoas estão precisando de apoio psicológico”, diz.

As barragens servem para fazer retenção de água, formando açudes para abastecimento e irrigação. "Aqui na região, nós chamamos de barramentos. São açudes para acúmulo de água. É uma região muito seca”, explica a militante.

A barragem de Quati foi construída pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e, desde 2000, era gerida pela Associação de Moradores da Comunidade. A água do represamento, no período de estiagem, era utilizada para consumo humano e destinada à produção agrícola e pesca. O acidente ocorreu após a ruptura de outros dois açudes menores, de propriedade privada, na mesma região.

A disseminação dessas barragens é um fator de preocupação por conta da falta de fiscalização, pondera a militante.

"E muitas delas são feitas sem vistoria, sem fiscalização. Essa que se rompeu foi entregue para a comunidade no início dos anos 2000 e, de lá para cá, não houve nenhum tipo de fiscalização ou acompanhamento. E todas as outras estão na mesma situação", critica.

A legislação federal determina que barragens que tenham a partir de 15 metros de profundidade sejam fiscalizadas por órgãos do estado, neste caso, pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. “Mas essa barragem que se rompeu não tinha 10 metros de altura e fez esse estrago. Tem muitas barragens nessa situação, para acúmulo de água.”

Neiva defende políticas que garantam a segurança das pessoas do entorno.

“Para além de uma política que garanta a segurança das barragens, é necessário uma política que garanta a segurança da população atingida. Aqui na Bahia não temos uma iniciativa estadual de fiscalização.”

A prefeitura de Coronel João Sá estima um prejuízo de R$ 10 milhões com o desastre.

Edição: João Paulo Soares