Mostrar Menu
Brasil de Fato
ENGLISH
Ouça a Rádio BdF
  • Apoie
  • Nacional
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • |
  • Cultura
  • Opinião
  • Esportes
  • Cidades
  • Política
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Mostrar Menu
Brasil de Fato
  • Apoie
  • TV BDF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
Mostrar Menu
Ouça a Rádio BdF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Brasil de Fato
Início Opinião

OPINIÃO

Artigo | A prova de fogo

"Moro está em sua Prova de Fogo, desafiado à conta gotas pelas revelações de Greenwald. Passará pela prova de fogo?"

26.jul.2019 às 15h51
Porto Alegre (RS)
Frei Sergio Antonio Gorgen Ofm
Analogia entre Sérgio Moro e o frade dominicano Jerônimo Savonarola, proposta pelo professor Cerqueira Leite, ainda rende

Analogia entre Sérgio Moro e o frade dominicano Jerônimo Savonarola, proposta pelo professor Cerqueira Leite, ainda rende - Reprodução

Algum tempo atrás o renomado cientista brasileiro Rogério Cézar Cerqueira Leite, em artigo na Folha de São Paulo (Desvendando Moro, 11/10/2016), escreveu comparando o moralismo punitivista de Moro com o de outro personagem da história universal, o frade dominicano Jerônimo Savonarola, também moralista e fanatizado por sua ideia própria de mudar os costumes de Florença e de fazer justiça, no final do século XV, segundo suas próprias convicções pessoais.

O artigo do professor Cerqueira Leite teve enorme repercussão e levou o então juiz Sérgio Fernando Moro a questionar a Folha como permitira publicação de tal tipo de artigo, classificado pelo magistrado como difamatório.

Pois bem, a analogia proposta pelo professor Cerqueira Leite ainda rende. Savonarola se colocava como a voz do próprio Deus, acima do bem e do mal. Nada o alcançava, e cercado de um grupo sectário que o seguia, quando chegou ao poder máximo em Florença, pontificava e punia.

Quando Florença foi invadida pela França, Savonarola colocou-se ao lado do rei da França.

Quando o rei francês se foi, restou desemprego, miséria e a economia de Florença quebrada. As cidades vizinhas e o Papado em Roma, desafiados pelo poderoso frade, cortaram negócios com Florença e com seus comerciantes. O povo começou sentir na pele as consequências e a colocar em Savonarola as culpas das desgraças, da fome, das falências, do desemprego e a cobrar soluções.

Dizia-se ele, porém, profeta com mensagens diretas de Deus e daí viria sua autoridade e por isto fazia suas próprias leis. Desafiava em seus sermões que, se assim não fosse, que Deus o fulminasse.

Apareceu então um frade franciscano, frei Francisco de Puglia, que desafiou Savonarola a uma Prova de Fogo, as famosas “ordálias”, populares na época medieval. Ambos atravessariam uma fogueira, especialmente preparada, e se Savonarola fosse mesmo representante direto de Deus, as chamas não lhe causariam qualquer dano.

O franciscano dizia saber que morreria assado nas chamas, mas que desmascararia a falsa aura de santidade do moralista.

Savonarola amarelou. Não topou a prova. Disse que isto seria colocar Deus à prova e que jamais o faria.

Mas um confrade seu, do mesmo convento, topou a ordália em seu nome.

Marcaram o dia e a praça da cidade lotou para ver quem passaria incólume sobre a fogueira, armada e preparada para que os dois entrassem nela ao mesmo tempo com igual intensidade de fogo.

O representante de Savonarola veio com um hábito (veste religiosa) velho. Os franciscanos não aceitaram. Poderia ser um hábito encantado e à prova de fogo, que expressaria a santidade do hábito e não do frade. Enfim, os dois de hábitos novos: o dominicano de branco e o franciscano com o marron.

Aí o dominicano agarrou-se a um crucifixo para cruzar o fogo. Os franciscanos também não aceitaram. Teria que ser sem nenhum objeto que pudesse dar qualquer proteção. O dominicano, por fim, quis entrar no fogo segurando o Santíssimo Sacramento, a hóstia consagrada. Longo debate teológico se estabeleceu e os franciscanos também vetaram o uso da eucaristia, símbolo divino, que não poderia ser usado numa querela entre vis mortais.

Assim o dia foi passando entre uma desculpa e outra e nada dos dois se jogarem ao fogo. Por fim, o franciscano escafedeu-se e sumiu da cidade. O povo ficou frustrado e revoltado, mas exigiu do dominicano que fosse sozinho ao fogo e provasse a santidade de Savonarola.

Enquanto este arrumava novas desculpas, um enorme temporal abateu-se sobre a cidade.

A massa popular considerou aquilo um castigo divino e a culpa recaiu sobre Savonarola. Pouco a pouco sua força moral foi esvanecendo até que foi condenado pelo Papa e entregue à justiça da cidade. Tropas cercaram o convento exigindo que Savonarola se entregasse. Ele e mais dois frades, fiéis a ele, foram presos, torturados e condenados à morte. O moralista punitivista acabou vítima de seu próprio método. O que fez com tantos, fizeram com ele.

Sérgio Moro está em sua Prova de Fogo, desafiado à conta gotas pelas revelações de Greenwald. Passará pela prova de fogo?

Caso não passe, espera-se que os avanços civilizatórios ocorridos entre os séculos XV e o XXI, que não se aplicaram aos perseguidos, se apliquem ao perseguidor – seja julgado por um juiz natural, isento e transparente com presunção de inocência; com amplo direito à defesa, com paridade de armas entre defensor e acusador e sem jogo combinado entre juiz e acusação; sem prisão arbitrária como tortura psicológica para arrancar confissões forjadas e sem celeridade artificial; não seja preso antes de trânsito em julgado e possa recorrer até última instância; sem condução coercitiva e sem vazamentos de conteúdos cobertos pelo sigilo judicial; que não seja condenado sem provas e possa usufruir de habeas corpus se concedido; possa conceder entrevistas e possa recorrer em liberdade – enfim, que não padeça o Sérgio Fernando do que padeceu o Jerônimo e padeceram e padecem os hoje perseguidos pelo inquisidor de Curitiba. Há outro vivendo uma provação duríssima, jogado por ele, em sua fúria moralista perseguidora, numa masmorra solitária há mais de ano, condenado sem provas. Pelo visto, sem desconhecer a dor e o sofrimento do cárcere, este está se saindo bem melhor e com mais dignidade e altivez que o Savonarola do Brasil do século XXI.

Para este, mais fácil buscar analogias em Ghandi e Mandela.

Cada qual com o espelho que merece.

* Sérgio Antônio Görgen é frei franciscano, autor de “Em Prece com os Evangelhos”

Editado por: Marcelo Ferreira
loader
BdF Newsletter
Escolha as listas que deseja assinar*
BdF Editorial: Resumo semanal de notícias com viés editorial.
Ponto: Análises do Instituto Front, toda sexta.
WHIB: Notícias do Brasil em inglês, com visão popular.
Li e concordo com os termos de uso e política de privacidade.

Veja mais

Desigualdade

Governo Milei comemora queda da inflação enquanto povo sofre com demissões e renda em queda

DISPUTA DE NARRATIVA

Acnur afirma que Venezuela tem 6 milhões de refugiados e Caracas responde: ‘máfia a serviço da Usaid’

Ataques a imigrantes

Trump culpa imigrantes por crise econômica para encobrir bilionários, diz editora de projeto internacional

CINEMA

Santa Cruz valoriza memória e mantém olhos no mercado com festival

POLÍTICA EXTERNA

Lula quer mais conectividade aérea, marítima e terrestre entre Brasil e Caribe

  • Quem Somos
  • Publicidade
  • Contato
  • Newsletters
  • Política de Privacidade
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Socioambiental
  • Opinião
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Minas Gerais
  • Paraíba
  • Paraná
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Sul

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Apoie
  • TV BDF
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • Rádio Brasil De Fato
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Política
    • Eleições
  • Internacional
  • Direitos
    • Direitos Humanos
    • Mobilizações
  • Bem viver
    • Agroecologia
    • Cultura
  • Opinião
  • DOC BDF
  • Brasil
  • Cidades
  • Economia
  • Editorial
  • Educação
  • Entrevista
  • Especial
  • Esportes
  • Geral
  • Meio Ambiente
  • Privatização
  • Saúde
  • Segurança Pública
  • Socioambiental
  • Transporte
  • Correspondentes
    • Sahel
    • EUA
    • Venezuela
  • English
    • Brazil
    • BRICS
    • Climate
    • Culture
    • Interviews
    • Opinion
    • Politics
    • Struggles

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.