FORO DE SÃO PAULO

"Não basta distribuir riquezas", diz ex-ministro boliviano sobre governos de esquerda

Conquistas, dificuldades e expectativas dos mandatos progressistas são debatidas no Foro de São Paulo

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Ex-minsitro da Bolívia, Hugo Moldiz afirma que os governos de esquerda precisam repensar suas estratégias políticas
Ex-minsitro da Bolívia, Hugo Moldiz afirma que os governos de esquerda precisam repensar suas estratégias políticas - Fania Rodrigues

Quais foram as principais conquistas dos governos de esquerda na América Latina? E as reais chances dos partidos progressistas vencerem as eleições esse ano, em países com Argentina, Uruguai e Bolívia? Esses foram alguns dos temas em debate nessa sexta-feira (26), no Foro de São Paulo, que acontece em Caracas, entre 25 e 28 de julho.

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Para o ex-ministro de Governo da Bolívia, Hugo Moldiz os partidos de esquerda da região, que chegaram ao poder, precisam repensar suas estratégias políticas. "Foi um erro pensar que somente a distribuição de riquezas seria suficiente para gerar consciência no povo e acumulação política. Transformamos nossos eleitores em consumidores passivos", afirmou Modiz. Ele se refere aos governos como do PT, no Brasil, dos Kirchner, na Argentina, da Aliança País, de Rafael Correa, no Equador, o Movimento ao Socialismo, de Evo Morales, na Bolívia, entre outros.

Nesse aspecto, a Venezuela traçou um caminho diferente dos demais governos progressistas, diz Moldiz. "O grau de consciência política da Venezuela é outro. Sem a atual acumulação política, a capacidade de organização e a formação ideológica que possui a Venezuela não teria sido possível esse nível de resistência contra os Estados Unidos", ressaltou o ex-ministro.

Para o dirigente cubano Víctor Gaute, integrante do secretariado do Partido Comunista de Cuba, "a Venezuela hoje é o cenário onde os Estados Unidos despeja toda a sua crueldade". O país caribenho também sofre as consequências de um bloqueio imposto pelo governo estadunidense. Superar essa dificuldade tem sido o maior desafio do governo e da Revolução Cubana nos últimos anos, segundo Víctor Gaute. “Temos consciência de que a política genocida dos Estados Unidos, entre elas o bloqueio econômico, é a principal dificuldade que nós enfrentamos no desenvolvimento do nosso país. Mas nada disso vai impedir que nós possamos avançar e construir um mundo melhor”.

O dirigente do Partido Comunista de Cuba diz ainda, que a nova Constituição, aprovada em plebiscito no dia 24 de fevereiro, pode ajudar na modernização do país. “Pode contribuir e muito. Primeiro porque é fruto de um debate muito rico, muito amplo, que permitiu mudar mais de 60% do que havia sido inicialmente proposto. Ademais, porque o texto reflete a maneira como queremos construir o país. Essa é uma Constituição moderna, que propícia um desenvolvimento institucional e do país, que tem uma visão de futuro muito otimista”, explica.

A população cubana tem confiança no novo texto constitucional, de acordo com Gaute, sobretudo porque já era o momento de estabelecer novos objetivos. “Todas as metas estabelecidas pelo líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, depois de 26 de julho de 1953, depois do assalto do Quartel de Moncada, quando arranca a revolução, foram cumpridas”. E são desses resultados que parte a confiança dos cubanos no futuro, segundo o dirigente.

Dirigente cubano, Víctor Gaute afirma que nova Constituição ajudará a modernizar o país (Foto: Fania Rodrigues)

CONQUISTAS E OPORTUNIDADES

A governadora do estado venezuelano de Cojedes, Margaud Godoy, falou sobre as principais conquistas da Revolução Bolivariana da Venezuela. “Nosso principal orgulho, nesses 20 anos de revolução, foi poder ter feito uma distribuição equitativa das riquezas do petróleo. Hoje 79% do orçamento do Estado é investido em políticas sociais”, destaca a governadora.

Sobre a atual situação de crise econômica e do bloqueio implementado pelos Estados Unidos, Godoy disse que o governo nacional e os regionais estão incentivando políticas públicas de produção para superar o desabastecimento. “As crises, muitas vezes, geram oportunidades. Estamos trabalhando para produzir os bens que consumimos e assim também, poder superar nossa dependência das importações de produtos”, diz a governadora.

O representante uruguaio também falou sobre o desafio dos governos de esquerda em diminuir a dependência comercial em relação às grandes potências internacionais. “Os governos socialistas da região precisam avançar na questão produtiva”, apontou o dirigente do Partido Comunista do Uruguai, Rony Carbo. Seu partido é integrante da coalizão Frente Amplio, que governo Uruguai desde 2005.

O país está entre os três da região que esse ano realizam eleições presidenciais e parlamentares, quando projetos dos partidos da direita e da esquerda serão confrontados. “As eleições no Uruguai, Argentina e Bolívia serão fundamentais para dar uma resposta clara à direita do continente”, ressalta.

Na Bolívia, mesmo em um cenário de possível vitória eleitoral para o campo progressista, os desafios serão grandes, de acordo com o ex ministro Hugo Moldiz. “Não tenho dúvidas de que Evo Morales vai ganhar as eleições. Não sei se vai ganhar com a vantagem similar aos resultados de 2005, 2009 e 2014, mas somente o fato de ganhar vai representar uma mensagem forte, não somente para os bolivianos, mas também para a América Latina. Porém, coloca um desafio importante, que é voltar à nossa origem, de construir poder junto ao povo”, afirma Modiz, que também é dirigente do Movimento ao Socialista.

Atualmente a região da América Latina possui sete governos conservadores e três do campo da esquerda. Portanto, a disputa entre os dois setores políticos estarão em pauta nesses processos eleitorais.

Edição: Michele Carvalho