VAZA JATO

Dallagnol estimulou investigação contra Toffoli após STF contrariar Lava Jato

Procurador sai de sua jurisdição após decisões de ministro que foram vistas como tentativas de frear operação

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Deltan Dallagnol, o procurador Rodrigo Janot e Aldemir Bendine, da Petrobras em cerimônia de devolução de valores à estatal
Deltan Dallagnol, o procurador Rodrigo Janot e Aldemir Bendine, da Petrobras em cerimônia de devolução de valores à estatal - José Cruz/ABr

Em novo vazamento divulgado nesta quinta-feira (1) pela Folha de S. Paulo, a partir dos materiais obtidos pelo The Intercept Brasil, Deltan Dallagnol, procurador da Lava Jato, estimulou colegas em Brasília (DF) e Curitiba (PR) a promoverem investigações contra o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).

À época, ele era visto como um adversário que impedia o avanço da Lava Jato após soltar Paulo Bernardo, ex-ministro petista, logo após sua prisão pelo braço da operação em São Paulo (SP). O ministro também votou contra a permanência das investigações da Eletronuclear em Curitiba. 

O coordenador da força-tarefa da Lava Jato começou então a buscar informações sobre as finanças de Toffoli e de sua mulher, buscando ligações com empreiteiras envolvidas com a Petrobras, como a OAS.

No entanto, ministros do STF não podem ser investigados por procuradores de primeira instância. Constitucionalmente, eles devem ser investigados apenas com autorização do tribunal e pelo procurador-geral da República.

O interesse de Dallagnol por Toffoli e sua mulher, com quem o ministro dividia um escritório jurídico até 2007, quando assumiu a  chefia da Advocacia-Geral da União, também coincide com o momento em que a empreiteira OAS negociava um acordo com a Lava Jato em troca de benefícios aos seus executivos, em julho de 2016.

As mensagens mostram que Dallagnol consultou colegas para buscar informações sobre Toffoli. Dirigiu a Eduardo Pelella, chefe de gabinete de Rodrigo Janot,  então procurador-geral da República, perguntas que indicavam interesse na reforma que o ministro fez em sua casa, em Brasília, com participação da OAS.

“Pelella, queria refletir em dados de inteligência para eventualmente alimentar Vcs. Sei que o competente é o PGR rs, mas talvez possa contribuir com Vcs com alguma informação, acessando umas fontes. Vc conseguiria por favor descobrir o endereço do apto do Toffoli que foi reformado?”, diz a mensagem.

Meses depois, em agosto, uma capa da revista Veja trazia a questão da reforma de Toffoli, com base na delação de Léo Pinheiro, sem que nenhum relato por escrito sobre o assunto tivesse sido apresentado pelos advogados da OAS aos procuradores.

À Folha, a Lava Jato disse que “é comum o intercâmbio de informações para verificar, em caráter preliminar, supostos fatos de que o Ministério Público tenha conhecimento”. Eles também dizem que é dever encaminhar informações “sem exceção”.

Leia a íntegra da matéria publicada pela Folha de S. Paulo sobre a investigação de Dallagnol.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira