Comida Saudável

Festival em defesa da Feira do MST reúne mais de 2 mil pessoas no Centro de SP

Banquetaço com apoio de chefes de cozinha, artistas e entidades serviu 300 kg de comida saudável na Ocupação 9 de Julho

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Evento serviu cerca de mil refeições preparadas por chefes e voluntários
Evento serviu cerca de mil refeições preparadas por chefes e voluntários - Foto: Marina Duarte

Melancia, banana da terra, cenoura e beterraba; arroz integral, purê de inhame e abóbora; caldos, alface, repolho e berinjela. Na tarde deste domingo (4), cheiros e sabores tipicamente brasileiros coloriram a Ocupação 9 de Julho, no Centro de São Paulo, no Festival Comida de Verdade, que contou com mais de 2 mil pessoas.

Chefes de cozinha, voluntários, movimentos e artistas se uniram para servir um banquete em Defesa da Feira da Reforma Agrária do MST – ameaçada de não acontecer este ano devido à intransigência do governador paulista João Dória (PSDB), que se recusa a liberar o Parque da Água Branca, onde o evento ocorre há quatro anos.

“A gente faz um grande banquete agroecológico, muitas vezes de xepa (sobras). A gente trabalha com o que sobra de uma feira orgânica e o que um produtor orgânico doa e faz uma homenagem neste festival a essa Feira, que é a feira de alimentos mais importante do Brasil”, conta Bel Coelho, chefe de cozinha do restaurante Clandestino e integrante do Coletivo Banquetaço.

As refeições foram produzidas com mais de 300 kg de alimentos orgânicos doados por agricultores familiares e de assentamentos do MST. O preparo contou com a colaboração de outros chefes de cozinha e mais de 60 voluntários. Entre 12h e 16h, foram servidas cerca de mil refeições.

banquetaçoBanquetaço teve grande variedade de pratos com ingredientes da agricultura familiar

Qualidade

As pessoas que foram ao festival, mesmo enfrentando a garoa e o frio de 12 graus deste domingo em São Paulo, destacaram a qualidade da comida e a importância da manutenção da feira.

“Nós vamos comer uma comida de qualidade, com procedência, e ainda defendendo a agricultura familiar e a união das lutas por uma causa justa”, afirmou a assistente técnica Cláudia Cecília da Silveira.

Vinícius Rafael, estudante de Urbanismo, lembrou do fato de que muito do chega à mesa dos brasileiros vem da agricultura familiar. “A cidade não existe sem o campo e, principalmente, sem a produção de alimento orgânico e de qualidade. Todo mundo sabe que não é a grande produção do agronegócio que alimenta a cidade”, afirmou.

Para Regina Dorighello, aposentada, a feira é importante para quem produz, por perceber o quanto é valorizado, e para quem consome. "A gente está neste país imenso e às vezes não conhece tudo o que nós temos. E é tudo orgânico, tudo feito por assentamento. Tem que continuar”, disse.

Democracia e diversidade

A chef Bel fala da importância de defender a IV Edição da Feira. “O MST é o maior produtor de alimento orgânico do Brasil e da América do Sul. É um movimento muito importante para saúde e também para a democratização da produção agrícola. Sem a democratização e a reforma agrária, a gente não tem como comer bem”, concluiu.

Para Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, a grande participação popular em eventos como o deste domingo mostra uma tomada de consciência das pessoas em relação à comida saudável.

“A diversidade da agricultura familiar e da reforma agrária está atraindo um público cada vez maior. Esse apoio para realização da feira, além de todos os tipos de feiras, é muito importante e reflete que a sociedade brasileira avança muito na ideia de consumir cada vez mais alimentos saudáveis. Então, esse ato, e também todas as manifestações de solidariedade, refletem essa tendência. Não tenho dúvida que essa pressão vai fazer com que a feira seja realizada em São Paulo”, afirmou Mauro.

Gustavo Vidigal, da Rede Sustenta, considera a Feira do MST uma “dádiva” para a cidade de São Paulo. “A feira é importante porque torna a cidade mais democrática. Os movimentos sociais têm o direito de escolher o lugar onde se manifestam publicamente. E a reforma agrária é fundamental para o país. Por isso que a a gente de engajou nesse movimento, porque pra gente é essencial”.

A Rede Sustenta é uma das entidades organizadoras do festival, ao lado do movimento Banquetaço, do Instituto Chão, da Cozinha 9 de Julho e do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), responsável pela ocupação onde o evento foi realizado.

Após o banquetaço, o festival prosseguiu com shows musicais. Durante as apresentações, houve um ato político com a apresentação de um manifesto em defesa da Feira Nacional da Reforma Agrária, da alimentação saudável e dos movimentos e lideranças criminalizados pelos governos de direita.

Confira os vídeos de quem passou pelo Festival Comida da Verdade:

Músico Curumim

Samuel Samuca, músico do Samuca e a Selva

Deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP)

Cantor Otto

Vinícius Rafael, urbanista

Claudia Oliveira, assistente técnica

Edição: João Paulo Soares