Veneno

Artigo | Mudança na categorização dos agrotóxicos é revoltante, por Alexandre Padilha

É como se o paciente estivesse com febre e, em vez de tentar ajudá-lo, o enfermeiro jogasse o termômetro fora

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Agrotóxicos que eram considerados extremamente tóxicos passam a ser chamados de “moderadamente tóxicos”
Agrotóxicos que eram considerados extremamente tóxicos passam a ser chamados de “moderadamente tóxicos” - Agência Brasil

É, de fato, para se indignar a mudança na categorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação aos agrotóxicos. Está cada vez mais evidente uma escalada da disseminação de registros de agrotóxicos no país. É um recorde histórico – superando o número do ano passado, último ano do governo Temer –, aumentando em três a quatro vezes o ritmo de liberações, se comparado à série histórica.

O mais grave é que a Anvisa, em vez de enfrentar essa situação e ser mais cuidadosa na avaliação dos agrotóxicos, resolveu mudar a regra para passar a ideia de que está se reduzindo a toxicidade.

É como se o paciente estivesse com febre e, em vez de tentar ajudá-lo, o enfermeiro jogasse o termômetro fora.

Agrotóxicos que eram considerados extremamente tóxicos passam a ser chamados de “moderadamente tóxicos”. Os que eram moderados passam a ser considerados inofensivos.

A situação se agrava na mesa dos brasileiros. A Fiocruz já demonstrou, em um monitoramento feito em 30 tipos de alimentos, que consumimos um verdadeiro coquetel de agrotóxicos.

É ruim para quem trabalha na área rural e traz riscos para quem consome os alimentos. Só nos resta lamentar, resistir e denunciar mais esse retrocesso.

 

* Alexandre Padilha é deputado federal e ex-ministro da Saúde.

Edição: Daniel Giovanaz