Bahia

SAÚDE

Número de casos de dengue aumenta na Bahia

A prevenção ainda é a única forma de combater o mosquito

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
É necessário cuidado constante com os focos de reprodução do inseto, que precisa de água parada para proliferar.
É necessário cuidado constante com os focos de reprodução do inseto, que precisa de água parada para proliferar. - Fotos Públicas/ Ag. Pará

O aumento recente nos casos de dengue tem preocupado a população em vários estados do país. Na Bahia, este ano, foram registrados 49.817 casos prováveis (somados os casos suspeitos e os já comprovados), segundo dados da SESAB – Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. Trata-se de um aumento de 613% em relação ao mesmo período do ano passado. Dos 417 municípios baianos, 362 fizeram notificações. O estado está em situação de alerta e, nas últimas 4 semanas, 24 municípios já entraram em situação de epidemia, com ocorrência de mais de 300 casos para cada 100 mil habitantes. Os dados são do último dia 16.
Gabriel Muricy, gestor da Coordenadoria de Doenças de Transmissão Vetorial da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da SESAB, afirma que a Organização Pan-americana de Saúde havia alertado no final do ano passado que 2019 seria um ano de caráter epidêmico. Mas o aumento é preocupante, informa: “Isso vem se confirmando no país inteiro, o país está em epidemia”. Segundo o sanitarista, sabe-se que a cada período de 3 a 5 anos acontecem epidemias ou surtos pelo vírus da dengue. Isso acontece porque este vírus tem 4 sorotipos. “Quando um indivíduo tem dengue por um sorotipo”, explica, “ele fica imune àquele sorotipo. Então se esse ano predomina o sorotipo 1, e no ano que vem só tem sorotipo 1, a chance de ter casos que demandem assistência é menor. Mas, de tempos em tempos, quando muda o sorotipo, ele pega pessoas vulneráveis”.
Adicionadas a este fator também estão as condições climáticas, com muitas chuvas e temperaturas altas. É a situação favorável para a dispersão do transmissor do vírus, o mosquito Aedes aegypti. Na Bahia, esse ano choveu até mesmo em regiões em que não costuma chover, menciona Muricy. Isso faz com que a dispersão do mosquito seja maior. O especialista explica ainda que o inseto se adaptou muito bem ao processo de urbanização e que atualmente nem mesmo se pode falar em erradicar o mosquito e sim em controlá-lo. Maria da Glória Teixeira, professora e pesquisadora em epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, concorda: “Não tem sido fácil e nem possível eliminar esse vetor. E não só no Brasil”. Segundo ela, ainda que sejam tomados muitos cuidados, o mosquito buscará de todas as formas garantir a colocação de seus ovos onde quer que haja um pequeno espaço, mesmo em uma telha que juntou água da chuva, por exemplo. “O que nós precisamos”, afirma, “é melhorar nossas tecnologias de controle, seja na eliminação do vetor, seja com vacinas”.

Tarefa compartilhada
A única forma de prevenir ainda é controlando o mosquito. É necessário cuidado constante com os focos de reprodução do inseto, que precisa de água parada para proliferar. A limpeza da água armazenada em locais que podem se tornar possíveis criadouros, como vasos de plantas, reservatórios de água, pneus, garrafas, piscinas sem uso, lajes e calhas e até mesmo recipientes pequenos, como tampas de garrafas, é essencial na batalha contra o Aedes. Também é importante o correto descarte do lixo e a atenção a terrenos baldios. Como ressalta Teixeira, o mosquito, que antes preferia locais com água limpa, hoje já coloca ovos também em bocas de lobo e locais com água suja.
É trabalho para todos. Teixeira salienta os esforços da ciência, e Muricy expõe como fundamental a articulação do setor de saúde com os setores de saneamento e planejamento urbano e educação, para que o morador saiba que medidas simples podem evitar a proliferação do mosquito. Nesse sentido, é também estratégico o papel dos agentes de combate a endemias, que visitam as casas dos moradores: eles “têm que ser entendidos mais como educadores do que como ‘matadores de mosquitos’”, defende Muricy. E Teixeira orienta: a tarefa é “tanto da comunidade, como que eles se sintam estimulados e envolvidos, como de seus dirigentes valorizarem também o trabalho deles”.
A pesquisadora relata ainda que há uma impressão equivocada de que a dengue é mais frequente em bairros pobres. O que acontece, explica, é que o serviço privado de saúde notifica menos, o que dá a impressão de que há mais casos nas áreas mais pobres, em que se busca mais o serviço público. “Mas o vírus realmente circula”, afirma e acrescenta: “Veja a chuva que teve o quanto acumula de água, em plantas com folhas côncavas, por exemplo”. E questiona: “Será que se nós não tivéssemos cuidado com o nosso ambiente e um programa de controle, nós teríamos mais dengue ainda?”.
Há um desafio, também, de que a população perceba “que dengue não necessariamente é aquela coisa leve que 7 dias depois vai ficar boa, e que ela precisa procurar o serviço de saúde o mais rápido possível”, pontua Muricy. Os principais sintomas da dengue são febre alta, dores musculares, dor nos olhos e na cabeça, falta de apetite e manchas vermelhas no corpo. De forma mais grave, podem incluir dor abdominal intensa, vômitos e sangramento de mucosas. O risco de o quadro se agravar aumenta se o indivíduo tem uma doença preexistente, e também no caso de demora em iniciar o tratamento. Por isso, é fundamental em todos os casos buscar logo o posto de saúde. Além disso, como um dos efeitos da doença é a perda de líquidos dos vasos sanguíneos, comprometendo a circulação, é importante a hidratação, logo ao se notar os primeiros sintomas. “O que salva da dengue é água – beber água, o soro na veia e o soro caseiro”, adverte Teixeira.

Edição: Elen Carvalho