CURITIBA

Participantes da Jornada da Agroecologia realizam ato em defesa da educação pública

Manifestação aconteceu no centro da capital paranaense e se encerrou com aula pública na Praça Santos Andrade

Curitiba | Paraná (PR) |
Aula pública após a manifestação relembrou que, há 31 anos, docentes em greves foram reprimidos pela PM no centro da cidade
Aula pública após a manifestação relembrou que, há 31 anos, docentes em greves foram reprimidos pela PM no centro da cidade - Foto: Leandro Taques

Contra os retrocessos promovidos pelo governo Bolsonaro, a 18ª Jornada de Agroecologia realizou um ato em defesa da educação no início da noite desta sexta-feira (30). A manifestação saiu da Praça Generoso Marques, no centro de Curitiba, e encerrou-se na praça Santos Andrade com apresentações culturais e uma aula pública sobre o tema. 

Os organizadores relembraram que há 31 anos, no dia 30 de agosto de 1988, docentes do estado que estavam em greve foram fortemente reprimidos. No episódio, a Polícia Militar usou cavalos, cães e bombas de efeito moral para dispersar os docentes que se manifestavam pacificamente. Álvaro Dias, que atualmente é senador pelo Podemos, era o governador da época. 

Mais de três décadas depois, a truculência se repetiu. No dia 29 de abril de 2015, mais de 200 professores ficaram feridos no Centro Cívico da capital paranaense durante ato contra alterações no regime de previdência social dos servidores estaduais.

Mesmo em 2019, o cenário ainda é negativo para os professores e estudantes brasileiros.

Debate sobre educação

Valério Arcary, historiador e professor do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), um dos integrantes da mesa sobre educação da Jornada, afirmou que o governo Bolsonaro articula três graves ofensivas contra o ensino público brasileiro.

Ele afirma que o projeto Escola Sem Partido é a primeira delas. “É a defesa da censura e da mordaça dentro da escola para garantir um pensamento único, como na época da ditadura militar", condenou, completando que o perigo é eminente. 

O historiador citou como exemplo que recentemente Guilherme Boulos, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), foi convidado para palestrar no Instituto Federal de Itapetininga, no interior de São Paulo, mas foi impedido após articulação de forças conservadoras da unidade de ensino. 

O corte acima de 30% nas verbas das universidades e instituições federais foi elencado por Arcary como o segundo grande ataque de Bolsonaro à educação pública. No entanto, na opinião do historiador, as mobilizações em todos os estados do país contra a política do governo iniciaram um processo de resposta popular aos retrocessos.

“O 15 de maio foi a maior mobilização social que enfrentou o governo Bolsonaro nesses primeiros oito meses. A resistência está acumulando forças, ela ganha músculo. Eles ainda não viram nada do que será a resposta do povo brasileiro a esse governo”, disse. 

A terceira ofensiva em curso alertada pelo docente é a militarização de escolas do ensino médio por meio de projetos de lei que entregam parte da gestão de escolas públicas às forças armadas e à polícia militar. 

“Querem impor a disciplina de quartel em escolas brasileiras. Mas, o que as escolas necessitam, é de apoio do Estado para que os professores tenham sua dignidade respeitada, para que não mergulhem na miserabilidade. O que as escolas precisam é de um ambiente com democracia interna e tolerância com as mais diferentes visões do mundo”, defendeu Arcary. 

Carlos Abicail, ex-presidente da Confederação Nacional dos Profissionais em Educação (CNTE), também participou da aula pública e criticou enfaticamente a atuação de Abraham Weintraub a frente do Ministério da Educação, que, no início do ano, em tom persecutório, declarou que as universidades federais promovem “a balbúrdia”.

Abicail lamentou o ocorrido em 30 de agosto de 1988 e reforçou que, apesar dos retrocessos na área da educação, a luta continua inspirada naqueles que sempre defenderam a educação de qualidade.

“Não nos calaram e não nos calarão. Bolsonaro passará. Nós somos a resistência organizada e mobilizada, corajosa, que não teme as contradições do nosso tempo”, disse o sindicalista. 

Abicail ressaltou a relevância da obra de Paulo Freire, perseguido pelo governo. “O patrono da educação brasileira, queiram eles ou não, é Paulo Freire. E não Olavo de Carvalho. Paulo Freire que ajudou a população do campo a aprender a ler, lendo a vida.”

Arcary durante sua intervenção na Jornada (Foto: Leandro Taques)

Horizonte vitorioso

Valério Arcary endossou que acredita que a mobilização dos trabalhadores contra o governo irá crescer. “O que a história ensina é que na luta social, na luta de classes, revolução e contrarrevolução andam juntas. Toda a situação que estamos atravessando é antessala da reação do povo brasileiro.”

O historiador aproveitou o espaço para elogiar a organização da 18ª Jornada de Agroecologia. “Enquanto os grandes latifundiários e fazendeiros estão incentivando a Amazônia para colocar pasto para o gado, o MST está fortalecendo a agricultura orgânica, está impulsionando a auto-organização produtiva de pequenos camponeses. Aulas que se não apenas com palavras, mas com ações”. 

A deputada federal Gleisi Hoffman (PT) visitou a Feira da Agrobiodiversidade durante o início da noite e aproveitou para fazer uma fala no início da aula pública. “A campanha mentirosa de Bolsonaro e sua turma contra o MST, contra a produção orgânica, contra a agricultura familiar, é criminosa. A feira demonstra, em praça pública, que quem produz alimento de qualidade, sem veneno, é o povo da reforma agrária”, destacou. 

Roberto Requião (MDB), ex-governador do estado, também visitou a 18ª Jornada de Agroecologia. Ele participará de uma conferência sobre soberania nacional e popular que faz parte da programação do evento na manhã deste sábado (31). 

Edição: Rodrigo Chagas