Minas Gerais

EDUCAÇÃO

Governo Zema fecha turmas e causa superlotação, demissões e prejuízos no aprendizado

Em mais de duzentas escolas, turmas do ensino médio e fundamental estão sendo fundidas

Belo Horizonte |

Ouça o áudio:

Para diretora do Sind-UTE MG, medida desconsiderou, inclusive, o calendário escolar
Para diretora do Sind-UTE MG, medida desconsiderou, inclusive, o calendário escolar - Carlos Alberto/Imprensa MG

Desde o último dia 22, a Secretaria de Educação de Minas Gerais têm realizado a fusão de turmas escolares em 225 instituições em todo o estado. A alegação da SEE para o fechamento das turmas é de que um diagnóstico realizado pelo órgão detectou uma alta taxa de evasão escolar, o que justificaria a fusão das turmas. Professores, pais e alunos reclamam que a medida foi implantada de forma autoritária e sem conhecimento sobre a realidade das instituições.

Uma das escolas que sofrerá fusões é o Instituto de Educação de Minas Gerais, ao todo 14 turmas vão ser fechadas. Para debater a situação da instituição e também das demais escolas, a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG realizou uma audiência pública, no último dia 28, para tratar do tema. Apesar de ter sido convidada, nenhum representante da Secretaria de Educação compareceu à Assembleia. Por isso, a comissão aprovou uma convocação para que a Secretaria se explique em relação ao projeto. "Os meninos estão sentados com o nariz no quadro da sala.  A educação é algo que deve ser tratado por metro quadrado? Precisamos entender esse processo que está acontecendo e debater isso com a sociedade", afirmou a deputada Beatriz Cerqueira (PT), que realizou uma visita técnica à Escola Estadual Santos Dumont, em Venda Nova, instituição que já passou pela fusão de turmas.

Futuro em risco

A coordenadora geral do Sind-UTE/MG Denise Romano, destaca que a mudança não leva em consideração aspectos fundamentais do processo de aprendizado. "Estamos como se fosse em fevereiro, porque muda tudo, todo plano curricular dos professores. Os percursos pedagógicos de cada aluno não foram levados em consideração. Cada turma tem um percurso específico. Que qualidade de educação é essa que desorganiza os alunos e não prioriza questões fundamentais para sua permanência na escola?".

Outra preocupação é o desempenho dos alunos mineiros no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, uma vez que o fechamento das turmas foi iniciado faltando menos de três meses para a prova.  É o caso, por exemplo, da estudante Lilian da Rosa Prates, presidenta do Grêmio Estudantil do Instituto de Educação. "O ENEM está chegando, a gente quer passar, quer entrar numa universidade. Como que o governo decide fundir as turmas e não pensa nos alunos?", questiona.

A evasão escolar, apontada pelo governo como justificativa para a fusão das turmas, é um medo que assombra os pais dos alunos. Ivan Mateus é pai de dois estudantes do IEMG, o líder comunitário que mora no Aglomerado da Serra teme pelo futuro dos jovens da região. "Onde eu moro é um local de violência. Se as nossas crianças desistirem de ir para a escola por causa dessas mudanças, elas estarão à mercê dessa realidade. O que o Estado está querendo fazer é deixar nossas crianças na rua", afirma.

Além dos alunos, professores e funcionários das escolas também estão sendo prejudicados com a medida. Já que em razão das fusões estão acontecendo também a dispensa de trabalhadores. "Eu fui surpreendida com o fim de mais da metade das minhas aulas. Tem mais de duas semanas que meus alunos estão sem aula de sociologia. A política pública não pode ser pensada do ponto de vista material, o Estado está enxergando a escola como uma loja, uma mercadoria", declara Regina Moura dos Santos, professora de sociologia no Instituto de Educação. 

Contradição

Um dado alarmante apontado pela própria Secretaria de Educação é a superlotação de turmas. Mais de seiscentas escolas, por todo o Estado, estão nesta situação, no entanto, sobre esta realidade, não há nenhuma medida do governo.

Educação às traças

Falta de mesas e cadeiras e estruturas precárias são uma realidade recorrente dentro das escolas mineiras. "O nosso auditório está fechado porque está caindo aos pedaços. Tem sala de aula sem janela e com porta quebrada", declara a aluna Lilian da Rosa Prates.

Na avaliação de Denise Romano, o investimento nas instituições, nos trabalhadores e nos alunos é o que deveria ser a prioridade da Secretaria. "O governo não investe nem o mínimo em educação. É previsto por lei que o Estado deve destinar 25% do que é arrecadado para o setor, mas isso não acontece. No primeiro semestre deste ano foram investidos apenas 17%", afirma.


 

Edição: Elis Almeida