Meio ambiente

Seminário reúne lideranças, parlamentares e produtores contra avanço dos agrotóxicos

Evento sobre alimentação saudável discute formas de atuação contra a hegemonia do agronegócio no Brasil

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Abertura de seminário "Terra e territórios: alimentação saudável e redução de agrotóxicos” na Câmara, com participação da sociedade
Abertura de seminário "Terra e territórios: alimentação saudável e redução de agrotóxicos” na Câmara, com participação da sociedade - Lula Marques/PT na Câmara

Com o acirramento dos debates sobre a agenda ambiental, políticos e diferentes atores da sociedade civil reafirmaram, na manhã desta terça-feira (3), na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), a luta contra o avanço dos pesticidas no país.

Reunidos na abertura do seminário “Terra e territórios: alimentação saudável e redução de agrotóxicos”, que ocorre durante todo o dia, os participantes reforçaram o coro contra as diferentes medidas no Executivo e no Legislativo que incentivam a disseminação de agroquímicos, como é o caso da liberação de novos 290 agrotóxicos, promovida pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) desde o início do ano, e do chamado Pacote do Veneno (Projeto de Lei 6299/2002), que aguarda votação no plenário da Câmara.  

Como contraponto a tais iniciativas, o empresário e produtor orgânico Joe Valle fez um apelo pela aprovação da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pnara), proposta no PL 6.670/2016, que enfrenta obstáculos impostos pela bancada ruralista.

“Converso muito com produtores e vejo todos buscando alternativas diferentes dos agrotóxicos. Se isso não é o que as pessoas querem e o mundo mudou, se estamos vivendo outro momento, pra que servem os agrotóxicos, então? Já temos um arsenal enorme pra produzir alimentos de qualidade, que não intoxicam o meio ambiente. Eles fazem bem pra saúde do planeta como um todo, e não só pro indivíduo”, afirmou, defendendo o modelo de produção sustentável, pautado na agroecologia.

A Pnara também foi lembrada pelo presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), que apontou a necessidade de maior articulação política em torno do tema.

“Precisamos pautar esse projeto, chamar a atenção das diferentes bancadas e autoridades, mostrar que não estamos aqui pra uma revolução como se apertássemos um botão, mas é preciso começar. Precisamos de um Brasil onde a produção orgânica se popularize”, defendeu.

Destacando a representatividade de diferentes setores na abertura do seminário, o dirigente João Paulo Rodrigues, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), ressaltou a importância dos múltiplos apoios que se somam nas lutas em defesa da alimentação saudável.  

O seminário, por exemplo, reúne parlamentares de legendas como PT, Psol, Rede e PSB e conta com a presença de indígenas, quilombolas, estudantes universitários e representantes de diferentes entidades. Entre elas, estão Contag, Greenpeace, WWF Brasil, Via Campesina, Associação Brasileira de Agroecologia (ABRA) e Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida. 

Para Rodrigues, a união desses grupos é o ponto de partida para um fortalecimento da luta política em defesa das pautas de interesse social, como a defesa da Previdência pública, o combate à reforma trabalhista, a defesa da reforma agrária e dos territórios, entre outras.  

“O agronegócio se mantém porque tem uma agenda de hegemonia muito grande, uma aliança com os grandes meios de comunicação que fez com que ele chegasse até aqui. A possibilidade de nós avançarmos é trabalhar nessa direção, pra conseguir o apoio da população e ganharmos hegemonia. A derrota deles só é possível se trouxermos consumidores para o nosso lado. Será uma batalha longa, uma disputa de hegemonia das ideias, mas já temos bagagem o suficiente pra dar esse salto de qualidade”, acredita o líder.

Investimento

Na mesma linha, a nutricionista, chef e apresentadora Bela Gil defendeu maior investimento do Estado brasileiro em políticas que universalizem o acesso à alimentação saudável. Ela criticou as iniciativas do atual governo de expandir o uso de pesticidas e lembrou os riscos associados a esse tipo de medida.

“Quem vai pagar a conta é o próprio governo, com o aumento dos casos de doenças crônicas, câncer e outros problemas. Isso tem um custo alto pra nossa sociedade”, assinalou.

A apresentadora, conhecida nacionalmente pela atuação em defesa do uso de alimentos orgânicos, também criticou as transformações trazidas pela chamada Revolução Verde, responsável pela expansão agrícola iniciada na década de 1960. O movimento é associado à intensificação dos latifúndios, da utilização de venenos e do desmatamento, hoje no foco dos debates políticos nacionais.

“A grande porta de entrada pra gente mudar tudo isso é a agroecologia. Se não for a única saída, é uma das mais importantes, e isso não é utopia. É uma forma inteligente e consciente de a gente entender que a Revolução Verde fracassou. Precisamos mudar de direção”, defendeu.

“Estamos num contexto difícil, duro para as lutas populares, mas, ao mesmo tempo, já tivemos seminários sobre produção orgânica que não estavam tão cheios como este auditório aqui hoje, por exemplo”, ressaltou Dênis Monteiro, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), ao falar sobre a esperança que o campo popular deposita na pauta.  

Frente

Em sintonia com a agenda do meio ambiente, também foi relançada, nesta terça, durante o seminário, a Frente Parlamentar da Agroecologia e Produção Orgânica.

“Hoje todo mundo quer comer alimento saudável, e não contaminado, por isso a frente vai buscar articular deputados, senadores e ainda deputados estaduais, vereadores e sociedade civil organizada pra trabalharmos em defesa desse projeto aqui dentro do Legislativo e mostrarmos que há uma grande articulação contra os agrotóxicos”, disse o coordenador, deputado Leonardo Monteiro (PT-MG).

Para Rogério Dias, da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), a atuação do Legislativo com a sociedade é fundamental.   

“Não adianta a gente vir pra cá e percorrer gabinetes. Não é assim que a coisa acontece. A gente precisa que a articulação seja feita na origem de cada parlamentar, nas bases. É lá, nos territórios, que podemos potencializar nossa força. É muito importante que a gente trabalhe junto pra ocupar esse espaço”.

Edição: João Paulo Soares