Quem me contou foram os jornais

A questão do Instituto Internacional da Hileia Amazônica em 1950

Como os interesses externos sobre a Amazônia datam desde o século passado

Brasil de Fato | Natal (RN) |
Soberania da Amazônia é debatida há séculos
Soberania da Amazônia é debatida há séculos - Acervo Inpa/Divulgação

As discussões em torno do interesse internacional nos recursos da floresta Amazônica, trazendo a reboque a temática da soberania nacional, fez parte da opinião pública brasileira durante todo o século XX e chega em termos gravíssimos nesse final de década do século XXI, impulsionado pelas insanidades provocadas direta e indiretamente pelo atual governo. Ecos desse debate foram sentidos pela opinião pública no ano de 1950, quando da tentativa de criação do Instituto Internacional da Hileia Amazônica. 
O jornal Correio da Manhã trouxe, em fevereiro daquele ano, o protocolo de criação aprovado pelo Congresso, em que se afirmava os “objetivos exclusivamente científicos” do Instituto, que tinha entre os “Estados fundadores”, Itália, França e Holanda e entre suas funções estaria “dirigir e organizar estudos, levantamentos de dados e pesquisas científicas na região e preparar relatórios sobre a mesma”.
A reação à ideia do Instituto veio principalmente do deputado Artur Bernardes e do Instituto Brasileiro de Geopolítica. O Correio da Manhã reportou em janeiro de 1950, o parecer dado pelo Instituto “mostrando os perigos que poderiam surgir para o Brasil, caso o Congresso aprove a criação deste órgão”. 
O deputado Artur Bernardes teria elogiado o parecer em uma longa exposição no Congresso, afirmando ser o “projetado órgão internacional da Amazônia” “um futuro Estado dentro do Estado”. Para o deputado, a criação do Instituto deveria ser combatida com “entusiasmo e patriotismo”. 
O debate prolongou-se até 1952 quando, em outubro, o jornal Última Hora noticiou o decreto assinado pelo presidente Getúlio Vargas criando o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, “uma organização essencialmente brasileira para a solução de um dos mais transcendentais problemas brasileiros”, enterrando de vez a criação do instituto internacional e dando o exemplo histórico de um estadista realmente preocupado com a soberania nacional
* Leonardo Cruz é historiador.
 

Edição: Marcos Barbosa