Cinema

Em meio a ataques à Ancine, "Marighella", de Wagner Moura, tem estreia cancelada

Agência recusou liberação de verbas para distribuição e comercialização do filme sobre a vida do guerrilheiro brasileiro

São Paulo (SP) | Brasil de Fato |
Seu Jorge, Wagner Moura e Bruno Gagliasso representam o filme no Festival Internacional de Cinema de Berlim
Seu Jorge, Wagner Moura e Bruno Gagliasso representam o filme no Festival Internacional de Cinema de Berlim - Foto: John MacDougall / AFP

O filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, teve seu lançamento adiado indefinidamente no Brasil.

Em nota, a produtora O2 Filmes informou que a estreia do longa, prevista inicialmente para o dia 20 de novembro, foi cancelada porque os realizadores não conseguiram “cumprir os trâmites” exigidos pela Agência Nacional de Cinema (Ancine).

A data escolhida inicialmente para o lançamento marcaria tanto o mês em que se completam cinquenta anos do assassinato de Carlos Marighella quanto o dia da Consciência Negra. 

As verbas para a produção e comercialização do filme vêm do Fundo Setorial Audiovisual (FSA), administrado pela Ancine. A distribuição é da Paris Filmes. 

Recentemente, a agência já havia negado dois pedidos da produtora O2 Filmes referentes à “Marighella”. O primeiro dizia respeito ao reembolso de parte do dinheiro investido na produção do longa, no valor de R$ 1 milhão. O segundo pedia adiantamento de verbas de comercialização, referentes justamente ao lançamento do filme. 

“É impossível não pensar que existe uma articulação política para criar esse tipo de ambiente", disse o diretor Wagner Moura à revista Época na ocasião. Ele já previa, então, que a negativa da Agência poderia atrapalhar a estreia do filme.

Ao jornal O Globo, a O2 responsabilizou a demora da Ancine em ratificar o repasse de verbas do FSA.

Controle e corte de verbas

Desde o início do mandato, Jair Bolsonaro (PSL) vem declarando recorrentemente que pretende ampliar o controle sobre as produções audiovisuais brasileiras apoiadas pela Ancine. Nesta terça-feira (10), Bolsonaro afastou o presidente da agência, Christian de Castro, e outros quatro servidores.

“É Bíblia embaixo do braço e que saiba 200 versículos da Bíblia”, disse o presidente, ao jornal Valor Econômico, sobre a busca do perfil do substituto para assumir a Ancine. As declarações foram feitas à jornalistas no Quartel General do Exército, em Brasília.

A Agência tem orçamento anual de quase R$ 1 bilhão, e o setor do audiovisual movimenta anualmente R$ 25 bilhões. 

Para o ano que vem, de acordo com a proposta orçamentária encaminhada pelo Executivo ao Congresso, pode haver um corte de 43%, reduzindo a verba do FSA, gerido pela Ancine. Os recursos previsto para o Fundo em 2020 somam R$ 415,3 milhões. 

::Impasse entre TCU e Ancine paralisa concessão de novos incentivos a setor audiovisual::

Leia abaixo a íntegra da nota divulgada pela O2 Filmes 

“Nós, produtores do longa-metragem Marighella, dirigido por Wagner Moura, anunciamos que a data de lançamento do filme nos cinemas brasileiros, divulgada anteriormente para 20 de novembro de 2019, está cancelada. 

Os produtores haviam escolhido o mês de novembro, que marca os 50 anos de morte de Carlos Marighella, e o dia 20, da Consciência Negra, para a estreia. No entanto, a O2 Filmes não conseguiu cumprir a tempo todos os trâmites exigidos pela Ancine (Agência Nacional do Cinema). 

Marighella segue sendo apresentado com muitos sucesso em vários festivais de cinema no mundo. Nosso objetivo principal sempre foi a estreia no Brasil. Os produtores e a distribuidora Paris Filmes vão seguir trabalhando para que isso aconteça”.
 

Edição: Rodrigo Chagas