MST

Homenagens celebram as lutas e conquistas dos 30 anos do MST no Ceará

Em seus 30 anos de atuação aqui no Ceará, o MST realizou várias ações na luta pela terra

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Entrega do título de cidadão cearense ao economista e um dos principais dirigentes do MST, João Pedro Stédile
Entrega do título de cidadão cearense ao economista e um dos principais dirigentes do MST, João Pedro Stédile - Foto 01: Camila Garcia; Fotos 02 e 03: Elitiel Guedes

No dia 25 de Maio de 1989 aconteceu a primeira ocupação de terra organizada pelo MST no estado do Ceará que contou com aproximadamente 450 famílias vindas dos municípios de Madalena, Quixeramobim, Boa Viagem e Canindé. A ocupação aconteceu na antiga fazenda Reunidas de São Joaquim, que possuía uma área de 22.992 hectares de terra, localizada nos municípios de Madalena, Quixeramobim e Boa Viagem. Hoje, batizada como assentamento 25 de Maio, o local é considerado o berço do MST no Ceará.

Neidinha Lopes, integrante da Direção Nacional do MST, afirma que nesses 30 anos, o Movimento teve diversas conquistas. “Nesses anos de movimento sem terra, tivemos conquistas coletivas, mas, sobretudo, da classe trabalhadora do campo. Uma delas foi o próprio reconhecimento da sociedade ao nosso movimento, como uma organização camponesa e que traz no seu projeto a luta pela reforma agrária e pela transformação social.”

Segundo Neidinha, vivemos em uma sociedade de classes, na qual existem interesses contraditórios. De um lado existe o projeto da classe trabalhadora, firmada na emancipação humana e na construção de uma sociedade sem classes, sem exploradores e sem explorados. Já do outro lado existe o projeto do capital, que tem na sua base a exploração e a degradação do homem e da natureza. “E nesse contexto de acirramento temos a resistência dos que não se permitem serem objetos da história e lutam incansavelmente na construção de um projeto de justiça social. De certa forma, a sociedade conhece o MST pelo seu trabalho político e de enfrentamento ao latifúndio, agronegócio e ao capital internacional”, finaliza.

Em seus 30 anos de atuação aqui no Ceará, o MST realizou várias ações na luta pela terra. De acordo com dados divulgados no site do MST, foram conquistados mais de 200 assentamentos tanto federais como estaduais, com a construção de escolas do campo nos assentamentos, que oferecem desde o ensino básico ao médio, além de cursos formais nas universidades, transporte escolar, projetos produtivos, agroindústrias, cooperativas, rádios comunitárias, acesso a crédito, moradia de qualidade, atendimento médico, entre outras conquistas.

Educação do Campo

Ter acesso a ensino gratuito e de qualidade é direito nosso que muitas vezes é negado. Mas, essa realidade é diferente se tratando das escolas do campo que se encontram em assentamentos do MST. Ao longo dos últimos anos, o MST aqui no Ceará tem fortalecido a construção de escolas em todo o estado. Nos assentamentos, elas são construídas pela própria comunidade, garantindo ensino de qualidade e preparando jovens para ingressarem em universidades.

Prova da atenção na preparação desses jovens são os três estudantes de escolas do campo do interior do Ceará que apresentaram seus projetos científicos na 1ª Feira Nacional de Ciência e Tecnologia Dante Alighieri (FeNaDANTE), realizada na capital paulista entre os dias 10 e 14 de setembro. São eles: Gabriel Cosme Maria (17) e Guilherme de Abreu Alves (18), ambos da Escola Francisca Pinto, localizada no assentamento Antônio Conselheiro, em Ocara (CE) e Lucas Calisto Diogenes (17), da Escola Padre José Augusto, localizada no assentamento Pedra e Cal, em Jaguaretama (CE).

A FeNaDANTE reuniu projetos de ciências e tecnologias de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio de escolas públicas e particulares de todo o Brasil. Além das medalhas, a premiação também entregou credenciais para outras feiras científicas.

Gabriel Maia apresentou o projeto da “Mini-descastanhadeira” que, segundo ele, é uma tecnologia pensada para agilizar o processo de descastanhar a castanha-de-caju que, até hoje, é feito manualmente. Com a criação ele pretende contribuir na produção da castanha-de-caju.

Lucas Diogenes apresentou o projeto de “Sistema de Irrigação Reciclado e Adubação Alternativa na Produção de Hortaliças”, que foi criado com o objetivo de reduzir o desperdício de água e restos de alimentos em sua escola, utilizando a água dos bebedouros para irrigação e os restos de alimentos como adubo orgânico. Na escola, a criação de Lucas já se encontra em fase final de implementação e já chamou até a atenção do prefeito de Jaguaretama, que o convidou para apresentar o projeto em outras escolas da cidade.

Já Guilherme Alves ficou em terceiro lugar na categoria “Tecnologia da informação” com o projeto de “Redução de desperdícios de recursos hídricos no cultivo de hortaliças por meio do sistema inteligente de irrigação”, com o destaque, o estudante foi convidado para levar sua criação para a Feira de Proyectos (Fepro), em Puebla, no México. A criação utiliza um hardware para programar e controlar a irrigação, através do sistema de gotejamento, colaborando com o combate ao desperdício de água.

“A educação do campo trás na sua proposta pedagógica a relação entre teoria e prática, e essa conquista reafirma que as escolas do campo não somente trabalham as questões sociais, mas o conhecimento científico e de como resolver os problemas partir do seus territórios.”, afirma Neidinha Lopes, Direção do MST.

Atualmente no Ceará existem nove unidades de escolas do campo funcionando em assentamentos de Reforma Agrária, são elas: a Escola João dos Santos de Oliveira, no assentamento 25 de Maio (Madalena); Escola Florestan Fernandes, no assentamento Santana (Monsenhor Tabosa); Escola Nazaré Flor, no assentamento Maceió (Itapipoca); Escola Francisco Barros, no assentamento Lagoa do Mineiro (Itarema); Escola José Fidélis de Moura, no assentamento Bonfim Conceição (Santana do Acaraú); Escola Francisca Pinto, no assentamento Antônio Conselheiro (Ocara); Escola Patativa do Assaré, no assentamento Santana da Cal (Canindé) e; Escola Padre José Augusto, no assentamento Pedra e Cal (Jaguaretama).

MST 35 anos

Na terça-feira (24), a Assembleia Legislativa do estado do Ceará realizou uma sessão solene em homenagem aos 35 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e aos 30 anos do MST no Ceará. Na ocasião, foram feitas homenagens a representantes do MST que escreveram história na luta pela reforma agrária. Foram eles: Maria de Jesus da Silva Barros, Maria Lima, Maria de Fátima Miguel Ribeiro, Francisco Ferreira Lima e Francisco Paes. A solenidade também contou com a entrega do título de cidadão cearense ao economista e um dos principais dirigentes do MST, João Pedro Stédile.

Ao receber o título, Stédile disse que os membros do MST aqui no estado são herdeiros de muitos lutadores do Ceará que os antecederam. Em seguida, já como cidadão cearense oficialmente, afirmou, “Sou privilegiado por herdar todo esse patrimônio histórico de luta”. Stédile também fez críticas ao agronegócio e ressaltou a iniciativa cearense de proibir a pulverização aérea de agrotóxico como pioneira no Brasil.

Edição: Monyse Ravena