América Central

Trabalhadores da Nicarágua vão à justiça francesa pedir indenização por esterilização

Uso de agrotóxicos na plantação de banana deixou milhares de homens estéreis; eles demandam justiça há mais de 20 anos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Trabalhadores nicaraguenses afetados por pesticida se reúnem com advogado francês em março deste ano
Trabalhadores nicaraguenses afetados por pesticida se reúnem com advogado francês em março deste ano - Maynor Valenzuela / AFP

Trabalhadores sobreviventes e familiares da produção de banana na Nicarágua recorrem à justiça francesa para processar três grandes fabricantes de produtos químicos por danos causados à saúde, entre eles a esterilidade. O caso pode abrir precedente legal para mais demandas como essas por parte de trabalhadores de outros países afetados pelo pesticida Nemagon.

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Na última década, os tribunais nicaraguenses ordenaram às três empresas produtoras do agrotóxico, as multinacionais Dow Chemical, Shell Oil e Occidental Chemical (atualmente OxyChem), o pagamento de US$ 805 milhões em danos e prejuízos a centenas de vítimas do agrotóxico. No entanto, as empresas alegaram que já tinham finalizado suas atividades na Nicarágua em 1982 e não realizaram o pagamento.

Agora, caberá a um juiz francês dar o veredito do processo que envolve 1.245 ex-trabalhadores e familiares, decidindo se a sentença do tribunal nicaraguense pode ser aplicada em território francês.

A demanda dos trabalhadores foi levada à França pelo advogado nicaraguense Guillermo Antonio López, que acompanha o caso desde 1997, e pelo advogado francês Pierre-Olivier Sur em novembro de 2018. Em uma entrevista à Rádio França Internacional, Pierre-Olivier explicou as razões pelas quais caso foi levado à justiça do país europeu.

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"Estas empresas estão presentes nos Estados Unidos e na Europa. Buscamos aplicar a decisão da justiça nicaraguense na Europa. Escolhemos a França para pedir o confisco dos ativos dessas empresas em toda a União Europeia. A França, historicamente, é um pais de referência no tema do direito de responsabilidade civil, um direito que a Nicarágua aplica de forma semelhante", declarou.

Esta não é a primeira vez que os trabalhadores do país centro-americano recorrem a tribunais de outros países para exigir justiça. Suas demandam já tinham sido apresentadas à justiça dos EUA na década de 1990, mas a Dow , a Shell e suas empresas locais bloquearam o processo com a mesma alegação que apresentam agora na França, a de que os danos teriam sido causados na América Central.

O pesticida Dibromocloropropano (DBCP), princípio ativo do Nemagon, está proibido na maior parte dos Estados Unidos desde 1997, após ser comprovado que o produto causava infertilidade. Apesar da comprovação, as empresas multinacionais vinculadas ao caso continuaram utilizando o agrotóxico na plantação de bananas na América Central e outros países da África e Ásia até o começo dos anos 80.

Edição: Luiza Mançano