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Briga pública de Bolsonaro e PSL é parte da "usina de crises" do mandato, diz Freixo

Para parlamentares da oposição, possível divórcio do presidente com o partido é sintoma do caráter autofágico do governo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Bolsonaro na convenção de lançamento da candidatura à presidência, ao lado de Janaína Paschoal e do pastor Magno Malta
Bolsonaro na convenção de lançamento da candidatura à presidência, ao lado de Janaína Paschoal e do pastor Magno Malta - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Jair Bolsonaro e o presidente do Partido Social Liberal (PSL), Luciano Bivar, estão em pleno embate público mediado pela imprensa.

Na manhã desta quarta-feira (9), Bivar afirmou que Bolsonaro "já está afastado" do partido. O posicionamento do líder do PSL é uma reação às últimas declarações do presidente da República. Na terça-feira (8), a imprensa noticiou massivamente um diálogo ocorrido em frente ao palácio da Alvorada, quando o mandatário cochichou a um apoiador que se apresentou como pré-candidato do PSL em Recife (PE): "Esquece o PSL, tá ok? Esquece".

Na sequência da conversa, Bolsonaro rechaçou a associação de seu nome ao de Luciano Bivar. "O cara tá queimado pra caramba lá. Entendeu? E vai queimar meu filme também. Esquece esse cara. Esquece o partido", disse.

Na resposta de Bivar, publicada pelo site G1, ele considerou a fala de Bolsonaro "terminal". "Não disse para esquecer o partido? Está esquecido". O chefe do partido, porém, reiterou o apoio às medidas do governo e disse que o "PSL estará sempre com os ministros". 

"Não vai alterar nada se Bolsonaro sair [...]. Não estamos em um grêmio estudantil. Ele pode levar tudo do partido, só não pode levar a dignidade, o sentimento liberal que temos e o compromisso com o combate à corrupção", finalizou Bivar.

Autofagia do governo

Nos bastidores da Câmara, parlamentares de oposição ouvidos pelo Brasil de Fato avaliam que a especulação sobre o possível divórcio entre Bolsonaro e o PSL seria mais um sinal do caráter autofágico do governo, que está imerso em problemas internos desde o início do mandato. 

Para Marcelo Freixo (PSOL-RJ), o enredo atual mostraria que a gestão do presidente se configura como uma “usina de crises”. O psolista avalia que o novo elemento ajuda a turvar o ambiente político, empurrando para a agenda nacional os problemas internos do PSL. 

De modo geral, diferentes parlamentares apontam que o cenário ainda seria nebuloso para fazer avaliações e previsões mais seguras. Enquanto alguns apostam que o presidente e deputados do PSL mais próximos teriam dificuldade em bater o martelo sobre a saída do partido por conta da possível perda do mandato parlamentar, outros projetam que Bolsonaro poderia estar, de fato, articulando um grande racha dentro da sigla.  

Previsões mais ousadas apontam que uma possível debandada poderia deixar apenas cerca de 20 membros na bancada pesselista na Câmara, que contabiliza 52 integrantes e é a segunda maior da Casa.

Para o líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), o fato de o presidente considerar a possibilidade de sair da legenda ajuda a mostrar a relação que o chefe do Executivo mantém com as instituições. 

"O conflito de Bolsonaro com o PSL não se dá pelas denúncias contra seu partido, até porque algumas dessas denúncias estão ligadas a ele ou a seus familiares. O afastamento se dá porque, sendo uma figura autoritária, Bolsonaro trabalha para enfraquecer as instituições democráticas, inclusive o partido que o elegeu”, analisa.  

Discussão via imprensa

Pela tarde, Bolsonaro comentou a resposta de Bivar ao site O Antagonista, alertando: “Comigo fora da legenda, a tendência do PSL é murchar. Se eu sair, é natural que muita gente saia também”.

O mandatário afirmou que fez uma "reclamação do bem". "O partido tem que funcionar, tem que ter a verba distribuída, buscar solucionar os problemas nos diretórios", justificou-se Bolsonaro, fazendo menção à gestão dos R$ 103 milhões que o partido receberá do Fundo Partidário ao longo de 2019. 

Mais tarde, ainda segundo O Antagonista, Bolsonaro teria minimizado a crise afirmando tratar-se de "briga de marido e mulher"

Essa não é a primeira discussão pública entre membros do PSL. Em agosto, por exemplo, as críticas abertas do deputado Alexandre Frota à Bolsonaro, especificamente à indicação de Flávio Bolsonaro ao cargo de embaixador brasileiro nos Estados Unidos, culminou na sua expulsão do partido.

Além das brigas pelo protagonismo político, as investigações sobre o uso de candidaturas laranjas para fraudar a legislação eleitoral nos diretórios do PSL de Minas Gerais e Pernambuco, também contribuem para o clima de crise.

Diante desse cenário, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro já cogitam, segundo reportagem do jornal O Globo, a criação de uma nova sigla, que já teria até um nome escolhido: Conservadores.

Outras possibilidades aventadas pela publicação seriam a transferência de Bolsonaro para siglas como o Patriota e a UDN -- em fase final de criação.

Reações

O líder do PSL na Câmara, o deputado paranaense Delegado Waldir, disse que Bolsonaro "não está algemado no PSL".

“Como você fala do quintal alheio se o seu quintal está sujo? As candidaturas em Minas Gerais e Pernambuco estão sendo investigadas. Mas o filho do presidente também”, argumentou o parlamentar à revista Época.

A deputada estadual paulista pelo PSL Janaína Paschoal também comentou o caso. À Folha de S. Paulo, ela afirmou que, para Bolsonaro, deixar a legenda seria "trocar de problema" e que o presidente já está "há um bom tempo trocando de partidos sucessivamente". “Sair é um direito dele. Mas, em pouco tempo, ele estará infeliz no próximo. Não é uma praga, é só uma constatação”

“Bolsonaro não está algemado no PSL, não. Aqui não tem ninguém amarrado. Candidatos majoritários, como o presidente, governadores e senadores, têm liberdade para trocar de partido quando quiserem”, completou o Delegado.

Deputados do PSL divulgaram na tarde desta terça-feira uma nota de apoio a Jair Bolsonaro. No texto, eles afirmam que o partido para viabilizar o projeto de poder de Bolsonaro "ainda é o PSL". Os parlamentares pedem, no entanto, que a direção "adote novas práticas, com a instauração de mecanismos que garantam absoluta transparência na utilização de recursos públicos e democracia nas decisões"

*Com informações de Cristiane Sampaio

Edição: Rodrigo Chagas