O clima era de alegria entre o grupo que estava indo, de carro, do bairro do Bixiga, no Centro, até o bairro de Santana, na zona norte da capital paulista. O objetivo era acompanhar a soltura da cantora e ativista Preta Ferreira, que conseguiu um habeas corpus após 109 dias de prisão, dentro de um processo de criminalização da luta por moradia digna, nesta quinta-feira (10).
Dentro do carro estavam a vereadora por São Paulo Juliana Cardoso (PT) e familiares de Preta Ferreira e de seu irmão, Sidney, que também estava preso sob a mesma acusação da irmã.
Antes de seguir para a penitenciária feminina na zona norte, o grupo parou em um posto de gasolina, perto da rua Jaceguai, ainda no Bixiga. Com o veículo abastecido, saindo do posto, eles foram interceptados por uma viatura da PM.
“Os policiais estavam exaltados, com as armas apontadas para todo mundo e bastante truculentos. Gritaram para todos descerem e colocarem as mãos na cabeça. Sempre em tom de ameaça, sem a menor necessidade”, disse o advogado Fábio Rodrigues, assessor da vereadora.
Calmamente, a vereadora Juliana Cardoso se identificou como parlamentar e mostrou a sua carteirinha do Poder Legislativo paulistano. Explicou que o grupo estava indo para um compromisso com horário e que não havia motivo para serem acionados para ficarem com as mãos na cabeça.
Segundo Fábio Rodrigues, os policiais ignoraram a parlamentar e continuaram com o tom ameaçador. Além disso, falaram que todos deveriam obedecer às ordens sem contestação.
Ao notarem que se tratava de uma vereadora do PT, os policiais subiram ainda mais o tom das ameaças a todos do grupo, relata o advogado. Inclusive, segundo o assessor da vereadora, os agentes identificaram como condutor um rapaz que não estava dirigindo o carro. Ainda na averiguação, os policiais descobriram que o carro estava com a documentação vencida e tributos atrasados.
Foram chamadas mais seis viaturas e a pressão sobre o grupo, com a tentativa de desqualificar os relatos das testemunhas, aumentou. Até um major da PM foi ao local para averiguar a história.
Depois de duas horas e meia detida na calçada, a vereadora Juliana Cardoso pode ir embora. Um dos rapazes do grupo foi levado para o 5º DP, onde seria registrada uma ocorrência.
O Brasil de Fato entrou em contato com o coronel Marcelino Cardoso, corregedor da Polícia Militar no Estado de São Paulo para pedir esclarecimentos sobre essa abordagem policial. O coronel Cardoso pediu informações sobre o dia, o local e o horário da denúncia. Segundo o coronel, o caso chegou ao alto comando da instituição.
Edição: Vivian Fernandes