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Carrefour, Pão de Açúcar e Big financiam violações de direitos humanos

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Campanha quer que redes de supermercados se responsabilizem por condições de trabalho na produção de frutas
Campanha quer que redes de supermercados se responsabilizem por condições de trabalho na produção de frutas - Thiago Gomes/Agência Pará Data
Supermercados vendem frutas produzidas mediante formas inaceitáveis de trabalho.

Nos últimos meses, líderes internacionais externaram preocupações com o futuro da Amazônia e com as mudanças climáticas que ameaçam a vida humana no planeta. Os gestos são nobres. Há que diferenciar a retórica da prática cotidiana.

Ocorre uma abissal contradição entre a preocupação com o futuro e a ação prática do que se passa no presente. A estratégia é conhecida: jogar a preocupação para o futuro e, no presente, manter a escalada predatória em nome de supostas urgências: crescimento econômico, geração de empregos, bem-estar social.

Já foi abordado nesse espaço: empresas sediadas na Europa e Estados Unidos financiam o desmatamento dos biomas brasileiros. Gigantes norte-americanos e europeus, de diferentes setores da economia, bancam as motosserras que colocam a floresta abaixo.

Surge agora uma nova e grave denúncia, novamente envolvendo empresas dos países desenvolvidos. Segundo relatório da Oxfam Brasil, divulgado semana passada, supermercados sediados na Europa e nos Estados Unidos vendem frutas brasileiras produzidas mediante formas inaceitáveis de trabalho.

São as redes Carrefour, Pão de Açúcar e Big/Walmart, também conhecidas do público brasileiro.

É uma cadeia produtiva que envolve grandes exportadoras de frutas que operam nas terras irrigadas do Nordeste brasileiro. Ali, as empresas violam direitos humanos, poluem o meio ambiente e contaminam trabalhadores com altas doses de agrotóxicos, segundo o documento da Oxfam Brasil.

Os depoimentos são estarrecedores. Recomendo a leitura do relatório completo, neste link.

Eu mesmo conversei pessoalmente com algumas das vítimas, homens e mulheres empregados da fruticultura. Participei da equipe de jornalistas que investigou os elos entre as violações que ocorrem no campo e o financiamento que sai de três redes globais de supermercados.

Essas três redes controlam uma importante parcela da venda de frutas em diversos países. São elas que têm a força para promover mudanças e pressionar os grandes produtores. O objetivo é estancar a violação de direitos, promover uma renda digna e parar com a contaminação de trabalhadores por altas doses de venenos.

Os supermercados vendem, para nós, frutas caras e em perfeito estado de conservação. Mas não nos avisam que essas frutas foram obtidas mediante o sofrimento de trabalhadoras e trabalhadores. O momento de mudar é agora, com a ajuda das grandes redes de supermercados. Para isso, Carrefour, Pão de Açúcar e Big/Walmart precisam fazer as coisas acontecerem.

Edição: João Paulo Soares