No Ar

Trabalhadores da Embraer temem mais demissões após férias coletivas

Anúncio acontece em meio à negociação coletiva em que empresa propõe reajuste zero e terceirização irrestrita

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Trabalhadores da Embraer em São José dos Campos (SP) durante assembleia realizada em setembro
Trabalhadores da Embraer em São José dos Campos (SP) durante assembleia realizada em setembro - Foto: Roosevelt Cassio/Sindimetal

Braços cruzados, máquinas paradas, mas dessa vez contra a vontade dos trabalhadores. A Embraer, terceira maior do mundo em fabricação de aviões e recém-fundida à estadunidense Boeing, anunciou férias coletivas e paralisação de suas atividades entre os dias 6 e 20 de janeiro de 2020.

Segundo informações do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (Sindmetal), todas as unidades da companhia, com seus cerca 15 mil trabalhadores, serão afetadas.

Em nota, a empresa informou que o objetivo da paralisação é “implementar a segregação interna do negócio de aviação comercial da companhia, o qual permanecerá integralmente na Embraer até a obtenção de todas as aprovações das autoridades concorrenciais”.

Em jogo, está a transferência do controle da divisão de aviação comercial da empresa para a Boeing. O negócio, que envolve a aquisição de 80% da divisão por US$ 4,7 bilhões, está sendo investigado pelos órgãos reguladores da Europa. A investigação deve ser concluída entre janeiro e fevereiro do ano que vem.

A Embraer afirma, na nota, que os trabalhadores voltarão normalmente ao trabalho após 20 de janeiro, mas o sindicato teme que a medida evolua para mais cortes de pessoal. Dede janeiro de 2018, segundo o Sindmetal, cerca de 2.000 funcionários foram mandados embora.

“Depois das férias coletivas, normalmente vem demissão”, alerta Herbert Claros, funcionário da Embraer e diretor do sindicato.

O anúncio das férias coletivas acontece em meio à campanha salarial da categoria, envolvendo trabalhadores da Embraer e outras cinco empresas do setor aeronáutico sediadas em São José e Jacareí, município vizinho. Na negociação, as empresas estão sendo representadas pela Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que propõe reajuste zero aos trabalhadores, fim da estabilidade para vítimas de acidente de trabalho e possibilidade de terceirização irrestrita.

Todas propostas foram rejeitadas pelo sindicato. “Nos últimos anos, ela nunca tentou retirar direitos dessa maneira. Não é coincidência que isso ocorra depois da entrada da Boeing”, diz Claros.

Entre os dias 24 e 25 de setembro, a Tropa de Choque da Polícia Militar foi acionada pela direção da empresa para reprimir uma paralisação na unidade Faria Lima, em São José, impedindo a formação de piquetes à base de gás de pimenta e golpes de cacetes.

O sindicato convocou uma assembleia geral para as 15h30 desta quarta-feira (16).

Edição: João Paulo Soares